Jovens querem atenção individual e aprendizado em programas de trainee

Ao escolher os processos de trainee, a estudante de psicologia Luiza Brandão, 22, analisa o porte da companhia e o que o programa propõe.

As empresas que oferecem a possibilidade de viajar e de conhecer todas as áreas entram na lista. "[Os dois fatores] permitem o maior desenvolvimento da carreira, porque há acompanhamento."

A estudante participa de cinco processos seletivos com a anuência da empresa na qual estagia. "Abri o jogo. Meu chefe sabe que é um caminho legal para eu seguir."

Assim como Brandão, outros jovens escolhem programas de trainee como primeiro passo profissional pela possibilidade de crescimento rápido e pelo atendimento contínuo e individualizado, avalia Fábia Barros, gerente de projetos da Across, consultoria de desenvolvimento e gestão de pessoas.

DESENVOLVIMENTO
"O acompanhamento pós-seleção é um megainvestimento e o maior atrativo [desses programas]", diz Barros.

A atenção e o direcionamento trazem segurança ao trainee, diz Maria Ester Pires da Cruz, responsável pelo Núcleo de Carreiras do Insper. "Existe perspectiva. Ele entra sabendo aonde vai chegar."

Patrícia Cruz/Folhapress

Luiza Brandao participa de cinco processos de selecao

Ciente de que poderia acelerar a carreira, Ana Luiza Sousa de Angelis, 25, participou, em 2008, de cinco processos, mesmo empregada.

"Estava fazendo TCC [trabalho de conclusão de curso] e trabalhando. Quase surtei", lembra. Tanto esforço deve-se "às maiores chances de crescimento", segundo ela.

"Quando você entra como trainee, entra com um passo à frente", avalia Angelis.

O status que a posição confere ao recém-formado é o que mais conta a favor das empresas, avalia Cruz.

Ricardo Sogumo, 23, escolheu o programa pela possibilidade "de passar por outras áreas". Analista da Cielo, de soluções de meios de pagamento, o administrador deixou a vaga para ser trainee na própria empresa.

"[Como trainee] passei a analista sênior e tive aumento de 40%, mas toparia ser trainee recebendo como júnior, porque compensa."

Mariana Ramos Dias, 24, passou em dois processos concorridos. Optou pela Ambev, pelo suporte dado pela companhia de bebidas. "Aqui é tudo muito intensivo."

SELEÇÕES AINDA SÃO LONGAS
Márcio Del Giudice Macagnan, 24, formou-se em 2010 e inscreveu-se em dez processos de trainee. Da maratona, fez duas constatações: as seleções são difíceis e longas.

"Os processos são cansativos, pois duram de três a quatro meses e têm de cinco a sete etapas", diz ele, que hoje é trainee da Braskem, das áreas química e petroquímica.

A quantidade de fases é um dos fatores que fazem com que jovens abandonem a seleção, diz Marisa da Silva, consultora da Career Center.

"Eles não têm paciência para chegar a outras etapas ou percebem que é concorrido demais", analisa.

Mas, segundo ela, a extensão do processo tem justificativa. "O investimento é muito alto para as empresas errarem [na seleção]."

Priscilla Quaresma, 21, engrossa o coro dos descontentes depois de ter participado de cinco seleções. "As provas são cansativas e os processos rigorosos", conta ela, que é trainee na Deloitte.

Ela também inclui a exigência de mudar de cidade como fator de renúncia.

Quaresma desistiu de dois, porque não havia vaga em Minas Gerais. "Não pretendo mudar de cidade agora."

NO CURRÍCULO
Ser selecionado como trainee tem peso no currículo, ainda que o jovem não tenha participado do programa, segundo estudantes entrevistados.

Marisa da Silva, consultora da Career Center, concorda. "É um processo difícil e, passar por ele, chama a atenção", avalia.

Ela recomenda colocar a informação "aprovado no programa de trainee" no campo "outras informações" -o último item.

Contudo, a consultora adverte sobre possíveis questionamentos. "É importante ter bons motivos para não ter participado."