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27/11/2011 - 07h05

Deficiente perde espaço em cargos de gestão em 3 anos

CAMILA MENDONÇA
PATRÍCIA BASILIO
DE SÃO PAULO

Apesar do aquecimento do mercado, pessoas com deficiência perderam espaço em postos de liderança no país.

De 2008 a 2010, a queda foi de 32% em cargos de gerência e direção. Entre todos os trabalhadores, houve alta de 13% no período, mostra a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do MTE (Ministério do Trabalho).

"Não acredito que seja uma tendência de mercado e nem que eles estejam sendo retirados dos postos", avalia Rodolfo Torelly, diretor do Departamento de Emprego e Salário do ministério.

Receio de delegar posição de confiança a pessoa com deficiência, indisposição para investir em acessibilidade e baixa qualificação explicam o recuo, diz Vinícius Gaspar, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Ivan Cabral entrou como estagiário na Totvs há 12 anos e coordena uma equipe de 15 pessoas
Ivan Cabral entrou como estagiário na Totvs há 12 anos e coordena uma equipe de 15 pessoas

Ivan Cabral, 32, é um dos remanescentes em cargo de liderança. A falta do antebraço esquerdo não o impediu de chegar a coordenador da área de desenvolvimento da Totvs, de TI, para gerenciar uma equipe de 15 pessoas.

Cabral entrou na empresa há 12 anos como estagiário, em seleção que envolveu pessoas com e sem deficiência. "Nunca senti resistência."

Para empresas, falta qualificação. "[Há] dificuldade de encontrar gestores", diz Claudio Torck, vice-presidente da Digisystem, de TI. Dos 317 empregados, 9 têm deficiência.

EMPRESAS DÃO CURSOS DE LIDERANÇA
"Penso com a cabeça, não com a perna", resume o processador de dados Flávio Galo, 51, sobre sua promoção. Ele passou de escriturário a gerente de processos e controles do Itaú Unibanco.

Galo, que tem atrofia na perna direita, recebeu curso de capacitação, que incluiu temas como gestão e liderança, quando ingressou em sua primeira função.

Leticia Moreira/Folhapress
Fábio Galo tem uma atrofia na perna e comanda uma grande equipe no Itaú Unibanco
Fábio Galo tem uma atrofia na perna e comanda uma grande equipe no Itaú Unibanco

Agora, o banco mudou de estratégia. O curso é oferecido após a contratação, mas antes de o profissional efetivamente começar a trabalhar.

Na prática, isso possibilita aos gestores identificar os futuros líderes e alocá-los em cargos que permitam uma ascensão direcionada.

"Queremos aproveitar o talento deles", reforça Marcelo Orticelli, diretor da área de pessoas do Itaú Unibanco.

Outras empresas também passaram a ter políticas para promover pessoas com deficiência a cargos de chefia.

Até órgãos governamentais criaram ações, como a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Governo de São Paulo. Este ano, a secretaria alterou o Programa de Empregabilidade, elaborado em 2008.

As aulas de capacitação para pessoas com deficiência -que são empregadas em uma das 35 companhias parceiras do governo- passaram a abordar gestão, com o objetivo de formar líderes. "[Os profissionais] não se contentam mais em ficar em cargos operacionais", avalia a secretária, Linamara Battistella.
ascensão

Foi essa constatação que fez com que a Serasa Experian, de análise de crédito, oferecesse programa de inclusão com palestras, fóruns e plano de carreira para as pessoas com deficiência.

O objetivo, segundo Elcio Trajano, gerente-executivo de gestão de desenvolvimento, é dar "condições iguais de ascensão aos funcionários".

Paraplégico devido a uma má-formação na medula, João Ribas, 57, entrou na empresa em 2001 como analista e, dois anos depois, tornou-se coordenador do programa de empregabilidade de pessoas com deficiência -cargo que ocupa atualmente.

"No começo, perguntavam se eu precisava de ajuda. Eu respondia que a cadeira de rodas, em vez de me tirar a
liberdade, possibilitou-me ser independente."

Os trabalhadores também buscam aprendizado. No Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), as matrículas de pessoas com deficiência no curso de gestão industrial cresceu 54,5% de 2009 a 2011 -passando de 2.463 há dois anos para 3.805 até setembro deste ano.

 

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