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24/06/2012 - 06h12

Pesquisador apaixonou-se pela língua portuguesa ao ouvir discos da banda Os Mutantes

DEPOIMENTO A...
ISABELLE MOREIRA LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE CHICAGO

Nos Estados Unidos, em geral, as pessoas não têm que escolher o curso antes de entrar na faculdade, porque no nível de graduação você se candidata à instituição. Então, quando eu cheguei no campus de Harvard, em setembro de 2005, ainda não sabia o que queria estudar.

Depois de dois ou três semestres, descobri que amava gramática e acabei me apaixonando por linguística. Eu havia estudado espanhol no colégio e, no primeiro semestre na faculdade, inscrevi-me na matéria "português para falantes do espanhol".

Tinha (e ainda tenho) muito interesse pela América Latina. No terceiro semestre, resolvi criar meu próprio "major" [formação], uma opção que Harvard oferece, mas que poucos alunos acabam aproveitando.

No meu "major", "Linguistics and the Languages of the Americas" (linguísticas e os idiomas das Américas), estudei linguística, antropologia e vários idiomas da América Latina -não só o espanhol e o português, mas algumas línguas indígenas também, principalmente as do tronco linguístico maia.

Simon Plestenjak/Folhapress
O pesquisador Adam Singerman estudou em Harvard e veio para pesquisar línguas indígenas
O pesquisador Adam Singerman estudou em Harvard e veio para pesquisar línguas indígenas

Resolvi estudar português porque queria entender melhor a América Latina. Eu sabia pouquíssimo sobre o Brasil naquela época -antes de começar a estudar português, meu único contato com a cultura brasileira foi o disco "Everything is Possible!", da banda Os Mutantes, que meu tio me deu de presente aos 16 anos. Já falava espanhol e tinha interesse em aprender outra língua neolatina. Além disso, achava a grafia do português muito linda: me encantava pelo til. Não sabia produzir vogais nasais, mas, mesmo assim, adorava ver palavras como "pão" e "coração".

Quando entrei na faculdade, imaginava estudar fora, mas não tinha um país específico em mente. Em 2006, participei do programa "Brazilian Language and Culture" (de linguagem e cultura brasileira), de Harvard.

As cinco semanas que passei no Rio de Janeiro mudaram a minha vida: mesmo antes de retornar aos EUA, sabia que voltaria ao Brasil. Pensava muito em fazer um projeto de pesquisa ou um intercâmbio, mas só voltei em junho de 2009, após a formatura.
Recebi uma bolsa para ajudar a ONG ILRIO (Instituto de Liderança do Rio) a levar estudantes brasileiros a universidades norte-americanas.

Saí do Brasil em agosto de 2010, porque ganhei uma bolsa da Comissão Fulbright de Portugal para dar aulas de inglês na faculdade de letras da Universidade de Lisboa. Passei um ano na cidade e acredito fortemente que essa experiência me trouxe um conhecimento mais profundo das raízes culturais, históricas e linguísticas do Brasil.

O português mudou a minha vida. Não sou capaz de me imaginar sem as experiências que tive morando no Brasil e em Portugal. Tenho certeza de que o português continuará sendo útil: vou começar minha pós-graduação em linguística em setembro e pretendo pesquisar as línguas indígenas do Brasil.

Não acredito que existam línguas fáceis de aprender. Porém, na minha experiência, os brasileiros são muito simpáticos e, quando um estrangeiro tenta se comunicar em português, em geral o recebem com entusiasmo, simpatia e gratidão. Hoje, meu maior desafio é a distinção entre as vogais abertas e fechadas -por exemplo, um "ôvo", mas dois "óvos." Pior ainda: tem "gêlo" no copo, contra eu "gélo" a cerveja no freezer.

 

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