Transexual bacharel diz que faltam oportunidades
DE SÃO PAULO
"Não se vê transexuais trabalhando em outras áreas que não sejam a prostituição. E não é porque nós não queremos, é porque nós não somos aceitas", diz Tatiana Crispim, 28, bacharel em direito que hoje está empregada em um escritório de advocacia no Rio de Janeiro como assistente.
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Divulgação |
Tatiana Crispim é transexual e trabalha em um escritório de advocacia |
Ela começou a mudança de gênero há cerca de sete anos, quando já estava formada na faculdade de direito. Crispim diz que quis virar mulher depois de formada por ser filha única, de pai militar, e que "tinha a ilusão de que a sociedade seria menos cruel se com uma boa aluna".
Crispim afirma ter se deparado com uma dificuldade enorme para se inserir no mercado de trabalho. Ela não era chamada nem mesmo para vagas que exigiam apenas ensino fundamental, sendo que ela tinha superior completo. "[Nas fichas de inscrição] posso usar o nome social, que coloco em parêntesis, e depois o de registro. Perguntavam por que eu escrevia entre parêntesis. E o processo terminava por ali", relata.
Ela relata que entre suas amigas travestis ou transexuais, a grande maioria trabalha com prostituição: apenas duas não fazem "trottoir" --uma é cabeleireira e a outra vendedora em uma loja de eletrodomésticos.
Crispim trabalha no escritório de advocacia há dois anos. Ela conheceu o empregador em um programa da cidade do Rio de Janeiro para inserção profissional de transexuais. Estudando para a prova da OAB (recentemente passou na primeira fase), afirma gostar de direito da família, mas trabalha com administrativo. Ela faz diligências em cartórios e conta que nunca se sentiu constrangida quando vai ao fórum.
Sérgio Camargo, o advogado com quem Crispim trabalha há cerca de um ano e meio, a descreve com uma pessoa esforçada, e afirma que ela e os clientes nunca tiveram problemas ou desentendimentos.
A agente de desenvolvimento econômico do Centro de Referência da Diversidade da Prefeitura de São Paulo, Janaína Rodrigues de Lima, 37, afirma que a melhor maneira para transexuais conseguirem um emprego é buscá-los com conhecidos que podem fazer recomendações. Ela afirma ter notado que quando a pessoa troca o nome nos documentos a chance de conseguir uma vaga aumenta.
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