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16/07/2013 - 10h15

Vida profissional perde status de prioridade para americanas

DARREN HAUCK
DO "NEW YORK TIMES"

Sara Uttech não passou muito tempo de sua vida profissional buscando "se enquadrar". Em vez disso, sua preocupação tem sido buscar maneiras para que sua vida no trabalho se adapte à sua vida familiar.

Como muitas mães americanas que trabalham, Uttech tem formação universitária e é casada. Seu trabalho numa associação agrícola, onde cuida da comunicação entre os participantes, ajuda a situar financeiramente sua família na renda média dos americanos. Mas ela se preocupa menos em escalar a hierarquia profissional e mais em ter um emprego que a pague quando ela falta ao trabalho por estar doente, que possibilite horários de trabalho flexível e que lhe dê a oportunidade de trabalhar menos horas semanais.

"Nunca falto a uma partida de beisebol", declarou -algo que não passaria de sonho para milhões de pais americanos que trabalham. Esse recorde de comparecimento é ainda mais impressionante quando você fica sabendo que os filhos dela jogam em mais de seis partidas semanais.

Uttech quer uma carreira profissional que lhe traga recompensas, mas, mais do que isso, quer que seu trabalho seja flexível. Esse ranking de prioridades não é necessariamente o que é citado em best-sellers como "Faça Acontecer", de Sheryl Sandberg, livro que aconselha as mulheres a buscar cargos de liderança, investir na profissão, negociar aumentos salariais e promoções e buscar um companheiro que ajude a cuidar das crianças e apoie a ambição delas.

Ela já fez algumas dessas coisas e pretende fazer mais quando seus filhos (dois garotos, com oito e dez anos de idade, e uma enteada de 15) ficarem mais velhos. Uttech já está mais disposta a viajar para feiras comerciais e conferências. No ano passado, fez quatro viagens. Mas a iniciativa profissional da qual ela mais se orgulha (e que defende para a maioria dos pais) foi pedir à sua chefe para trabalhar em casa às sextas-feiras.

"Já me disseram: 'Não é justo que você possa trabalhar em casa!'", contou Uttech. "E eu respondo: 'Você já pediu para fazer isso?'. E me dizem: 'Não, eu jamais poderia pedir algo assim. Meu chefe não toparia.' Então eu falo: 'Você deveria pedir, não ficar com inveja de mim porque eu fiz isso.'"

Nem todos aspiram a liderança do Facebook, como Sandberg. Os livros mais recentes sobre estratégias de liderança por e para mulheres não mencionam o fato de que apenas 37% das mulheres (e 44% dos homens empregados) dizem de fato querer um trabalho com mais responsabilidades, segundo pesquisa do Instituto Famílias e Trabalho, uma organização sem fins lucrativos sediada em Nova York. Entre mães com filhos de até 18 anos, apenas 25% dizem que escolheriam um emprego em tempo integral se não tivessem que levar o dinheiro em conta, revelou uma pesquisa do "New York Times"/CBS News.

Cerca de metade das mães nos EUA trabalha em regime de tempo integral.

Uttech, que tem 42 anos e é diplomada em comunicações pela Universidade de Wisconsin-Whitewater, trabalha há 11 anos para a Aliança de Sociedades de Safras, Solo e Ciências Ambientais. Ela está se tornando uma fonte de renda cada vez mais importante para sua família, especialmente nos últimos anos, desde que o esfriamento do mercado imobiliário prejudicou a empresa de construção de seu marido. Ela é obrigada a ser criativa para dar apoio financeiro à família ao mesmo tempo em que continua a fazer tudo o que é importante para ela, como mãe.

O primeiro passo foi convencer a escola de seus filhos a lançar um programa que cuidasse das crianças depois do horário das aulas por um custo acessível. O segundo passo foi ser realmente produtiva, aproveitando ao máximo seu tempo dentro e fora do escritório.

Numa terça recente, que Uttech disse ser mais ou menos um dia útil típico da semana, ela se levantou às 5h45 e lavou uma máquina de roupa. Pouco depois, tinha o secador de cabelos em uma mão e um bilhete de autorização da escola dos filhos na outra. Depois, correu para a cozinha para preparar as lancheiras de seus filhos e, às 7h15, os deixou na escola de carro, para então iniciar o trajeto de 40 minutos até seu trabalho, chegando um pouco depois das 8h. Ela saiu do trabalho às 16h30.

Em muitos dias, sai e vai diretamente para o campo de beisebol.

Aos domingos, ela dá aulas na igreja e prepara a maioria das refeições para o resto da semana. Uttech destaca que conta com muita ajuda. Seu marido, Michael, busca os filhos depois das atividades pós-escolares e passa muitas noites treinando os times esportivos deles. Outros membros da família vivem perto deles e cuidam das crianças nas férias escolares.

"Não quero que as pessoas leiam minha história e pensem que eu resolvi tudo ou que tenho soluções que servem para outros", disse ela.

Mas Uttech reconhece que pedir para trabalhar em casa alguns dias por semana representou um risco profissional.

Ela procurou sua chefe alguns anos atrás e pediu para trabalhar em casa de modo experimental: apenas nas sextas-feiras do verão, época do ano em que a jornada de sexta é mais curta, de qualquer maneira, em seu escritório. Em casa, ela continuou a realizar os trabalhos que faria no escritório, incluindo e-mails e teleconferências -mas podia colocar a roupa para lavar durante um intervalo rápido e se livrava da necessidade de passar muito tempo indo e vindo do trabalho.

Ela se armou de coragem para fazer o pedido depois de conversar com outras mulheres que participavam de seu clube de livros.

Foi o que fez Angie Oler, 38, pesquisadora em um laboratório da Universidade de Wisconsin-Madison, quando nasceu seu primeiro filho, quatro anos atrás. Recentemente, porém, seu chefe a vem pressionando para voltar a trabalhar em tempo integral. "Se dependesse de mim, eu jamais voltaria ao tempo integral, nem em 1 milhão de anos", disse Oler.

O arranjo de Uttech para trabalhar em casa às sextas-feiras funcionou bem por alguns verões. Então, ela criou coragem para pedir para trabalhar em casa todas as sextas, durante o ano inteiro. Ela diz que a maior "pérola de sabedoria" que pode oferecer a outros pais que trabalham é não ter medo de fazer pedidos desse tipo.

É verdade que a experiência dela pode não ser muito representativa. Uttech teve sorte de trabalhar para gerentes que se mostraram excepcionalmente receptivos a um pedido de horário de trabalho flexível.

Sua supervisora, Susan Chapman, quando ocupou um cargo anterior, incentivou outros empregadores a criar arranjos de trabalho em casa, visando gerar oportunidades de trabalho para pessoas com deficiências. A executiva-chefe da associação agrícola, Ellen Bergfeld, também demonstrou considerar importante o equilíbrio correto entre trabalho e vida pessoal.

Nem todos os empregadores são igualmente receptivos. Apenas um terço das empresas deixa parte de seus funcionários trabalharem em casa de modo regular. Segundo o Estudo Nacional de Empregadores feito em 2012 pelo Instituto Famílias e Emprego, apenas 2% das empresas oferece essa opção à maioria de seus profissionais. Uttech acha -ou pelo menos, espera- que algum dia as empresas passarão a enxergar a maternidade de suas profissionais como vantagem.

"Pelo fato de eu ser mãe, sei realizar várias tarefas ao mesmo tempo e tenho várias habilidades que não tinha antes, como fazer 'malabarismos', mentorear, educar, solucionar problemas e administrar", disse ela. "Agora sou muitíssimo mais produtiva nas horas em que trabalho. A maternidade deveria ser um ponto ao meu favor, não uma desvantagem."

 

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