Executivos brasileiros enfrentam dificuldades para lidar com funcionários
ADRIANA FARIAS
DHIEGO MAIA
DE SÃO PAULO
Um levantamento da consultoria de recursos humanos Carvalho e Mello obtido pela Folha mostra que os executivos brasileiros ainda têm dificuldades na hora de lidar com os funcionários.
De acordo com o estudo, realizado com profissionais de RH de 500 empresas, 55,4% dos entrevistados dizem que os chefes não dão atenção à opinião dos liderados. Para 53%, o gestor não consegue delegar tarefas: eles querem comandar tudo.
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Bruno Poletti/Folhapress | ||
Adriana Celestino, 42, está à frente de equipe de 372 pessoas na Cyrela |
Os dados indicam alguns dos desafios de quem tem cargo de gestão hoje: fazer com que a equipe esteja motivada, compartilhar conhecimento e responsabilidades e, ao mesmo tempo, dar os resultados que a empresa exige dele.
Mas, para Álvaro Mello, consultor da pesquisa, os resultados apontam que grande parte dos gestores ainda mantém comportamentos do passado.
"Eles estão com valores de dez anos atrás. Eles conhecem a metodologia, mas pouco de gestão, da prática. Buscam ferramentas em cartilhas e manuais sem ter conhecimento de base para enfrentar, muitas vezes, um subordinado melhor que ele."
Adriana Celestino, 42, diretora comercial da incorporadora Cyrela, responsável direta por uma equipe de 372 pessoas, diz que um dos desafios é tratar as pessoas de modo diferente, mas ao mesmo tempo fazer com que todos trabalhem por objetivos comuns da empresa.
"Em uma equipe, as pessoas são diferentes e têm expectativas diferentes. Como líder, tive que alinhar o grupo em busca de resultados", conta.
A executiva diz que, quando se viu no comando da primeira dezena de colaboradores, há oito anos, sentiu a necessidade de se especializar na área de gestão de pessoas. O último curso foi um MBA oferecido pela própria incorporadora, com um módulo nos Estados Unidos.
A diretora afirma que busca repassar esse conhecimento a quem trabalha com ela, muitas vezes com sessões de conversa e aconselhamento com os funcionários.
"A gente aprende que o líder tem que compartilhar o que sabe porque as equipes estão cada vez mais novas."
A preocupação de Celestino em se qualificar exemplifica uma mudança no perfil do executivo no Brasil. Escalado para comandar gente cada vez mais escolarizada em um ambiente democrático, o gestor está, aos poucos, deixando de lado a ideologia do "eu mando, você obedece" para tentar compartilhar melhor os desafios.
A gerente sênior da empresa de recrutamento Robert Half, Daniela Ribeiro, chega ao extremo de dizer que liderança hoje "requer amor" pelos funcionários.
"Antigamente os chefes faziam questão de ter salas separadas e viam a equipe apenas como um recurso para crescer na carreira. Hoje você não consegue liderar pessoas se não torcer por elas", diz a executiva.
"Os líderes que realmente serão de sucesso são aqueles que pensam nas pessoas e buscam aliar o trabalho à vida pessoal delas."
Algumas empresas, ao menos no discurso, dizem que os gestores precisam estar mais atentos à vida pessoal dos profissionais.
Na Wilsons Sons, uma empresa de logística, foi instituído o programa Conversas de Carreiras, em que chefes e liderados são estimulados a se aproximar.
A ideia é que o papo, mediado pelo RH, sirva para que o líder entenda o que é importante naquele momento para o funcionário.
A gestora de desenvolvimento organizacional, Alea Steinle, diz que isso gera resultados práticos.
"Uma executiva se dizia no momento certo para engravidar: era o sonho dela. Em vez de pagarmos um MBA, pagamos uma inseminação artificial", conta.
"Outra executiva com filhos pequenos precisou de um horário mais flexível para conciliar a carreira."
CURSO DE CHEFE
Nas grandes companhias, a dificuldade dos gestores em lidar com gente tem sido tratada por meio de capacitação, por meio das chamadas universidades corporativas, que incluem disciplinas de gestão de pessoas.
"Essas universidades têm um plano de desenvolvimento mais aprofundado do que um simples treinamento", explica Ribeiro, da Robert Half.
Na Novartis, corporação do ramo farmacêutico, esse tipo de programa tem parceria com a Universidade Harvard. Um dos cursos capacita o executivo a fazer avaliação de desempenho e técnicas de contratação. Ao fim de 15 meses, ele sai com uma visão geral das habilidades para gerenciar pessoas.
O presidente da Novartis, Adib Jacob, 43, diz que, pela presença dos cursos de formação, hoje é possível "preencher 80% dos cargos de gerência por pessoas que já estão no grupo".
Segundo Jacob, a tendência é fortalecer os programas da universidade corporativa para aliviar o tempo que o líder iria gastar treinando a equipe. "O tempo para desenvolver pessoas vai ficar cada vez mais crítico. Por isso, você tem que ter programas bem estabelecidos de treinamento, de desenvolvimento, da cultura da companhia."
Zé Carlos Barretta/Folhapress | ||
Adib Jacob, presidente da Novartis Brasil |
A companhia também oferece formação a quem ainda não é líder para, no futuro, ocupar cargos de gerência.
Ao longo do curso, se a pessoa não tiver aptidão para a função, recebe retorno sobre isso e continua no mesmo cargo.
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