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22/12/2013 - 01h00

Empresas incentivam o 'quem indica' na hora de contratar

FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO

Grandes empresas estão intensificando e sistematizando a prática do "QI" (quem indica) na hora de preencher vagas.

Algumas corporações, como a IBM e as consultorias Ernst & Young e a Deloitte dão bônus aos funcionários que indicaram um candidato que foi selecionado.

Na multinacional Ernst & Young, quase 30% das contratações deste ano foram feitas pelo programa de indicações -em 2012, o índice foi de 21%. Na 3M, que produz de post-its a componentes aeroespaciais, metade das vagas foram preenchidas assim.

De uma certa forma, os funcionários assumem a função de filtrar profissionais que têm mais chances de se dar bem na empresa.

"A pessoa conhece a outra e sabe como é trabalhar na empresa, então pensa: 'Ela não vai se adaptar'. É algo que nem sempre conseguimos captar no processo seletivo", diz Roberto Sanches, diretor de RH da Deloitte.

Paula Conrado, 23, afirma que levou isso em conta ao recomendar Sandra Maria de Moura, 37, para uma vaga de analista júnior neste ano.

"Ela foi da minha sala na faculdade. Eu conhecia o perfil da Deloitte e vi que ela se encaixava", conta Conrado.

Ísis Koelle, 30, gerente de marketing da 3M, indicou Otávio de Angele, 31, para um processo seletivo para preencher a vaga de gerente de produtos -os dois são amigos há mais de dez anos. Deu certo, e ele foi contratado.

Leonardo Soares/Folhapress
Paula Conrado (à esq.) e Sandra de Moura, da Deloitte, foram colegas na faculdade
Paula Conrado (à esq.) e Sandra de Moura, da Deloitte, foram colegas na faculdade

Durante o processo seletivo, a superior de Angele foi conversar com Koelle, que o endossou novamente.

O processo seletivo, no entanto, não foi diferente, ele diz: "É padrão: entrevista, dinâmica e testes".

Segundo André Celso Scatolin, 44, diretor de RH da 3M do Brasil, um indicado não vai necessariamente ser escolhido. E não se pode recomendar um parente direto.

Na Fiat, isso é considerado normal. Valtuir do Prado Maia, 44, entrou na empresa há 19 anos, ao ter sido indicado por um primo. Depois disso, ele recomendou dois sobrinhos e um irmão, que, por sua vez, recomendou um primo e este último indicou um de seus irmãos (portanto outro primo de Valtuir).

Há uma fila para que os funcionários indiquem alguém de seu círculos. "Tem algum parente desempregado e já se fica ansioso, esperando a vez para a carta chegar", conta o trabalhador da unidade de transmissões.

Esse sistema funciona há 20 anos. Adauto Duarte, diretor da Fiat, diz que não há "ninguém melhor do que o empregado para identificar as pessoas certas" para os postos em aberto.

A empresa de informática Oracle tem um software específico para auxiliar na indicação. Por ele, um funcionário da empresa recebe uma notificação de vaga aberta e a encaminha.

O programa consegue rastrear quem repassou a mensagem e, portanto, fez a recomendação para a posição.

Charles Rosenburst, da Oracle, afirma que, com a internet, o número de candidatos por processo seletivo é alto, mas muitos deles não têm o perfil da vaga aberta.

"De cada cem recursos captados pela internet, aproveita-se um. Já entre os currículos indicados, usa-se um em cada dez." No jargão do setor de RH, a palavra "recursos" refere-se a um candidato a uma vaga.

Uma das funções do software é saber ao certo de onde partiu a indicação para que o pagamento da gratificação vá para a pessoa certa.

"A lógica de dar o bônus é remunerar o profissional que dedicou uma parte de seu tempo para recrutar. Ele está me ajudando no meu trabalho. E se eu contratasse empresas terceirizada, eu pagaria", diz Elisa Carra, líder de RH para a América do Sul da Ernst & Young.

Hoje, a empresa paga um valor entre R$ 1.000 e R$ 4.000 para uma recomendação que dá certo -para isso, eles esperam três meses pós-nomeação do cargo.

O dinheiro é um incentivo para indicar alguém, mas não é o único, diz Gustavo Hering, 28, assessor sênior da empresa. Ele recomendou o assessor de impostos Eduardo Dalcin, 24, neste ano.

"Era uma vaga para trabalhar na mesma equipe. Se fosse alguém em que eu não confiasse, seria um presente de grego", afirma Hering.

Caio Infante, diretor-geral da Trabalhando.com, diz que pedir recomendações dos funcionários para preencher vagas é uma tendência, mas ele aponta alguns problemas na prática.

Uma delas é que isso funciona apenas para cargos mais "operacionais", e não de gerente para cima -uma pesquisa deste ano da Deloitte diz que 38% das empresas usam indicações para contratar supervisores, índice que cai para 25% no caso de gerentes e 9% para diretores.

Depois que o profissional foi contratado, ele pode enfrentar uma resistência maior dos colegas, afirma Infante.

"Isso potencializa um tipo de competição ruim. Por exemplo, alguém que esperava uma promoção vê uma outra pessoa ser contratada por indicação irá procurar erros do novo colega."

Fabio Braga/Folhapress
Eduardo Dalcin (à dir.) entrou na Ernst & Young por indicação de Gustavo Hering
Eduardo Dalcin (à dir.) entrou na Ernst & Young por indicação de Gustavo Hering
 

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