Meta influi 4 vezes mais nos salários do setor privado
FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO
Quase toda a remuneração da diretoria da Sul América Seguros é variável: 98% do que esses executivos ganham está atrelado a metas de desempenho dos negócios. Na construtora PDG, é 95%. Entre as empresas públicas de capital aberto, o maior índice encontrado não chega a metade disso – 46% no Banco do Estado do Pará. A segunda maior porcentagem, de 32% é da Eletrobrás. A terceira, do Banco do Brasil, é 28%.
Segundo uma dissertação de mestrado feita no Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, enquanto nas empresas privadas de capital aberto a remuneração variável representa, em média, 63,5% do salário da diretoria, nas estatais esse índice é de 14%.
A pesquisa, que levou em conta dados de 2009 a 2011, comparou empresas estatais com companhias privadas semelhantes (levando em conta fatores como número de funcionários e faturamento).
Segundo a autora do estudo, Paula Leite, que é editora de Treinamento da Folha, uma das explicações para isso é o fato de as administrações públicas exigirem mais dos executivos do que apenas resultados financeiros.
"O governo quer que a empresa dê dinheiro, mas também que ela faça uma fábrica para desenvolver uma região, ou que ela ajude a segurar a inflação etc."
Os altos executivos que vão para as estatais podem ter outros interesses também, além da remuneração, diz o orientador da tese, Sérgio Lazzarini. "Eles podem ser mais técnicos, por exemplo."
Mas ele afirma que, se a empresa quiser ser competitiva, precisa atrair os melhores, que "tendem a ser atraídos para regimes de trabalho onde a porcentagem de remuneração variável é maior".
José Silvestre Oliveira, economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), afirma que nem sempre é assim.
"Há um contexto econômico que determina o resultado da empresa, e isso não tem relação nenhuma com competência ou capacidade individual do executivo. E eles sabem disso antes de optar por um tipo de remuneração."
Ele também lembra que pagar mais de acordo com o desempenho pode trazer problemas de pressão psicológica e falta de solidariedade com colegas.
Segundo Leite, pagar valores diferentes de acordo com o desempenho funciona bem em situações em que um funcionário desempenha poucas atividades.
O exemplo é o setor de vendas: a ideia é que o profissional venda o máximo, e, para isso, a companhia dá a ele um porcentual como incentivo.
"Quando há trabalhos em que a pessoa tem uma gama muito grande de atividades, a remuneração variável começa a não funcionar. Um funcionário com três ou quatro atribuições iferentes terá o ganho atrelado a uma meta só, e ele não vai gastar tempo com as outras tarefas", explica a jornalista.
Para chegar à conclusão, o estudo usou um relatório que as empresas de capital aberto são obrigadas a enviar à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Esse documento aponta qual é a remuneração da diretoria –geralmente, o maior ganho é do diretor-presidente das empresas.
A maior remuneração que aparece na pesquisa é a paga a um membro da diretoria da da Qualicorp no ano de 2011: R$ 44,5 milhões.
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