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18/03/2014 - 11h52

Empresas usam sensores em crachás e móveis para monitorar funcionários

HANNAH KUCHLER
DO "FINANCIAL TIMES"

Em uma rua tranquila no bairro de SoMa, uma área de San Francisco na qual as start-ups (empresas iniciantes) dominam o cenário, um negócio em rápido crescimento está ocupado com o estudo do comportamento de milhões de trabalhadores a cada dia.

Os computadores da companhia sabem em tempo real o motivo para que um trabalhador tenha sido contratado, seu nível de produtividade e podem até acompanhá-lo quando ele se transferir a um novo emprego.

A Evolv é uma das líderes no movimento do lugar de trabalho quantificado, por meio do qual grandes companhias de análises de dados estão começando a voltar suas atenções à mensuração de como trabalhamos.

"A cada semana descobrimos novos dados para acompanhar", diz Max Sumkoff, um dos fundadores da Evolv e seu presidente-executivo. A companhia alega que pode melhorar a produtividade de pelo menos dois terços dos postos de trabalho em 5%.

Divulgação
Steelcase instala sensores em móveis de escritório para verificar como profissionais interagem
Steelcase instala sensores em móveis de escritório para verificar como profissionais interagem

Mais de metade dos departamentos de recursos humanos de todo o planeta reportaram um aumento no uso de serviços de análises de dados, ante o nível registrado três anos atrás, de acordo com pesquisa recente da Economist Intelligence Unit. Mas muitos trabalhadores continuam alegremente inconscientes sobre o volume de informações que podem considerar privadas e que estão sendo analisadas por seus gestores.

De sua parte, a Evolv analisa mais de meio bilhão de "pontos de dados de trabalhadores", de um total de 13 países, buscando identificar padrões que se apliquem a grupos de companhias e a setores econômicos. Os dados variam do número de interações entre um funcionário e seu superior ao tempo que um trabalhador demora para chegar ao escritório.

Os clientes da Evolv utilizam os números para ajudar a orientar suas decisões de contratações bem como para avaliar o desempenho de um trabalhador ao longo de sua carreira.

A companhia até agora se concentrou em setores que atendem consumidores diretamente, tais como cadeias de varejo e centrais de atendimento telefônico. Um de seus clientes é a agência de empregos Kelly, que diz ter registrado 7% de crescimento na eficiência de seu pessoal, em todas as áreas, ao incorporar as percepções da Evolv à sua política de contratação.

A Novo 1, uma companhia norte-americana que opera centrais de atendimento telefônico e tem mais de 2.000 funcionários, identificou as características de seus operadores mais bem sucedidos para tentar contratar mais pessoas parecidas com eles. Isso reduziu a duração média de suas entrevistas de emprego de 60 minutos para 12 minutos, reduziu por em média um minuto a duração das ligações à central de assistência e reduziu em 39% o giro indesejado de pessoal.

PAPO DE CORREDOR

Outra companhia pioneira no segmento é a Sociometric Solutions, que coloca sensores em crachás de funcionários a fim de identificar a dinâmica social em uma empresa. Os crachás monitoram como os funcionários se movimentam pelo lugar de trabalho, com quem conversam e que tom de voz empregam.

Um dos clientes da companhia, o Bank of America, descobriu que os trabalhadores mais produtivos eram aqueles que tinham licença para fazer suas pausas juntos, porque eles usavam esse período para desabafar e trocar dicas sobre como lidar com clientes frustrados.

O banco acatou a constatação e adotou pausas coletivas para seu pessoal, e depois disso o desempenho dos envolvidos melhorou em 23% e os sinais de estresse nas vozes dos bancários se reduziram em 19%.

Ben Waber, um dos fundadores da Sociometric Solutions e seu presidente-executivo, acredita que crachás podem ser usados para funções que vão além das vendas e do atendimento a clientes. Ele vê grandes oportunidades na indústria farmacêutica, por exemplo, na qual a produtividade é difícil de mensurar porque medicamentos novos podem emergir apenas uma vez por década. "No resto do tempo, eles nem fazem ideia."

Outra companhia, a Steelcase, que instala sensores em móveis de escritório e edifícios para determinar como os trabalhadores interagem, acredita que a oportunidade real que a monitoração de pessoal oferece esteja longe das operações de call centers e que se concentre nos opacos departamentos de criação e até mesmo nas salas de conselho, nas quais o tempo é especialmente precioso.

David Lathrop, diretor de pesquisa e estratégia da Steelcase, diz que os sensores se tornaram tão baratos, agora, que podem ser instalados "em praticamente toda parte", e argumenta que os trabalhadores podem ser beneficiados ao acompanharem o próprio desempenho.

Os defensores desse tipo de método dizem que quantificar o lugar de trabalho é especialmente útil em áreas nas quais há choques de cultura frequentes –por exemplo, equipes internacionais e em casos de aquisição de empresas.

VÍDEO MONITORADO

No caso da Polycom, uma companhia de videoconferências, os clientes agora podem assistir a replays das suas reuniões gravadas. Stuart Monks, vice-presidente de tecnologia e arquitetura da companhia, deseja ir além e permitir que os clientes analisem essas informações.

Monks diz que, na Polycom, o departamento de recursos humanos usou o acesso aos dados para determinar que um grupo de um continente não estava compreendendo um grupo de outro.

Nem todo mundo está convencido de que o crescente uso da tecnologia para monitorar a produtividade dos trabalhadores represente um avanço inequívoco, no entanto.
Teresa Amabile, professora e diretora de pesquisa da escola de administração de empresas da Universidade Harvard, diz que isso pode ser "muito positivo" ou "muito negativo", a depender da cultura existente naquele local de trabalho.

A monitoração pode funcionar se as equipes, departamentos ou escritórios que usam esses aparelhos ou software tiverem o que ela define como "alto grau de segurança psicológica".

Se as pessoas sentirem que têm o direito de fazer experiências, ainda que possam fracassar, e aprender com elas, elas talvez se motivem a conquistar uma melhor compreensão sobre como usam o tempo de suas dias.

Mas ela alerta para o fato de que a tecnologia ainda é nova e que pode ser um instrumento "bruto demais" para merecer confiança. "Há certamente o perigo de ver a tecnologia como solução mágica", diz.

Lew Maltby, presidente do Instituto Nacional de Direitos do Trabalhador dos Estados Unidos, diz que a monitoração eletrônica pode ser uma "ferramenta valiosa" para os empregadores, ao oferecer provas em casos de assédio sexual ou para a avaliação de produtividade em postos como os de digitação de dados, por exemplo.

Mas ele afirma que a maioria dos trabalhadores "não faz ideia" da vigilância que seus e-mails já sofrem, ou sobre as informações a que seus empregadores têm acesso em seus computadores e smartphones de trabalho.

Os trabalhadores podem não ter muito recurso judicial para contestar qualquer extensão dessas operações de coleta de dados. Ele diz que houve uma série de processos judiciais nos Estados Unidos sobre a monitoração de computadores de trabalho, e que os trabalhadores perderam todos eles.

"Nenhum trabalhador jamais conseguiu vencer um processo por violação de privacidade baseado na vigilância de seu computador de trabalho pelo empregador", ele diz.

DADOS ÚTEIS

Mesmo alguns profissionais desse setor em ascensão acreditam que seja necessário discutir mais sobre quando e como os dados recolhidos serão usados. O professor Andrew Knight, da Universidade Washington, em St. Louis, trabalha com dados da Evolv e da Sociometric Solutions para estudar o comportamento no lugar de trabalho.

Mas ele acredita que a monitoração constante seja "uma imagem assustadora para o futuro", que pode "remover parte da autenticidade nos relacionamentos [de trabalho]".

Lathrop pode estar ocupado tentando identificar lugares potencialmente inovadores para instalar sensores, mas leva em conta o impacto potencial da vigilância sobre os trabalhadores.

Depois do caso Edward Snowden, ele diz que as pessoas podem ter começado a rejeitar a ideia, vendo-a como invasão de privacidade. Mas acredita que isso logo mudará. "É fácil pintar um cenário sinistro sobre isso", diz. "Mas também é possível criar um cenário positivo - sob o qual as pessoas se beneficiarão diretamente".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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