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23/03/2014 - 02h45

Profissionais resistem ao 'galho em galho' e ficam por anos no mesmo cargo

FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO

O economista Guido Mantega, 64, se tornará, nesta semana o mais longevo ministro na história da democracia brasileira. Na próxima sexta-feira, ele completa oito anos e um dia no cargo -Pedro Malan ocupou a mesma posição por oito anos.

Só Artur de Sousa Costa ficou mais tempo como ministro (11 anos), mas em um período sem eleições -ele assumiu em 1934 e saiu em 1945, quando acabou a ditadura de Getúlio Vargas.

Procurado durante quase um mês para falar sobre o assunto, Mantega não respondeu à reportagem.

Ilustração/Samuel Casal

No mercado de trabalho privado, ficar oito anos em um mesmo cargo é cada vez mais raro. Os profissionais mudam de função cada vez mais rápido.

"Grosso modo, se a empresa não movimenta a pessoa, a pessoa se movimenta. Ou seja, troca de emprego", diz Josué Bressane, diretor da consultoria Gemte.

TROCA ACEITÁVEL

Outro especialista em RH, Rodrigo Sion Adissi, da MSA, conta que, entre consultores, eles chamam profissionais que trocam muito de emprego de "currículo pula-pula". Hoje, diz, trocas de cargos que acontecem de três em três anos são encaradas como normais. "Há 15 anos, estranhavam isso."

Um ano e meio é o novo três anos, conta Bressane: "Para quem recruta, trocar de vaga diversas vezes nesse período pode representar uma certa instabilidade."

Lucindo Copat, 64, é diretor técnico da vinícola Salton há 27 anos -ele trabalha na empresa há 31.

Como a presidência é exercida por um sócio da empresa e Copat ocupa o posto técnico mais alto, ele não tem mais como subir na hierarquia da organização.

A solução seria trocar de empresa. Ele diz que chegou a receber ofertas de trabalho em outras companhias, mas preferiu ficar onde está.

Um dos motivos pelos quais não aceitou é que ele prefere viver na região onde nasceu, a de Bento Gonçalves (RS). "Eu não poderia [trocar de empresa], pois tenho raízes aqui", diz.

Mas a cidade não é o único motivo que o prende ao posto. "Sou mais conservador. Estou contente assim."

Ze Carlos Barretta/Folhapress
Flavio Bolieiro, vice-presidente da MicroStrategy para a América Latina há sete anos
Flavio Bolieiro, vice-presidente da MicroStrategy para a América Latina há sete anos

Flavio Bolieiro, 53, é vice-presidente da empresa de softwares MicroStrategy na América Latina desde 2007. Ele está na mesma empresa faz 15 anos.

Bolieiro trabalha com tecnologia da informação, mas estudou engenharia. Ele se formou em uma época em que esse mercado de trabalho enfrentava problemas, o começo dos anos 1980.

Como começou a buscar uma colocação em uma época em que o mercado "estava em situação meio crítica", ele afirma que valoriza mais os cargos que ocupa.

Ele diz que estar na mesma empresa e no mesmo posto faz com que ele não tenha uma rede de conhecidos (no linguajar do mercado de RH, "network") tão grande.

Isso pode ser uma desvantagem na hora de procurar uma nova vaga, pois muitas delas são preenchidas por indicações de conhecidos.

A consultora de RH Maria Candida Baumer de Azevedo concorda e também aponta uma outra desvantagem: remuneração.

"Em termos de salário, o profissional com muito tempo de cargo pode ter aumentos menores do que os de mercado", afirma Azevedo.

Isso porque, para tirar uma pessoa de uma empresa, geralmente, paga-se mais a ela.

Bolieiro diz que dois fatores fazem com que ele não considere a vida profissional "muito monótona". Uma delas é que ele viaja muito a países latinos onde a empresa tem escritório. O outro é que, no setor de softwares, muitos novos produtos são lançados, o que torna a rotina dele mais agitada.

LUCRO OU PREJUÍZO

Especialistas afirmam que é mais comum que quem esteja nas posições de chefia de empresas fique mais tempo do que os "funcionários de base". Principalmente se não há pressão de investidores ou do conselho de diretores.

Segundo Divino Sebastião, esses são os principais motivos que fazem com que ele permaneça como diretor-executivo da Algar Telecom há sete anos. "Se eu e a minha equipe déssemos prejuízo, a gente não ficaria."

Para a consultora Azevedo, ficar durante anos em uma função permite que o profissional atinja "a maestria", o que pode permitir que ele deixe sua marca na empresa e seja lembrada por muitos anos.

 

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