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26/03/2014 - 13h37

Criticados, jovens têm comportamento parecido com o dos pais no trabalho

Do "NEW YORK TIMES"

A geração que está ingressando agora na força de trabalho dos Estados Unidos, pessoas no final da adolescência e no começo da casa dos 20 anos, recebe críticas constantes dos empregadores por não estar preparada para a vida profissional. Mas, embora existam diferenças reais, seu comportamento no emprego talvez não seja assim tão diferente do de gerações anteriores.

Em pesquisas, proprietários de empresa e executivos de recursos humanos, no geral pessoas de meia-idade, dizem que os novos contratados não exibem a atitude e o comportamento necessário ao sucesso no emprego. Os relatórios apontam que a nova geração não mostra uma ética de trabalho forte. Seus integrantes não são motivados e não tomam a iniciativa. Não são confiáveis e não têm lealdade para com seus empregadores. Precisam de constante afirmação e esperam promoções rápidas.

Um relatório recente da Universidade Bentley, por exemplo, constatou que mais de metade dos profissionais de recursos dava nota C ou mais baixa aos formandos universitários recentes, em termos de preparação para o emprego. Quase 70% dos entrevistados disseram que os trabalhadores jovens eram mais difíceis de administrar.

Leah Nash/The New York Times
Camille Perry, 26, tem dois empregos: trabalha em um bar e um restaurante de Portland
Camille Perry, 26, tem dois empregos: trabalha em um bar e um restaurante de Portland

O Pew Research Center constatou que mais de metade dos reitores de universidades viam os estudantes atuais como menos preparados e menos dedicados aos estudos do que os universitários de uma década atrás.

Mas queixas sobre os jovens que estão ingressando na idade adulta não são novidade. Na Idade Média, os mestres artesãos já se queixavam dos hábitos de trabalho de seus aprendizes.
"Você encontra queixas como essas na literatura grega, na Bíblia", disse Peter Cappelli, diretor do centro de recursos humanos da Escola de Negócios Wharton. "Isso reflete a maneira pela qual os velhos veem os jovens".

Cappelli disse que as atitudes dos jovens quanto ao trabalho e à carreira não haviam mudado significativamente desde que a geração "baby boom" começou a se tornar adulta, nos anos 60. "Não existem provas de que a geração milênio seja diferente", diz ele. "Eles são só mais jovens".

LEMBRE DE VOCÊ

Adam Tratt, 42, comanda dezenas de funcionários com menos de 30 anos de idade. Do ponto de vista do trabalho, ele diz que naquela idade ele mesmo e seus amigos também pareciam um pouco desorientados.

"Lembro muito explicitamente de que quando eu estava me formando na universidade, havia esse estereótipo de que todo mundo na Geração X era folgado", ele diz, em referência aos norte-americanos nascidos entre 1965 e 1982, que agora tem de 30 e poucos a 40 e poucos anos de idade. Tratt, que comanda uma empresa iniciante de software em Seattle, disse que, ao chegar à meia-idade, sua geração ganhou reputação pelo espírito empreendedor e pelo trabalho árduo.

Cappelli desafia os executivos de escalão médio a tentar recordar a época de seus 22 anos. "Você provavelmente desejava sair correndo do escritório –estava interessado naquilo que acontece fora do trabalho", ele diz. "Você tinha surtos de energia e de grande entusiasmo sobre muitas coisas, mas ao mesmo tempo não era muito persistente".

Muita gente que comanda funcionários jovens, porém, ecoa a visão prevalecente de que a geração milênio tem hábitos de trabalho perturbadores.

LONGO PRAZO

Robert Boggs é administrador do Corinthian Colleges, no sul da Califórnia, e em sua equipe tem diversos subordinados com menos de 30 anos. "Eles tendem a ser muito egocêntricos; valorizam a diversão, em sua vida pessoal e profissional", diz Boggs. "Porque cresceram acostumados a um regime multitarefas, em seus celulares, iPads e computadores, não se pode esperar que dediquem muito tempo a um projeto sem que se entediem".

Thomas Gallagher contratou diversos jovens atletas, ao longo dos anos, para seu negócio de equipamento esportivo em Wilmington, Delaware. Ele diz acreditar que falte perseverança, a muitos dos trabalhadores mais jovens. "Preocupo-me porque, se der a alguém uma tarefa de longo prazo, e as coisas não funcionarem rápido, é provável que receba um telefonema ou e-mail no qual a pessoa me dirá que aquele trabalho não é para ela e que ela prefere desistir", diz Gallagher.

Algumas dessas visões negativas ocorrem até mesmo entre os integrantes da geração em questão.

"Vejo muitos universitários trapaceando para passar, fazendo o mínimo de esforço", diz Claire Koerner, 21, aluna da Universidade de Washington, em Seattle.

Koerner está concluindo seu curso de administração de empresas e trabalha em uma start-up de planejamento de casamentos, a OneWed. Ela admite que cuida da mídia social para a companhia enquanto assiste aulas. Mas diz que muitos de seus colegas não trabalham e ponto. De acordo com o Serviço de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos, a participação dos adolescentes na força de trabalho nunca foi tão baixa.

"Eles simplesmente não terão o conhecimento de que precisariam para trabalhar com o afinco que será esperado deles", diz Koerner.

PREGUIÇA

Camille Perry, 26, de Portland, Oregon, disse que sua geração não tinha uma ética de trabalho forte, ainda que sua agenda pessoal esteja repleta de trabalho. Ela tem dois empregos: é bartender em um karaokê e restaurante e garçonete em um restaurante no centro da cidade,

"Somos uma geração que passa muito tempo diante do televisor ou jogando videogames", ela diz. "A preguiça é dominante."

Acadêmicos que estudam a geração milênio dizem que seus membros diferem da geração X e da geração baby boom (os norte-americanos nascidos entre 1946 e 1964), e que essas diferenças podem persistir ao longo de suas vidas profissionais.

"Essa é a geração mais afirmada da História", diz Cliff Zukin, pesquisador sênior no Centro Heldrich de Desenvolvimento da Força de Trabalho, na Universidade Rutgers, onde ele também leciona política pública. "Eles foram criados acreditando que podiam fazer o que desejassem, e que eles têm talentos e capacidades a oferecer em um ambiente de trabalho."

"E quando eles têm a sorte de encontrar emprego, ouvem que precisam ficar quietos porque não sabem coisa alguma ainda. Para muitos jovens dessa geração, há um choque tremendo entre suas expectativas e as realidades do emprego", acrescenta.

*COLABORAÇÃO

Um traço que pode ser vantajoso para os empregadores é que os jovens aprenderam –em casa, na escola, em suas redes on-line – que colaboração e trabalho de equipe, para que todos possam vencer, importam mais do que concorrência, disse Paul Taylor, vice-presidente executivo de projetos especiais no Pew Research Center.

"Eles são uma geração que não é conflituosa", disse Taylor. "Não querem entrar em brigas. Isso é um bom augúrio para sua capacidade de adaptação e de relacionamento no trabalho".

A capacidade dos jovens para executar múltiplas tarefas pode parecer uma receita para distração no trabalho, mas tem seu lado positivo.

John Scrofano, o chefe de Koerner na OneWed, aprecia a familiaridade dos jovens com as mídia sociais. "Eles não veem a distinção que costumava existir entre casa e trabalho, e por isso cuidam do Facebook da empresa à noite, no sábado ou no domingo", ele afirma. "São incrivelmente produtivos."

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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