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20/04/2014 - 02h00

Cientistas trocam universidades por pesquisas mais práticas em empresas

FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO

Os estudantes de química Daniel Minatelli, 23, e Fernando Luengo, 25, se conheceram em um laboratório da USP. Eles estudam o uso de polímeros (grandes moléculas compostas por pequenas unidades que se repetem) para a regeneração de tecidos humanos.

A pesquisa deles irá ajudar pessoas que se queimam a recuperar a pele usando células-tronco, por exemplo.

"Eu crio material cujas características ajudam células-tronco a se desenvolver e a gerar tecido ósseo ou pele mesmo", afirma Luengo.

Mas os dois cientistas podem não ver o resultado final dessa pesquisa de perto.

Isso porque ambos participaram de uma competição da multinacional de origem alemã chamada Henkel –eles representaram o Brasil em uma disputa com estudantes de 30 países. Na Alemanha, tiveram contato com gerentes da área química da empresa, cujo principal mercado é o de cola.

Em sete anos de torneio, 130 estudantes foram contratados pela empresa, de um universo de cerca de 400.

Se fossem convidados para trabalhar na multinacional, dizem, nem mesmo hesitariam ao aceitar.

Profissionais de áreas científicas têm procurado mais a iniciativa privada, onde conseguem colocar seus descobrimentos mais rapidamente no mercado.

Segundo o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, apesar de não existirem números, quem é do setor de pesquisa observa que os profissionais têm se interessado mais em ir para a iniciativa privada.
aplicação prática

Os dois estudantes afirmam gostar do laboratório, mas, ao mesmo tempo, dizem que a pesquisa "não sai da universidade".

Esse perfil de estudante interessa particularmente, afirma o diretor executivo da Henkel do Brasil, o português Manuel Almeida, 46, que acompanhou a dupla de brasileiros. "Nós iremos abrir um centro de pesquisa e desenvolvimento em São Paulo."

Essa história não é rara, diz Luiz Henrique Catalani, o professor da USP responsável pelo laboratório.

Ele estima que, entre as pessoas que passam pelo centro de pesquisas, de 30% a 40% vão para as empresas.

"O instituto ensina como deve ser o processo científico. Mais adiante, os pesquisadores vão optando pelas possibilidades profissionais", afirma.

Cruz, da Fapesp, conta que, no Estado de São Paulo, as empresas respondem por 61% das pesquisas científicas, enquanto os governos federal e estadual arcam com os outros 39%.

"A natureza da atividade de pesquisa que se faz no mundo acadêmico é diferente daquela que acontece no mundo empresarial, no qual ela está mais próxima de uma aplicação com algum benefício para a companhia, e não à expansão das fronteiras do conhecimento. Mas ninguém pode dizer que uma é melhor ou mais importante do que a outra", diz.

Paula Giolito/Folhapress
Jeferson Costa, que trabalha com pesquisas sobre soldas na White MartinS há 15 anos
Jeferson Costa, que trabalha com pesquisas sobre soldas na White MartinS há 15 anos

Jeferson Costa, 52, consultor da White Martins, conta que, no setor de pesquisas da companhia, estuda-se o mercado antes de "entrar de cabeça" em um estudo para um novo produto. "Temos uma lista de 70 projetos potenciais. Priorizo-os em função da importância para o mercado", ele diz.

A maneira de pesquisar é um pouco diferente: o estudo é feito em estágios e, aos poucos, eles decidem se vale a pena continuar ou não na linha de investigação.

"Em laboratórios de universidades, eles montam um plano experimental e seguem-no rigorosamente até chegar às conclusões finais sobre causa e efeito", afirma.

Mariel Pina, pesquisadora para produção e inovação da L'Oréal Brasil, está no time dos que acham que na indústria trabalha-se com um objetivo pontual, enquanto na universidade estuda-se "coisas que sejam interessantes".

Antes de ir para a iniciativa privada, ela era pesquisadora especializada em propriedades físicas e químicas de superfícies. Mais especificamente, debruçava-se sobre produtos que tivessem capacidade de degradar contaminantes biológicos de pesticidas em água.

Já na empresa, ela pensa em fórmulas para desodorantes de "rápida secagem e com toque sequinho".

 

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