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20/05/2014 - 15h16

Líder precisa ser bom ouvinte, diz professor do MIT

ISABEL KOPSCHITZ
DE SÃO PAULO

Conferencista sênior e professor do MIT (Massachusetts Institute of Technology), Otto Scharmer defende que líderes devem ser, sobretudo, bons ouvintes para influenciar as pessoas.

Scharmer é autor do livro "Liderar a partir do futuro que emerge - A evolução do sistema econômico 'ego-cêntrico' para o 'eco-cêntrico'" (editora Elsevier). Ele defende que os desafios deste século exigem que as pessoas e as organizações deixem de se concentrar apenas no bem-estar do indivíduo e passem a enfatizar o coletivo. Para isso, afirma, os líderes devem estar prontos para agir de forma mais colaborativa.

O professor participa nesta quarta-feira (21) do seminário Em Busca da Excelência, da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), em São Paulo. Leia trechos da entrevista.

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Folha - O que se exige dos líderes hoje?
Otto Scharmer - A realidade dos negócios e as oportunidades de negócios que enfrentamos hoje, especialmente em organizações maiores, e na sociedade como um todo, pedem um "coração aberto" a como cuidamos da estrutura, da inovação e da comunicação. E também uma mudança de formas mais hierárquicas de liderança para formas baseadas no cultivo de relacionamentos por todo o ecossistema com o qual você lida. Quando você modifica velhas formas de organização, melhora o que já está lá. Muitas empresas estão melhorando o que já fazem, tornando seus processos mais eficientes e leves. Estou falando de inovação disruptiva, que requer que se deixe para trás velhas ferramentas para poder olhar para oportunidades entre unidades de negócios ou entre países ou que peçam novas formas de colaboração.

Divulgação
Otto Scharmer, professor do MIT
Otto Scharmer, professor do MIT

Quais são as principais características que os melhores líderes devem ter para que sejam "eco-cêntricos", conforme o senhor preconiza, e não egocêntricos?
Em primeiro lugar, devem ser bons ouvintes. Em segundo, devem ser bons em criar espaços para grupos e se engajar em cada um de forma criativa. Outra característica importante é que sejam bons construtores de plataformas, ou seja, que saibam unir as pessoas e desenvolver plataformas de colaboração e inovação entre as instituições. Os bons líderes também precisam saber transformar rapidamente uma ideia, uma visão, numa realidade concreta, mesmo que seja um pequeno teste. Por fim, os líderes precisam entender o que é o sistema atual e ter bom senso de desenvolvimento de oportunidades, saber onde elas estão. Precisam entender para onde está indo o ecossistema e quais são os recursos comuns que precisamos gerar dentro dele e como organizar isso.

Que mudanças as empresas precisam fazer nesse cenário?
São sete. A primeira está relacionada ao uso de recursos naturais, basicamente vendo a natureza como uma commodity que precisa ser cultivada. Em segundo lugar, repensando trabalho, emprego e empreendedorismo. Em terceiro lugar, reequilibrando o sistema financeiro. Em quarto, investindo em intenso desenvolvimento tecnológico que permita às pessoas alavancar a criatividade: uma tecnologia que não seja usada para espiar as pessoas ou exclui-las.

A quinta inovação é no plano da liderança. A ideia é criar uma infraestrutura que promova uma mudança no antigo estilo de desenvolvimento de liderança, voltado para um indivíduo heroico. Minha definição de liderança é a capacidade coletiva de moldar o futuro, fazer junto com os outros. O sexto ponto é o consumo consciente coletivo, que é dar poder aos consumidores, permitindo que sejam parceiros, e também trazer novos indicadores de progresso diferentes de Produto Interno Bruto (PIB). E a última inovação é nos mecanismos de governo: promover arranjos para coordenar ações coletivas, como acontece quando ocorre um desastre natural e todos colaboram em prol de um objetivo. É a inteligência colaborativa.

Os líderes de hoje estão prontos para isso?
Os líderes de hoje têm desafios para os quais as antigas ferramentas não ajudam. O que você basicamente usa para influenciar outras pessoas é a qualidade das relações. E como se melhora a qualidade das relações? Ouvindo, dialogando, transformando debate em diálogo, ouvindo o que já sabe e ouvindo o que ainda não sabe. Ouvir profunda e genericamente. O que quero dizer é que precisamos hoje não só de líderes que respondem aos desafios que enfrentamos, mas de líderes que o fazem nos níveis de organização e de todo o sistema.

 

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