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06/07/2014 - 02h00

Executivos usam 'números da sorte' e amuletos para tomar decisões, o que é arriscado

ISABEL KOPSCHITZ
DE SÃO PAULO

Ao assinar qualquer contrato, a executiva Luiza Nizoli, 53, verifica dia, horário e fase da lua. Todos os documentos, valores e propostas devem terminar com 8 (na numerologia, o algarismo representa a união perfeita entre o céu e a Terra) ou 5, que teria a energia da inovação.

Por sua vez, a lua deve estar nos estágios crescente ou cheio, que trariam esplendor e abundância aos negócios.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Luiza Nizoli, presidente da Apdata, escolhe dias para assinar contratos segundo numerologia e fases da lua
Luiza Nizoli, presidente da Apdata, escolhe dias para assinar contratos segundo numerologia e fases da lua

O caso de Nizoli, presidente da empresa de tecnologia Apdata, é exemplo de como práticas e rituais esotéricos ou supersticiosos não estão restritos ao âmbito pessoal e afetam decisões de negócio, algo que pode ser arriscado.

Nizoli já chegou a postergar a assinatura de um contrato internacional devido a uma combinação numérica e lunar desfavorável. A empresária, porém, não revelou à companhia com a qual negociava o motivo real por temer a falta de compreensão.

Especialistas alertam sobre o perigo de o profissional perder a autonomia e prejudicar a produtividade.

Para Rodrigo Vianna, diretor-executivo da empresa de recrutamento Talenses, é fundamental não deixar que os rituais pautem as decisões.

"O mercado globalizado é tão dinâmico e competitivo que não perdoa quem desperdiça oportunidades", afirma. "Se pensarmos nas fases da lua, por exemplo, só há a crescente e a cheia em duas semanas do mês. Como é que só vou fazer negócio em metade do tempo disponível?"

Vianna ressalta, contudo, que, quando a prática é inofensiva e motivadora, pode ser positiva.

Metade de 14

Diretora e uma das fundadoras da escola Seven Idiomas, Adriana Albertal, 64, diz acreditar na sorte trazida pelo número 7.

Danilo Verpa/Folhapress
Adriana Albertal, sócia-fundadora da Seven Idiomas, que tem 7 sócios e foi criada em 1987
Adriana Albertal, sócia-fundadora da Seven Idiomas, que tem 7 sócios e foi criada em 1987

Sua empresa foi fundada em 1987 (a soma dos dígitos é igual a 25, cujos dígitos somados dão 7) e é regida pela filosofia do psicólogo americano Howard Gardner, segundo a qual há sete tipos de aprendizado, como a habilidade lógico-matemática e linguística. Ela também se esforça para que o número de sócios se mantenha em sete.

"Nos sentimos marcados por esse número desde o início. Nossa organização tem por missão desenvolver as pessoas, o que tem muito a ver com a simbologia do 7, que é de integração entre espírito e matéria", explica.

Não por acaso o folclorista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) escreveu que as superstições participam da essência intelectual humana e que até os grandes centros urbanos são "viveiros de superstições velhas, renovadas e readaptadas".

Adepto de crenças esotéricas há 50 anos, o professor Ernani Pimentel, 72, presidente do Grupo Vestcon, em Brasília, e do Centro de Estudos Linguísticos da Língua Portuguesa (CELLP) só trabalha com um copo de água com cristais em sua mesa.

Esses objetos, diz, refletem sua própria energia positiva, "limpando o ambiente" de vibrações negativas. "Quem trabalha com muita gente deve se precaver", diz.

Um estudo alemão indica que ter rituais de superstição pode, realmente, trazer sorte às pessoas. Segundo a pesquisa, da Universidade de Colônia, o fato de se acreditar que aquele ritual dá certo faz com que o indivíduo aumente muito seu nível de autoconfiança, tendo um desempenho melhor na atividade em questão. Isso o ajudaria a atingir seus objetivos.

O psicoterapeuta Robby Ares concorda. Para ele, as crenças podem ter o mesmo efeito de um remédio placebo (sem substâncias).

É o que acontece com o economista mineiro Roberto Liberato, 49, sócio-fundador da Expertise, empresa de pesquisa de mercado. Há 25 anos ele mantém um hábito peculiar, que herdou de seu pai: quando vai fechar um negócio importante, usa o mesmo par de meias. Liberato atribui ao amuleto a conquista de várias concorrências.

Ele costuma manter dois ou três pares da sorte, idênticos e comprados na mesma loja. Só os troca quando ficam completamente acabados.

"Aos 11 anos, meu pai me contou que fazia isso quando precisava que as vendas aumentassem. Acho que conspira a meu favor", conta.

Segundo Rodrigo Franklin de Sousa, coordenador da pós-graduação em ciências da religião da Universidade Mackenzie, a ritualização da vida traz segurança.

"A ilusão de controle é essencial para o ser humano. Ele passa a acreditar que todo o caos em que vivemos faz algum sentido", afirma.

 

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