Pergunta "o que estou fazendo aqui?" é sinal de alerta na carreira, diz autora
ANDRÉ CABETTE FÁBIO
DE SÃO PAULO
A relação com o trabalho é a que toma mais tempo das pessoas. Quando ela deixa de fazer sentido e o profissional se pergunta "o que estou fazendo aqui?", a carreira se torna um peso insustentável. Nesse momento, autoanálise e planejamento são a chave para colocar a vida profissional nos trilhos, afirma Adriana Gomes, 49.
Mestre em psicologia social e do trabalho e coordenadora do Núcleo de Estudos e Negócios em Desenvolvimento de Pessoas da ESPM, além de colunista da Folha, Gomes lança nesta quinta-feira o livro "Tô Perdido! - Mudança e Gestão de Carreira" (Qualitymark Editora), em que tenta traçar um roteiro para quem está insatisfeito com o trabalho e quer se preparar.
Leia abaixo trechos da entrevista com a autora.
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Folha - Quais os principais problemas de quem procura você?
Adriana Gomes - São pessoas insatisfeitas e infelizes no trabalho. Seja porque escolheram a carreira errada seja porque estão infelizes com o que fazem ou onde estão fazendo. E pessoas que tiveram carreiras bem-sucedidas até certa altura, mas que, num ponto, percebem que aquilo perdeu o sentido para elas. Esse é o motivo do título do livro. O que elas fazem deixa de fazer sentido e elas adoecem pela insatisfação e por não saberem o que querem fazer dali para a frente. As pessoas sofrem e ficam muito angustiadas.
Perguntar-se "o que eu estou fazendo aqui?" é um sinal de alerta de que algo na relação de trabalho vai muito mal. Nós passamos mais tempo na relação de trabalho do que em qualquer outra. É muito insatisfatório levantar todo dia para fazer uma atividade que não gosta. Mas uma pesquisa da International Stress Management Association do Brasil aponta que 76% das pessoas entre 25 e 60 anos se sentem infelizes com a vida profissional. Globalmente essa insatisfação é entre 55% e 76%.
O que torna esse índice tão alto?
É um conjunto de fatores. A expectativa muito alta em relação à carreira; o fato de que as pessoas e o mercado mudam, de as pessoas entrarem em contato com outras áreas que se tornam muito mais significativas e atraentes e a frustração no começo da carreira. Alguns gestores prestam um desserviço: às vezes a primeira experiência pode significar o abandono de um profissional promissor.
O que fazer quando se sente isso?
No livro eu trago depoimentos de pessoas com angústia, insatisfação e dúvida sobre a carreira, e aponto três caminhos possíveis. Um deles é a mudança de emprego. Às vezes, o problema não é escolha profissional, mas o relacionamento com a chefia, que é um dos maiores motivos para a saída de funcionários. Outro caminho é a mudança de área. Nesse caso, a pessoa vai buscar uma nova identidade profissional, com novos conhecimentos. Outro caminho é o empreendedorismo. Falo sobre a importância do planejamento financeiro para essas mudanças.
Por que isso é importante?
A maioria das pessoas não tem o planejamento financeiro para a carreira e não faz reservas. Isso é para a vida. Uma pessoa pode querer mudar de carreira, e toda mudança envolve investimento emocional, de tempo e de dinheiro.
Qual o primeiro passo para quem quer mudar de carreira?
O mais importante é um processo de autoconhecimento: saber seus valores, no que acredita, quais os projetos de vida, os critérios pelos quais faz as escolhas. A partir disso a pessoa pode fazer escolhas mais significativas para si mesmo. Isso parte de um exercício de elaboração da autobiografia, quem influenciou em suas escolhas e como as pessoas a veem. Depois disso, vem um levantamento de informação profissional para a nova carreira: a formação e as competências exigidas. Isso permite transitar no mercado de trabalho com mais confiança.
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