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09/11/2014 - 02h16

Seleção de empresas como Google e Facebook exige quase uma dezena de entrevistas

ANDRÉ CABETTE FÁBIO
DE SÃO PAULO

A média de tempo entre o primeiro contato do recrutador e a contratação de um funcionário é de 1,4 semana no Brasil, segundo pesquisa da Catho com 26,5 mil pessoas. Mas, no caso de empresas badaladas, processos seletivos podem durar seis vezes mais que isso.

Sem falar de quando o processo é longo e trabalhoso e não resulta em uma contratação.

Marca, remuneração, ramo de atividade e ambiente de trabalho fazem de algumas vagas "o emprego dos sonhos", o que permite às companhias escolher o candidato lentamente sem que ele deixe o processo, diz Ana Vieira, consultora da BR Talent, uma consultoria de RH.

Karime Xavier/Folhapress
Samantha Vidal, 34, gerente de vendas na área de pequenos negócios no Google, passou por uma seleção de dois meses antes de se mudar para São Paulo
Samantha Vidal, 34, gerente de vendas na área de pequenos negócios no Google, passou por uma seleção de dois meses

Cada contratação do Facebook no Brasil leva em média três meses e seis entrevistas. Um ritmo lento, mas intenso – a empresa saiu de cem funcionários em novembro de 2013 para 150 agora.

O processo é longo até nos casos em que a companhia entra em contato com o profissional para saber se ele está interessado na vaga. Foi o caso de Artur Souza, 30, líder de engenharia de soluções da América Latina, contratado em 2012. Antes, ele era engenheiro da Nokia em Recife.

Depois do contato de uma recrutadora, vieram sete entrevistas técnicas e com a equipe de vendas (duas ao telefone, uma em São Paulo, outra na Califórnia e três de novo na capital paulista).

"Fiquei muito ansioso. Minha mulher dizia para eu 'abaixar o facho'. Meu chefe me liberou para tentar, porque sabia que se não me liberasse eu me demitiria", diz.

Adriano Vizoni/Folhapress
Artur Souza, 30, líder de engenharia de soluções do Facebook
Artur Souza, 30, líder de engenharia de soluções do Facebook

Vieira, da BR Talent, avalia que seleções com um grande número de entrevistadores buscam garantir que só sejam contratadas pessoas que se enquadram na cultura da companhia.

A gerente de vendas Samantha Vidal, 34, foi efetivada pelo Google em junho e diz que um dos seus trunfos foi ter o que a empresa chama de "googleyness" (algo como o espírito da corporação).

"Surgiram perguntas sobre o que faço. Sou mergulhadora, maratonista, estudo música e sou sommelier. Essas coisas indicam que você é curioso e inconformado em fazer só uma coisa", afirma.

No total, foram dois meses com seis entrevistas, três delas em inglês com funcionários estrangeiros.

A empresa também pediu um texto contando sua trajetória, que teve cinco páginas e nove referências de colegas. "Eles checam todos", conta.

O gerente de recrutamento Daniel Borges diz que a companhia busca cortar o tempo da seleção, que há cinco anos tomava cinco meses em média. Hoje, leva um mês e meio, afirma –a reportagem encontrou um caso recente que tomou seis meses.

Roberto Iervolino, gerente-geral no Brasil da Riot Games, dona do game "League of Legends", precisa preencher 20 vagas abertas hoje. Deve demorar, já que o processo seletivo da produtora dura de três a sete meses.

Nesse tempo, os candidatos são testados no conhecimento de jogos, conhecimentos técnicos, comportamento e adequação à empresa.

O especialista de conteúdo Bruno Pereira, 20, se aproximou da companhia em 2010, narrando campeonatos de games on-line por hobby.

"Em 2013, surgiu a vaga e tanto o pessoal da minha 'fan page' no Facebook quanto da Riot falaram para eu tentar", diz. Foram cinco meses e entrevistas com 13 pessoas.

A conversa final é com um "sponsor", um dos sete profissionais no mundo encarregados de dar a palavra final e que são considerados "guardiões" da cultura da Riot.

Eduardo Knapp/Folhapress
Retrato de Bruno Pereira, 20, especialista em conteúdo da Riot Games, criadora do game League of Legends
Bruno Pereira, 20, que estuda jornalismo e é especialista em conteúdo da Riot Games, criadora do game League of Legends

Segundo Carolina Verdelho, gerente de recrutamento no Facebook, preencher cargos altos é mais trabalhoso. "A primeira pessoa que ocupa uma função nova aqui se reporta a alguém da Europa, do Japão ou dos Estados Unidos, onde há outros parâmetros", afirma.

Processos seletivos exigentes não são, no entanto, necessariamente demorados. De acordo com o site de carreiras Glassdoor, a consultoria McKinsey é a empresa com as entrevistas de emprego mais difíceis. Mas a seleção não dura mais de um mês.

Formado em direito e administração e contratado em março de 2013, o analista Carlos Costa, 25, diz acreditar que as perguntas requerem raciocínio lógico e cálculo, mas poderiam ser respondidas por pessoas de áreas não ligadas a negócios.

"Eles me pediram a estimativa da arrecadação de um município. Eu pedi ao entrevistador o PIB do município por indústria, comércio e serviços, assumi uma arrecadação média de IPTU por imóvel, e pesei os repasses estaduais para fazer o cálculo", conta o analista.

 

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