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23/11/2014 - 02h15

'Bom salário retém profissional, mas não gera engajamento', diz consultor

FILIPE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

Para o consultor Rogério Chér, 46, a experiência de circular por muitas empresas de variados portes e setores tem se tornado mais próxima da de visitar um cemitério, tal o número de profissionais presentes apenas de corpo, mas sem alma.

Chér, que é também professor da FGV, acaba de lançar o livro "Engajamento" (Alta Books), no qual aponta erros e caminhos para que departamentos de RH e profissionais construam uma relação mais significativa.

Leia abaixo principais trechos de entrevista de Chér a Folha, por telefone.

*

Folha: Onde as empresas erram na hora de engajar profissionais?
Rogério Chér: Nós da área de RH cometemos um grande sacrilégio. Usamos o termo retenção de pessoas. Mas o que costumamos reter? Urina, Imposto de Renda na fonte. Não dá para colocar pessoas na mesma categoria.

Bons salários e planos de ações retêm, mas não engajam. Engajamento é um estado emocional de comprometimento superior com alguém ou alguma coisa. É uma relação a longo prazo de corpo e alma.

Como medir o engajamento?

O modo mais acadêmico e avançado é observar o almoço de família no domingo. O que as pessoas falam da empresa, da marca da empresa, do produto, do serviço, da experiência de trabalhar lá, do ambiente e das outras pessoas.

Eventualmente seu primo, que é super bem remunerado, vai estar descendo a lenha na empresa. Ele está retido, não engajado.

Fabio Braga/Folhapress
O professor da Fundação Getulio Vargas e consultor Rogério Chér, 46, que está lançando o livro Engajamento (Alta Books)
O professor da Fundação Getulio Vargas e consultor Rogério Chér, 46, que está lançando o livro Engajamento (Alta Books)

Empresas de diferentes setores podem ter mais dificuldades para oferecer causas que engajam?

Empresas de educação e saúde, por exemplo, sem dúvida são negócios que têm uma ligação à causa que chega mais diretamente aos olhos de todos.

Mas todo negócio, dogmaticamente, daqui em diante só será um negócio capaz de engajar as pessoas de corpo e alma se por trás deles existirem causas significativas.

Uma vez fui questionado por um diretor de call center que me dizia 'Nosso negócio é volume alto e custo baixo, como posso ancorar meu negócio em alguma causa?'.

Perguntei a ele: 'de todos os seus milhares de funcionários, quantos estão em seu primeiro emprego?' De 28 mil profissionais, 23 mil tinham sua primeira oportunidade ali. Isso não é uma causa importante para ele?

Qual a importância de proporcionar crescimento e desafios para engajar?

O crescimento profissional é uma das coisas que mais engajam. Mas não pode ser a conversa do tipo chipanzé, que só quer saber para qual galho pular, para que cargo se promover.

Esse crescimento depende da configuração entre a habilidade atual e o desafio que se rrecebe. O crescimento profissional passa por assumir desafios maiores do que nosso nível de prontidão. Em alguns momentos o indivíduo vai ter de se jogar na pscina funda sem bóia. Nisso ele acelera exponencialmente seu aprendizado.

A forma de se engajar muda conforme a geração?

As pessoas que empurraram as organizações para o momento atual foram os caras da geração Y (nascidos a partir de 1980).

A conversa do Século 20 era 'Vem para cá, porque vamos crescer o lucro da empresa em 20% e vamos aumentar o market share para dar retorno ao acionista.' O cara da geração Y olha isso e pensa, 'Para quê? É só isso? Mas que preguiça'.

Quais os principais sintomas do desengajamento?

Primeiro de tudo ele é um profissional emaranhado em seus pontos fracos, como preso em um arame farpado. Em vez de configurar seus desafios na empresa em cima de seus pontos fortes, ele sempre enfrenta aquilo que ele é muito ruim em seu dia a dia. Então ele tem um problema de performance sério.

O segundo sinal evidente é que ele não percebe que, por trás do que faz, tem algo que vale a pena. Na fala dele, há uma total falta de admiração pelo que ele e a empresa estão construindo. Ele fala da liderança e do negócio com desencanto.

A terceira evidência é de sua contribuição. Se você pergunta se ele se sente contribuindo para a instituição, ele não consegue perceber que seu trabalho diário constrói algo significativo.

E, quanto ao grupo com o qual trabalha, ele perdeu a identificação com as pessoas. Não vive relações e conversas significativas. não admira mais ninguém, não aprende com aquela turma, não vê ambiente de colaboração e não confia. Isso é um veneno para alma do indivíduo e para a companhia. Custa muito sair de casa todo dia nessa situação

 

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