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25/01/2015 - 02h00

Revistas científicas publicam trabalhos falsos e acendem debate sobre critérios em artigos

FERNANDA PERRIN
DE SÃO PAULO

Pesquisadores sob pressão viraram alvo de publicações científicas consideradas predatórias. Esses periódicos são questionáveis por ter, como critério de seleção dos trabalhos, o pagamento de uma taxa pelos autores dos artigos.

"Essas revistas atraem quem precisa publicar no exterior e em grande quantidade, como consequência de regras inflexíveis que alguns países usam para avaliar o desempenho acadêmico", diz Yi Shin Tang, pesquisador da USP na área de direito e professor-adjunto na Universidade de Copenhagen.

Ele exemplifica com o caso da agência de fomento à pesquisa Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) –responsável, no Brasil, por avaliar cursos de pós. Quanto melhor a classificação de um programa, mais recursos recebe e mais bolsas pode oferecer a pós-graduandos.

O critério de maior peso na avaliação da Capes é o número de artigos publicados pelos professores em revistas –não qualquer uma. O órgão faz um ranking de periódicos, o Qualis, que varia de A1 (melhor) a C (pior).

Alguns acadêmicos criticam esse método, e também o número expressivo de periódicos internacionais entre os de melhor classificação.

Jorge Almeida Guimarães, presidente da Capes, rebate dizendo que o Qualis é feito por nomes reconhecidos.

"O Brasil tem 350 mil professores universitários, e publica 35 mil artigos em revistas indexadas, incluindo as brasileiras. Dá uma média de 0,1 por ano por professor. Do que reclamam?", questiona.

Para Guimarães, a indexação e a classificação do Qualis evitam o surgimento no país de periódicos predatórios, uma tendência mundial.

Com ele concorda Felipe Loureiro, professor do Instituto de Relações Internacionais da USP: "No Brasil, com as regras da Capes, não faz sentido publicar em um 'journal' sem visibilidade e que não esteja no Qualis. Duvido que alguém credenciado a um programa de mínima excelência pague para publicar em periódicos do tipo".

Mas há casos de brasileiros com trabalhos em revistas de reputação duvidosa.

O professor da Unifacs (Universidade Salvador) Paulo Caetano da Silva publicou artigo no "IJACT" (International Journal of Advanced Computer Technology) em parceria com um aluno.

O periódico virou piada na internet após ter aceito para publicação um artigo intitulado "Get Me Off Your Fucking Mailing List" ("Me Tire da Sua Maldita Lista de Contatos", em tradução livre). O conteúdo do trabalho é só essa frase repetida ao longo de dez páginas.

Assinado por David Mazières, da Universidade Stanford, e Eddie Kohler, de Harvard, o "artigo", originalmente, foi feito em resposta a convites indesejados que os professores recebiam para dar conferências.

O texto circulou com grande sucesso no meio acadêmico e chegou ao cientista australiano Peter Vamplew, que, cansado de receber em seu email chamadas para publicação em revistas de pouca credibilidade, o enviou como uma brincadeira ao "IJACT".

Para sua surpresa, o periódico avaliou o artigo como "excelente" e cobrou US$ 150 (R$ 400) de Vamplew para publicação. Procurado, o "IJACT" disse que seu e-mail havia sido invadido por um hacker à época.

O professor brasileiro diz desconhecer se houve pagamento ao "IJACT" na veiculação de seu artigo. Para ele, publicar ali foi relevante por oferecer um retorno da comunidade acadêmica sobre um trabalho em fase inicial, que não seria aceito por um periódico do ranking da Capes.

A publicação também valeria no processo interno de avaliação da Unifacs.

 

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