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25/01/2015 - 02h00

Novo curso de doutorado tenta unir pesquisa e indústria

DHIEGO MAIA
DE SÃO PAULO

Foi no dia a dia de uma fábrica que os engenheiros de materiais Jéssica Castro e Silvano Santos encontraram o que buscavam: objeto de pesquisa para um doutorado.

A dupla integra um projeto-piloto na pós-graduação, financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que tenta unir a academia e o setor produtivo com o objetivo da inovação.

O projeto, inserido no polo industrial do Grande ABC, na região metropolitana de São Paulo, "busca soluções para as demandas da indústria", afirma o coordenador da pós-graduação, Wagner Carvalho.

Batizado de DAI (Doutorado Acadêmico Industrial), o programa, que pertence à Universidade Federal do ABC, mantém parcerias com nove companhias da região.

Na unidade de molas e barras da ThyssenKrupp, em São Paulo, a dupla de engenheiros Castro e Santos pesquisa como aumentar a vida útil de equipamentos da empresa.

Lalo de Almeida/Folhapress
Os doutorandos da Universidade Federal do ABC Jessica Castro e Silvano Leal dos Santos
Os doutorandos da Universidade Federal do ABC Jessica Castro e Silvano Leal dos Santos

"Na fábrica, escutei a reclamação dos operários de que, em certa temperatura, a mola começa a descascar e, com o tempo, fica com sua estrutura mais frágil. Resolvi estudar o que causa esse problema", diz a pesquisadora.

Silvano tem se dedicado à resistência das molas. "É mais interessante olhar para sua pesquisa e vê-la aplicada do que engavetada", conta.

Além da presença típica dos orientadores acadêmicos, o DAI tem um segundo instrutor, pertencente à empresa parceira do programa, que acompanha bem de perto a evolução dos estudos.

No Brasil, iniciativas como as da Federal do ABC engatinham. Na Unicamp, por exemplo, pesquisadores que integram os cursos de pós em áreas tecnológicas já contam nas suas teses com a participação do setor produtivo.

Mas falta diálogo entre a indústria e a academia, segundo a especialista em ensino superior Hérica Righi.

"A empresa não enxerga a universidade como parte do processo dela. E a universidade está em uma ilha, desconectada da realidade das empresas", afirma Righi.

SEM DINHEIRO

Outra iniciativa do CNPq que inseriu pelo menos 5.000 pesquisadores nas pequenas e médias empresas do país entre 2007 e 2013 está com os dias contados.

O programa, intitulado RHAE (Recursos Humanos para Áreas Estratégicas) Pesquisador na Empresa, não abre convocação para a seleção de novos especialistas nas empresas desde o ano passado.

"Infelizmente, os recursos que garantiam as ações foram alocados para outros fins, como o Ciência sem Fronteiras, e não temos perspectivas para novos editais", diz o coordenador desse projeto de pesquisa, Cimei Teixeira.

Nos sete anos de atuação do programa, foram investidos R$ 236 milhões e criados desde veículos aéreos não tripulados a softwares para a aprendizagem de libras –entre os pequenos negócios.

"Mais uma vez, o Brasil está jogando para frente uma demanda que é do presente", reclama Teixeira.

Segundo Jorge Guimarães, presidente da Capes (agência do governo que avalia a pós), já há casos no país em que a relação entre empresa e academia está bem estabelecida.

"A Capes já aprovou um mestrado feito por uma empresa (Vale). E tem programas especiais com esse intuito de aproximação, mas é necessário ainda amadurecimento."

Para o pesquisador Sérgio Queiroz, doutor em economia pela Unicamp, "a universidade não deve pautar a sua existência nesse utilitarismo excessivo do mercado, porque ambos têm missões diferentes". Uma boa universidade, define ele, "é aquela que gera conhecimento de todo tipo: mais e menos aplicado".

 

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