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25/01/2015 - 02h00

Abusar de linguagem de 'business' não tem nada de 'disruptivo'

ANDRÉ CABETTE FÁBIO
DE SÃO PAULO

Tem executivo jovem por aí finalizando sua apresentação com um "qualquer dúvida, 'raise your hands''', segundo o testemunho do administrador de empresas Murilo Carlo Silva, 26. "Isso me incomoda, não faz sentido nenhum: é mais fácil falar em português", diz.

Há quem discorde dele e chame a chefia de "board", por exemplo, achando que isso a tornará mais próxima.

Silva, que trabalha numa indústria brasileira pequena ligada ao setor químico, diz evitar estrangeirismos. "Se eu falar 'deadline' por lá, vão estranhar", afirma.

Ele diz usar jargões em inglês quando avalia que essa linguagem pode ajudar na sua promoção –ao lidar com alguém de outro país, por exemplo. No geral, fica no português para não passar a imagem de arrogante.

Raquel Cunha/Folhapress
O administrador de empresas Murilo Carlo Silva e Silva, 26
O administrador de empresas Murilo Carlo Silva e Silva, 26

Um neologismo que pode irritar os mais sensíveis é o verbo "performar", que não chegou aos dicionários, mas já virou vício de linguagem nas empresas.

"'Disruptivo' não existe em português, mas deletar e resetar também não estavam no dicionário até há pouco", lembra Ruy Quintãs, professor de pós-graduação do Ibmec, da Fundação Dom Cabral e da FGV.

Segundo observa, alunos na faixa dos 25 anos têm uma tendência maior para assimilar jargões.

"Pela interação intensa desde cedo com tecnologia e com palavras em inglês, eles são muito mais afeitos a esse tipo de rótulos."

Em sala de aula, sua postura é a de questionar os alunos quando identifica o uso de expressões vazias para turbinar o discurso.

"Um termo comum é 'corporate turn around'. Teoricamente, é mudança na corporação, mas o que quer dizer? É uma recuperação da empresa em situação difícil? Uma nova política de investimentos? Muitas vezes, a própria turma tira sarro desse tipo de fala do aluno."

Professor do Insper e especialista em gestão de pessoas, Marcus Soares ressalva que é preciso cuidado ao virar a cara para jargões que a princípio parecem desnecessários. "Em recursos humanos, uma 'avaliação em 360 graus' não significa uma pirueta. Significa considerar a opinião do chefe, do subordinado e dos iguais. A de 180° não ouve os subordinados". Mas ensina: "Se for falar assim num departamento fora de sua área, traduza. Ou vai fazer os outros segurarem o riso."

 

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