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25/01/2015 - 02h00

Salários na Grande SP têm a menor alta desde 2010; veja quais mais ganharam

ANDRÉ CABETTE FÁBIO
DE SÃO PAULO

Os profissionais da Grande São Paulo tiveram, em média, o menor aumento salarial real desde 2010. O reajuste foi de 7,32% e a inflação medida pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe, de 5,20%, o que dá um aumento real de 2,12% –em 2013, havia sido 3,83%.

Os dados são da pesquisa Bolsa de Salários, do Datafolha, que analisa 350 cargos e 130 empresas na região.

A desaceleração acompanha os maus resultados da economia e deve se aprofundar neste ano, diz Airton dos Santos, coordenador do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

"O governo deve aumentar impostos e juros, cortar subsídios e desvalorizar o real para reajustar a economia. São medidas recessivas."

Karime Xavier/Folhapres
Com ajuste de 13,06%, mecânicos estiveram entre as categorias com maior aumento salarial em 2014 na Grande SP
Com ajuste de 13,06%, mecânicos estiveram entre as categorias com maior aumento salarial em 2014 na Grande SP

Na avaliação de José Augusto Figueiredo, presidente no país da consultoria de recursos humanos LHH, a desaceleração de 2014 deve ser seguida por um breque mais forte nos ganhos salariais neste ano.

"Será algo como: 'se eu sobreviver a 2015 no meu emprego, está bom'. Setores acostumados a ganhar aumento salarial em tribunal terão que ganhar em greve".

Ou seja, 2015 poderá ver mais disputas como a greve da Volkswagen de São Bernardo do Campo -800 funcionários foram demitidos no início do ano e, após pressão, readmitidos no dia 16.

No ano passado, a indústria fechou 163,8 mil vagas, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) –só o segmento de bebidas e alimentos não fechou o ano com menos empregados.

Esse cenário se refletiu no salário dos gerentes industriais, que tiveram ajuste de 4,65% em 2014, 0,55% abaixo da inflação e o menor índice no grupo de diretores e gerentes.

Para ele, o mau desempenho do setor também teve impacto indireto no de serviços.

"A grande força dinâmica da economia é o setor industrial, que se reflete no setor financeiro, e no de serviços como um todo. Só a Petrobras é responsável por 5% dos investimentos do país."

O setor de serviços foi lanterninha em ganhos salariais em 2014, com aumento de 6,9%.

Na outra ponta está o setor comercial, que teve ajuste de 10,33%. Ele foi turbinado, no entanto, pela falta de acordos salariais em 2013, que represou o ajuste para 2014, afirma Silvio José Fernandes, coordenador de projetos do Datafolha. Em 2013, comércio havia sido o setor com os piores ajustes.

Para grande parte dos vendedores, o salário é uma parcela da remuneração menos importante do que a comissão em vendas. Assim, o mau desempenho do varejo significou, para muitos, ganhos na prática menores do que em outros anos.

Segundo estimativa da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de SP), as vendas em 2014 caíram 1,6%.

GRANDES X PEQUENOS

Em 2014, aqueles com cargos e salários altos e sindicatos relativamente pequenos viram colegas da base receberem ajustes melhores. Enquanto um coordenador de obras teve aumento 3,3% abaixo da inflação, um ajudante de pedreiro teve ganho de 6% descontada a inflação.

Isso ocorreu porque o Sintracon-SP (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de SP), que representa a base do setor, fechou um acordo que prevê aumentos acima da inflação apenas para quem ganha até R$ 8.000.

"Estamos já há dois anos em crise, e fizemos um acordo para proteger quem ganha menos", diz Antonio de Sousa Ramalho, presidente do sindicato. De acordo com dos Santos, do Dieese, a economia desacelerada deve contribuir para mais resoluções do tipo em 2015.

Na cidade de São Paulo, houve um recuo de 40% nas vendas de imóveis considerando o período de janeiro a novembro de 2014 comparado com o mesmo período do ano anterior, segundo dados do Sindicato da Habitação. Os estoques atingiram o maior patamar desde 2004.

Argumentando que os trabalhadores que ganham mais têm direitos iguais, o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo entrou com uma ação na Justiça contra o Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil de SP) para obter os mesmos benefícios que o Sintracon.

É esperada uma resolução até março deste ano, diz o presidente da entidade, Murilo Celso Pinheiro. "Engenheiro é um trabalhador como qualquer outro."

BRIGA POR MECÂNICOS TURBINA AUMENTO

Com ajuste de 13,06%, mecânicos estiveram entre as categorias com maior aumento salarial em 2014 na Grande São Paulo, segundo o Datafolha -os campeões na categoria de ocupações da produção. Exigência de capacitação, falta de interesse pela carreira e perfil empreendedor acirram a disputa pelo profissional.

"Um bom mecânico tem que conhecer informática, eletricidade, eletrônica, hidráulica e medidas. Ele é difícil de encontrar e manter", diz Antonio Simão Domene, 53, dono de uma oficina na Vila Maria, zona norte de São Paulo.

Levantamento do Sebrae com 54 donos de oficinas na região identificou na busca por mão de obra o segundo maior problema do negócio, atrás de gestão financeira.

Há 18 anos com Domene, o mecânico Robinson Mai, 33, diz que o reconhecimento e a participação de 1% no faturamento o mantêm na empresa.

"Sair e abrir uma oficina própria nesse mercado instável não é tão simples. É muita dor de cabeça."

SALÁRIO SOBE NO COMÉRCIO, MAS COMISSÕES CAEM

Aumentos no setor de comércio beneficiaram de vendedores (ajuste de 15,44%) a gerentes de venda (alta de 12,23%). Mas em 2014 as vendas no comércio caíram 1,6% no Estado de São Paulo em relação ao ano anterior, segundo estimativa da FecomercioSP. Isso achatou as comissões dos profissionais.

Karime Xavier/Folhapress
Maria das Graças Silva Reis trabalha como gerente de loja no bairro Bom Retiro, em São Paulo
Maria das Graças Silva Reis trabalha como gerente de loja no bairro Bom Retiro, em São Paulo

"Meu salário é só de R$ 1.500. O que conta para a gente é a comissão, de 1% das vendas no meu caso. Em 2011, ganhava R$ 7.000 por mês. Em 2014, caí para até R$ 3.000", conta Maria das Graças Silva Reis, 37, que trabalha como gerente de loja no bairro Bom Retiro, em São Paulo.

O subgerente Cláudio Macedo, 42, trabalha numa loja de calçados de um shopping em São Paulo e afirma que teve queda de 20% na renda.

Formada em direito, Reis pensa investir na carreira jurídica se a situação não melhorar em 2015.

"Tenho amigos no direito que não conquistaram o que eu conquistei no comércio, mas já não consigo sobreviver com esse piso e essa comissão."

Editoria de arte/Folhapress
E O SALÁRIO, ÓReajuste médio na Grande SP em 2014 foi o menor desde 2010
E O SALÁRIO, ÓReajuste médio na Grande SP em 2014 foi o menor desde 2010
 

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