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09/04/2015 - 12h45

Cota não garante maior igualdade de sexo nos conselhos das empresas, aponta estudo

JENNIFER RANKIN
DO "GUARDIAN"

As cotas não são a estratégia mais eficiente para aumentar a influência das mulheres no mundo dos negócios, aponta estudo da Universidade de Cambridge. As mulheres têm maior probabilidade de conseguirem postos no alto escalão empresarial em países nos quais detenham, de maneira geral, maior poder econômico e político.

O poder econômico das mulheres, medido em termos de anos de educação e da porcentagem de mulheres no mercado de trabalho, é o fator mais importante para garantir maior igualdade entre os sexos na composição dos conselhos, de acordo com uma pesquisa entre 1.002 companhias em 41 países.

O poder político das mulheres, medido com base no número de legisladoras do país e nos direitos de licença-maternidade e paternidade, também mostra forte correlação com as oportunidades nos conselhos, constatou a pesquisa, que é considerada a maior desse tipo já realizada.

Eric Piermont/AFP
Marissa Mayer, 39, presidente do Yahoo!, é uma das ainda poucas mulheres em altos cargos de grandes empresas
Marissa Mayer, 39, presidente do Yahoo!, é uma das ainda poucas mulheres em altos cargos de grandes empresas

O relatório constatou que as cotas para mulheres em conselhos –adotadas em países como Noruega, Israel e Índia– desempenham papel limitado. Embora tenham ajudado a conduzir mulheres aos conselhos, não se traduziram em mandatos longos para elas, o que desperta a questão de um possível giro elevado de mulheres nesses postos.

Austrália, Noruega, Dinamarca e Finlândia, países em que as mulheres têm nível elevado de poder econômico, receberam boa classificação quanto ao número de mulheres que integram conselhos de empresas. O Reino Unido ficou no nono lugar do ranking, atrás da Holanda e adiante da França, com base nas médias de resultados para um período de 10 anos.

Sucheta Nadkarni, professora da escola de administração de empresas da Universidade de Cambridge e autora do relatório, disse que o poder econômico das mulheres amplia o número de mulheres nos conselhos e a duração de sua presença: "Se o mercado passa a conferir oportunidades mais iguais aos sexos, isso incentiva os conselhos a fazer o mesmo".

Helena Morrissey, presidente-executiva da Newton Investment Management, uma das patrocinadoras da pesquisa, argumentou que o estudo refutava a frequente crítica de que a presença de mulheres em conselhos é uma questão de elite e irrelevante para os trabalhadores que ficam fora dos circuitos de poder empresariais.

"O que esse estudo demonstra é que, para conduzir mais mulheres ao topo, para incluir mulheres nos conselhos, é preciso aumentar o poder daquelas que não fazem parte de conselhos... [Isso constitui] um círculo virtuoso", ela afirmou.

"[É costume ouvir que] estamos substituindo homens prósperos de meia-idade por mulheres prósperas de meia-idade nos conselhos, mas na verdade o que isso demonstra é que [a presença de mulheres nos conselhos] exerce impacto sobre todas as mulheres e a sociedade".

O estudo surge em meio ao debate no Reino Unido sobre a melhor maneira de elevar o número de mulheres em postos executivos, agora que a meta oficial para presença de mulheres nos conselhos parece a ponto de ser atingida. As companhias que integram o índice de ações FTSE-100 precisam recrutar 17 mulheres a mais para seus conselhos, até o final do ano, a fim de que a meta de 25% seja atingida.

Ao contrário da Noruega, o Reino Unido não recorreu a cotas compulsórias para a presença de mulheres em conselhos, optando por uma meta voluntária proposta pelo lorde Mervyn Davies, o defensor da igualdade entre os sexos no governo, e apoiada por Vince Cable, o secretário de Negócios.

"É evidente que temos um longo caminho a percorrer antes que exista verdadeira igualdade entre os sexos em todos os níveis", diz Morrissey, que em 2010 fundou o Clube 30% a fim de conduzir mais mulheres a postos de liderança.

Quando a marca dos 25% for ultrapassada, ela advoga deixar que as companhias "ajam por sua conta" a fim de promover estratégias de igualdade entre os sexos, em lugar de impor uma nova meta para a presença feminina com a ajuda do governo. "Eu não criaria o Clube 30% hoje", ela diz. "Existe hora e lugar para certas intervenções, e agora devemos garantir que cheguemos a um estágio mais evoluído".

"Obviamente isso não quer dizer que desistirei da luta, mas não é mais necessário persuadir os presidentes de conselhos sobre essa questão", ela acrescentou.

Nem todos compartilham de sua opinião. Acadêmicos do Centro Internacional Cranfield de Lideranças Femininas alertaram que a participação feminina em conselhos pode ficar estagnada abaixo do um terço se não houver metas mensuráveis. Morrissey rebate que "isso é um risco, mas não um grande risco".

Morrissey, que comanda um poderoso fundo de investimentos, disse que políticas como licença compartilhada para pais e mães podem contribuir para "uma grande reacomodação". E as empresas por enquanto mal arranharam a superfície de práticas mais flexíveis de trabalho, ainda vistas como "benefício aos trabalhadores" e não como forma de extrair o melhor de trabalhadores de ambos os sexos.

O trabalho flexível precisa ser redefinido como "forma de encorajar todo mundo a viver uma vida plena e fazer seu trabalho", e não como "algo relacionado à igualdade entre os sexos", ela disse.

No entanto, Morrissey admitiu estar desapontada pela baixa presença de mulheres entre os presidentes-executivos de grandes companhias do Reino Unido. Entre as empresas que integram o FTSE-100, apenas três mulheres ocupam esse posto. "Ainda temos a sensação de que as pessoas estão guardando lugar para seus amigos", ela disse.

p(tagline) Tradução de PAULO MIGLIACCI*

 

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