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19/04/2015 - 01h12

Dúvidas marcam a carreira dos líderes de empresas, diz estudo

FILIPE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

A figura do presidente de empresa autoritário, que sabe tudo o que precisa fazer e não busca conselhos de ninguém é cada vez mais rara entre as maiores companhias.

Em uma pesquisa, feita pela consultoria de recrutamento e liderança Heidrick & Struggles, 71% deles admitiram já ter tido dúvidas sobre decisões que tomaram.

O estudo foi conduzido em parceria com a Escola de Negócios Said (da Universidade de Oxford, do Reino Unido), a partir de entrevistas presenciais com mais de 150 CEOs.

Em vez de um problema, o resultado indica presidentes mais antenados com o momento e suas organizações. É possível usar o desconforto causado pelas dúvidas para fortalecer a colaboração dentro da empresa e chegar a melhores decisões, diz Torrey Foster, diretor para as Américas da consultoria.

Mas não se entenda por dúvida a dificuldade de decidir o que será feito. Enquanto a dúvida leva a ação cooperativa, a indecisão tem como consequência a percepção de um líder fraco pelo resto da companhia. E o caminho leva a paralisia, alerta Foster.

Segundo o consultor, cabe aos CEOs desenvolverem em suas empresas um sistema de alerta para mudanças.
O objetivo é conseguir interpretar o tamanho das transformações no cenário econômico, político, concorrencial e cultural que afetam a empresa e agir em tempo hábil. Isso se torna ainda mais urgente no mundo globalizado, tecnológico e veloz de hoje, diz.

Para isso, as informações devem chegar ao CEO por iniciativa da equipe. Se ele tiver de pedir atualizações a todo instante, tomará decisões atrasado, diz Foster.

Leia abaixo trechos da entrevista concedida por Foster à Folha

*

Folha - As dúvidas no cotidiano de CEOs são novas?
Torrey Foster - Acredito que não seja algo necessariamente novo. Sempre se soube que o trabalho dos CEOs era o trabalho mais solitário de todos, cercado de uma aura de autoridade, invencibilidade e de conhecimento sobre tudo o que está acontecendo. Mas ele, na verdade, nunca é imune a dúvidas.

Acredito que essa noção aparece com força em nossa pesquisa devido à velocidade com que as mudanças estão acontecendo atualmente. Novas tendências surgem e dinâmicas de diferentes setores mudam tão rapidamente que isso faz com que naturalmente surjam dúvidas sobre qual a melhor opção a ser tomada.

Por que considera a dúvida importante para a função de CEO?
Elas mostram um grau de humildade e humanidade deles. Identificamos em nossa pesquisa o modo como um CEO pode explorar esse fato para construir maior conectividade com sua organização e entender o que está acontecendo. É possível usar o desconforto causado pelas dúvidas para chegar a melhores decisões e a maior colaboração quando os outros membros da companhia conseguem enxergar o lado humano do CEO.

Profissionais que veem um CEO com dúvidas não enxergam um líder fraco?
Acredito que o risco da dúvida é levar à indecisão, e a indecisão indica fraqueza. Mas a liderança forte não está relacionada a um CEO que sabe tudo o que deve fazer para cada problema ou oportunidade. Quando você tem dúvidas, você tem de agir. Se elas levarem a indecisão, elas levam a paralisação da empresa.

O estudo afirma que em alguns momentos é preciso tomar decisões entre "certo" e "certo". Como decidir entre opções nesse caso?
A liderança no século 21 é exatamente isso. Existem muitas respostas certas. O fundamental é se manter alinhado com seus valores e a visão e a missão de sua organização. E você nunca estará livre dessa dinâmica. É preciso compreender diferentes caminhos e priorizar aqueles que podem levar ao sucesso para cada problema.

O que é a inteligência "Ripple" (de ondulação) que sugere ser necessário desenvolver?
Para lidar com a velocidade do mundo de hoje, o CEO precisa desenvolver um sistema de inteligência que o permita saber tudo o que está acontecendo, seja um problema de relações públicas, uma crise econômica ou um problema em mercados em que a empresa investe. Mas o CEO não pode desenvolver todo esse sistema sozinho. Ele precisa de insumos que o permitam priorizar e saber antes se a ondulação é apenas isso ou se ela vai se transformar em uma grande onda. Se o CEO tiver que pedir as informações o tempo todo, não as receberá na velocidade que precisa. Mas se elas forem enviadas antes, isso ajuda-o a lidar com as mudanças em seu mercado.

Como resolver a dificuldade dos CEOs para dividir seu tempo entre vida pessoal e trabalho?
A chave para o sucesso é reconhecer que você não poderá fazer tudo sozinho. É preciso usar o poder de sua rede, de sua organização. O trabalho de um CEO nunca será o de um trabalhador comum, com 40 horas por semana e o resto do tempo livre. Porém o fato de CEOs poderem mostrar que algum equilíbrio em sua vida é importante mostra para a organização que recarregar as baterias é fundamental, que nem todos precisam trabalhar todas as semanas do ano. E também mostram o lado humano do CEO.

 

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