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17/05/2015 - 02h30

Para presidente de ONG, profissionais querem começar carreira já no meio

FERNANDA PERRIN
DE SÃO PAULO

A situação da Petrobras seria diferente se os funcionários tivessem uma visão coletiva dos valores da empresa, diz Fernando Alves, 54, presidente da ONG Rede Cidadã desde 2002.

"Se eles não separassem suas vidas do trabalho, teriam impedido o saque da empresa". Para ele, as pessoas veem o trabalho -principalmente os operacionais- como uma fonte de consumo, dissociado do resto de suas vidas, lógica que prejudica a empresa e o funcionário.

Veja abaixo trechos da entrevista concedida por Alves à Folha por telefone.

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Folha - Por que você diz que houve uma dissociação entre vida e trabalho?
Fernando Alves - A relação da juventude com o trabalho se dissociou na medida em que as empresas investiram pouco na base da pirâmide em termos de formação profissional. A juventude passou a ter uma relação muito imediatista entre trabalhar e ganhar dinheiro, o que foi incentivado pelo consumismo. A velocidade das coisas empurrou tudo para uma relação de usufruto imediato do trabalho, e não de uma história de vida.
Tudo passou a ser rápido, as coisas são consumidas e descartadas, inclusive o trabalho. Esse foi o processo de dissociação. Isso resultou na perda dos valores do trabalho, que deixou de ter valor para a vida. Você não pode dizer 'vou ali trabalhar e depois volto a viver', se você vai trabalhar você leva a vida junto. Não se faz carreira profissional, se faz uma carreira de vida.

Divulgação
Fernando Alves é diretor-executivo da Rede Cidadã
Fernando Alves é diretor-executivo da Rede Cidadã

Essa dissociação não seria reflexo de valores estruturantes da sociedade, mais que uma questão de visão individual?
Hoje há um efeito já estruturante que foi colocado pela rotatividade. A velocidade com que as pessoas são substituídas está tornando extremamente caro para as empresas não investir na formação de valores corporativos [que ajudem a fixar o funcionário].

Além disso, houve também um grande crescimento de acesso a informação, e com isso as pessoas ganham consciência e percebem que o trabalho como fonte para consumo não faz sentido.

Trabalhos operacionais, como operador de telemarketing, são em geral precarizados. Valorizá-los não seria torná-los de melhor qualidade para quem os desempenha?
Os trabalhos operacionais foram desvalorizados, retirou-se da base da pirâmide do mundo corporativo todo um saber que é enobrecedor. O trabalho de telemarketing, por exemplo, é um dos mais rejeitados, mas é um fenômeno de aprendizado enorme: você aprende sobre psicologia humana, sobre linguagem, sobre comunicações claras e assertivas.

Ao se depreciar a base da pirâmide, joga-se fora toda uma oportunidade de aprendizado. Eu acho que trabalho operacional é muito terapêutico, residem nele fatores que se aprendem e que valem para o resto da vida: saber se posicionar com humildade, dar e receber feedback. Nós precisamos revalorizá-los.

Hoje as pessoas querem começar a carreira no meio do caminho, e são inclusive desconfiadas [de quem compõe] a base do negócio corporativo, sendo que aí reside o saber que gestores precisam ter domínio. Gestores que não passaram pela base da pirâmide perdem a visão estratégica. do negócio.

Como revalorizar o trabalho?
Precisamos "ressignificar" o trabalho, trabalhar para as pessoas, mostrar que o trabalho não é separado da vida. A pessoa não pode ser ética na vida e não no trabalho. Se você valoriza seu patrimônio pessoal e não o da empresa, você está destruindo a própria carreira. As pessoas precisam entender de novo que todo tempo despendido no trabalho é tempo de existência que está sendo consumido. Um dia de trabalho sem compromisso, sem dedicação, é um dia de vida perdido. No passado, as pessoas tinham mais respeito pelas empresas, acreditavam que estavam construindo uma relação de longo prazo.

 

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