Profissionais ganham até R$ 12 mil por mês celebrando casamentos
ANA MAGALHÃES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Eles podem não ter autoridade legal ou religiosa para dizer "eu vos declaro marido e mulher", mas são cada vez mais buscados para celebrarem casamentos por oferecerem um ritual íntimo e personalizado, com discursos emocionantes e criativos.
São atrizes, psicólogas ou publicitárias que normalmente descobrem sua vocação 'casamenteira' depois de comandar o ritual para amigos e parentes e se encantam com a emoção do altar. Elas cobram entre R$ 3,5 mil e R$ 6 mil e, depois de contratadas, fazem uma série de entrevistas com o casal para personalizar o discurso e garantir que tudo saia exatamente como sonham os noivos.
"O celebrante não é um mestre de cerimônias, não é um palestrante, não é um músico e não é leitor. É algo mais complexo", avalia Fredh Hoss, 44, teólogo e celebrante profissional. Foi pensando nesta complexidade que sua empresa, a HV7 Cerimonial e Treinamento criou, em 2011, um curso de formação de celebrantes.
São dois cursos por ano, normalmente oferecidos em junho e em novembro em São Paulo, em que os alunos aprendem técnicas de redação, oratória, comportamento mercadológico, negócios, formalização e como se inserir no mercado para ser bem sucedido.
Paula Giolito/Folhapress | ||
Ilana Reznik era publicitária e largou tudo para virar celebrante de casamentos |
"Tenho procura por ex-pastores ou ex-padres, mas não chega a 5%. O restante são pessoas que gostam de falar em público ou que já trabalham no mercado de casamentos". Hoss, que possui a habilitação para celebrar um casamento religioso com efeito civil, afirma que um celebrante profissional pode faturar até R$ 12 mil por mês –independentemente de ter a habilitação ou não.
É aproximadamente esse valor que a publicitária carioca Ilana Reznik, 30, fatura por mês com a celebração de casamentos. Em 2010, quando duas amigas suas iam se casar, ela se ofereceu para ser a celebrante. Preparou um texto, comandou o ritual e se encantou. "Foi uma experiência transformadora, e pensei que queria fazer isso da minha vida".
Em 2012, criou o site Casamento Colorido e, um ano depois, pediu demissão da agência de publicidade onde trabalhava e começou a se dedicar exclusivamente a celebrações. Hoje, ela realiza cerca de 36 casamentos por ano, cobrando a partir de R$ 4 mil por evento.
Quando começou, acreditava que os casais homo afetivos seriam seu principal público. Mas não. Grande parte de suas celebrações são de casais heterossexuais que buscam um diferencial. "Eles querem uma cerimônia mais íntima. As noivas cuidam de todos os detalhes para o dia do casamento, e não dá para a cerimonia não ser do jeito que elas querem", diz.
Ilana sempre conta a história de amor do casal e, caso os noivos desejem, pode haver pinceladas religiosas no texto. "A minha cerimônia não é religiosa - mas posso pensar em inserir elementos que sejam importantes para os noivos". Antes do grande dia, ela entrevista os noivos, amigos próximos e parentes. E, no altar, sempre se emociona.
Como é um trabalho muito personalizado, Ilana não acredita ser possível contratar funcionários para fazerem o que ela faz -por isso, a Casamento Colorido não tem planos de uma grande expansão para os próximos anos. Ela vem pensando em contratar uma assistente para responder e-mails e organizar os pagamentos. Mas acredita não ser possível celebrar mais de 40 casamentos anuais.
EM ALTA
O Brasil celebra mais de um milhão de casamentos por ano -o equivalente a quase três mil celebrações por dia (ou dois casamentos por segundo), de acordo com dados do IBGE. Com tanto casamento, há uma corrida pela diferenciação -alguns apostam em drones para levar as alianças, e outros preferem contratar celebrantes profissionais para garantir emoção no momento mais importante do evento.
"A tendência é de que as cerimônias deixem o tom institucional, fugindo um pouco da abordagem religiosa, para algo mais íntimo, moderno e em uma linha mais filosófica. E os celebrantes mais íntimos já são parte dessa nova realidade dentro dos eventos", avalia Ricardo Dias, presidente da Abrafesta (Associação Brasileira de Eventos Sociais).
Para quem pensa em atuar neste segmento, as perspectivas são positivas, mesmo em tempos não tão otimistas da economia. De acordo com a Abrafesta, o segmento de festas sociais e cerimônias movimentou R$ 16,8 bilhões no ano passado, aumento de 6,3% com relação a 2013. Para 2015, a associação prevê crescimento similar, de 6%.
Apesar de a entidade não mensurar exclusivamente o mercado de casamentos, Ricardo Dias afirma que são as celebrações de amor as principais responsáveis por este faturamento. E, que, em tempos econômicos não tão promissores, as pessoas continuam se casando, mas com cerimônias um pouco mais "enxutas".
Karime Xavier/Folhapress | ||
Marina Bastos é atriz e contadora de histórias e, desde 2011, celebra casamentos |
Os casamentos apareceram na vida da publicitária e atriz Marina Bastos, 35, como uma sugestão. "Eu era contadora de histórias para crianças e, um dia, uma mãe me viu contando histórias e sugeriu que eu contasse histórias de amor em casamentos". Marina, que adorava histórias de amor, decidiu investir nessa possibilidade. Fez um curso de celebrante (o mesmo ministrado por Fredh Hoss) e começou, aos poucos, a ser contratada para comandar o ritual no altar.
Antes do evento, ela faz entrevista com os noivos -primeiro juntos, e depois separados-e, em seus textos sobre o casal, Marina tenta sempre colocar elementos engraçados, para dar leveza e 'não borrar a maquiagem'. "Acho que se a celebração for emocionante demais, corre o risco de ficar um pouco triste".
"Uma vez celebrei o casamento de um casal, ela era nutricionista e ele tabelião. Percebi que a união deles estava muito ligada à comida, e eu fiz o texto como se fosse uma receita. Para um casal de jornalistas, escrevi um texto como se fosse uma reportagem", lembra. Mesmo com as brincadeiras criativas, há sempre convidados que se emocionam e choram.
"O casamento que faço é bem customizado, coloco o que os noivos querem. É um trabalho artesanal feito com muito amor". A sua celebração dura cerca de meia hora e ela cobra R$ 3,5 mil para casamentos em São Paulo.
CERIMÔNIA CELTA
A psicanalista e ritualista Beatriz Lemos de Moura Leite, 40, estudou as tradições celtas para o seu próprio casamento e terminou por criar um ritual contemporâneo –e a fazer disso a sua principal atividade. Ela celebra casamentos há 12 anos, e, recentemente, a procura é tão grande que contratou e treinou três funcionários para comandarem o ritual celta. Sua empresa, hoje, celebra cerca de 80 casamentos por ano, normalmente nos finais de semanas.
Ela cobra entre R$ 3,5 mil e R$ 6 mil por celebração, dependendo do local do ritual e da necessidade de contratar tradutores intérpretes, no caso de serem cerimônias no exterior. "Como diz o meu pai, eu inventei uma profissão", brinca a psicanalista, que é descendente celta.
A antiga bênção celta passa pelos quatro elementos da natureza, representados no altar por meio de um prato de sal grosso (terra), água, incenso (ar) e fogo. Cada um desses elementos representa o que se deseja para o casal -as chamas, por exemplo, são para que o amor se mantenha aceso.
As pessoas próximas do casal participam de forma ativa -há um momento no ritual em que os padrinhos e os pais abençoam os noivos. "Falamos de Deus em um sentido amplo", explica Beatriz, já que o ritual está baseado na cultura celta, e não na religião celta. "É uma cerimônia mais filosófica do que religiosa, que tem a ideia de celebrar o amor e unir a família", diz. Ela já celebrou união de casais homo-afetivos e de ateus.
CAMINHO PARA O ALTAR
Veja dicas para se tornar um cerimonialista:
- Não é necessário ter uma formação específica, mas é importante ter técnicas básicas de oratória
- É recomendável abrir uma empresa para fazer o contrato com os noivos
- O melhor caminho de divulgação é ter um site e participar de feiras e eventos
- Para poder celebrar um casamento com efeito civil, é preciso comprovar, em cartório, que o celebrante possui vinculação com a igreja
DICA PARA OS NOIVOS
- Se quiser uma cerimônia com efeito civil, exija do profissional o credenciamento como ministro de celebração
Fontes: José Roberto Moreira Filho, membro da diretoria do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família) e HV7 Cerimonial
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