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14/06/2015 - 02h00

Professor brasileiro nos EUA lavou pratos por anos antes do pós-doutorado

FERNANDO SILVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nascido em uma favela de Belo Horizonte, André Luiz Souza trabalhava em dois empregos enquanto fazia faculdade.

Quase foi expulso da universidade por faltar. Aprendeu a falar inglês e fez um intercâmbio no Texas, onde, anos depois, faria um doutorado. Para se sustentar lá, lavava louça em um restaurante.

Hoje, é professor da Universidade do Alabama e desenvolve projetos de psicologia cognitiva para o Google.

Leia o depoimento de Souza para a Folha:

Sou filho de um motorista de ônibus e de uma manicure. Nascido e criado na favela do Alto Vera Cruz, em Belo Horizonte (MG).

Na infância, vi muitas pessoas da comunidade irem aos EUA de ilegalmente para trabalhar, e juntar dinheiro. Isso me fez sonhar em fazer o mesmo que eles e influenciou minha escolha profissional.

Prestei o vestibular para letras na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), em 1999, porque adorava a ideia de saber falar inglês.

Arquivo Pessoal
André Luiz Souza, professor de psicologia cognitiva, em sua sala na Universidade do Alabama, nos EUA
André Luiz Souza, professor de psicologia cognitiva, em sua sala na Universidade do Alabama, nos EUA

Passei na faculdade e me apaixonei por literatura -minhas autoras preferidas eram Virginia Woolf (1882-1941) e Sojourner Truth (1797-1883).

Na mesma época, arranjei estágio na Telemig Celular, das 7h às 18h. Para ganhar um dinheiro extra, virava a noite lá programando celulares. Às vezes, tomava remédios para ficar acordado.

Acabei deixando de ir a algumas aulas importantes, perdi o semestre e recebi uma carta da universidade informando que eu havia perdido a vaga.

Recorri com uma carta explicando os motivos das faltas e fui aceito de volta. Tenho a carta que a universidade mandou guardada na casa dos meus pais até hoje, pois foi como se tivesse passado no vestibular de novo.

Em 2000, retornei ao campus e, um tempo depois, me matriculei no cursinho de inglês. A proficiência no idioma abriu as portas para um intercâmbio na Universidade do Texas, em 2003.

Não foi fácil. Para provar que tinha grana para me bancar, recorri a seis amigos da UFMG, que se juntaram e depositaram uma quantia em minha conta. Fui ao banco, tirei o extrato com o saldo de R$ 6.000 e o anexei ao pedido de visto.

Assim que me liberaram, devolvi o dinheiro para todos e desembarquei nos EUA com meus US$ 25.

Lá no Texas, fiquei na casa de um aluno norte-americano que faria intercâmbio no departamento de linguística da UFMG. Por intermédio de uma brasileira que conheci em Austin, fui apresentado ao chef Parind Vora, dono do restaurante Jezebel. Assim, fiz algum dinheiro lavando pratos lá por três meses.

Porém, ao fim do semestre, tive de voltar ao Brasil porque descobriram que trabalhava fora do campus (isso não era permitido a um aluno intercambista). Como ajudava a pesquisadora Catharine Echols em seu laboratório, me ofereci para coletar dados de um estudo de psicologia aqui no Brasil.

Passei a me interessar mais por pesquisa e mantive a ligação com os EUA. Fiz um bom trabalho, e fui convidado para fazer um doutorado na Universidade do Texas.

Consegui uma bolsa de US$ 1.100 do governo norte-americano, mas precisava de mais dinheiro para me manter. Voltei a lavar pratos no Jezebel, por quase dois anos -meu visto só permitia estudar e trabalhar na faculdade.

Desde 2014, sou professor assistente na Universidade do Alabamae já obtive pós-doutorado pela Universidade de Concórdia, no Canadá, e em Oxford, na Inglaterra. O grande barato da área que estudo, a psicologia cognitiva, é o fato de conseguir entender a razão para as pessoas agirem da forma como agem.

Já recebi propostas para trabalhar na empresa Dropbox e nas universidades de Amsterdã, na Holanda, e de Coventry, na Inglaterra, mas não quero sair do sul dos Estados Unidos.

Gosto da faculdade e acabamos de criar um centro de pesquisa chamado Cyber Institute, em que desenvolvo estudos na área de tecnologia para o Google. Faço testes sobre como fatores cognitivos influenciam na utilização de um software ou de um aplicativo. Na primeira fase, recebemos um financiamento de US$ 250 mil.

 

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