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14/06/2015 - 01h00

Por saber ler mapas e analisar dados, geógrafos vão trabalhar com varejo

ALINE OLIVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A quantidade cada vez maior de dados disponíveis e a necessidade de usá-los para fundamentar decisões de negócios têm levado varejistas a contratar geógrafos para trabalhar em seus setores de marketing.

"A linha de raciocínio usada para descobrir em qual lugar vive uma espécie de animal em extinção é a mesma aplicada para saber onde está meu cliente", explica o geógrafo Djalma Shimada, 30, gerente de planejamento do frigorífico JBS.

Graduado na Universidade Federal do Paraná, Shimada chegou a trabalhar para uma hidrelétrica estudando o impacto ambiental de determinadas ações, mas, quando percebeu a possibilidade de atuar em áreas do marketing, mudou de carreira. "Há cinco anos, eu não imaginava estar nesse segmento", conta.

Adriano Vizoni/Folhapress
Daniele Kono, geógrafa recrutada pelo mercado de varejo
Daniele Kono, geógrafa recrutada pelo mercado de varejo

As principais áreas que abrigam os geógrafos são inteligência de mercado e geomarketing (campo do conhecimento capaz de relacionar estratégias de negócio e território), em que habilidades como ler mapas, interpretar dados e cruzar informações relevantes são essenciais.

"Em geomarketing, o espaço é importante. Um restaurante ou um supermercado novos estarão inseridos em um espaço e esse lugar tem um 'comportamento'. Por isso, preciso de profissionais com capacidade de pensar espacialmente, ler pesquisas e dominar softwares geográficos", diz Pedro Figoli, presidente da Geofusion, empresa de inteligência geográfica de mercado.

Entre as atribuições mais comuns dos geógrafos que trabalham com marketing (veja quadro ao lado) está, por exemplo, ajudar a determinar qual é o melhor lugar para instalar uma nova loja ou realizar uma campanha publicitária.

"Se precisam entender o significado de um lugar, o motivo de alguma coisa estar em um ponto específico, a resposta vem da geografia. Temos a capacidade de olhar para uma determinada paisagem e enxergar as oportunidades", explica o professor de geografia da PUC-SP, Gustavo de Souza.

MAIS COMPETIÇÃO

Para especialistas ouvidos pela Folha, o aumento da demanda por profissionais da área deve-se à crescente especialização do varejo.

"Houve uma maior profissionalização do setor nos últimos dez anos. Novas fusões e a influência de empresas internacionais tornaram o mercado mais acirrado", afirma Figoli.

"Assim, saber onde está o cliente, o concorrente e o que dizem os lugares nos quais eles estão inseridos são informações preciosas", completa.

Apesar do crescimento, o varejo não é uma carreira óbvia para formandos.

"Na USP, não tive um ensino voltado para o mercado. Conheci a área no meu primeiro estágio", explica a gerente de informações estratégicas da Geofusion, Daniele Kono, 29, graduada em 2008.

A maioria de seus colegas de sala, conta, "foi dar aula, trabalhar com pesquisa ou fazer mestrado e doutorado".

Para o professor da PUC, os cursos de graduação devem oferecer ferramentas para os alunos que querem seguir na área.

"Decidimos oferecer disciplinas técnicas porque percebemos que, além da formação crítica, os alunos precisam aprender a fazer projetos tanto no setor público como no privado", afirma.

 

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