Executiva desistiu de carreira pela família e hoje é dona de uma pousada
FERNANDO SILVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Maria Fernanda La Regina fez carreira como executiva em grandes bancos, tais quais Itaú e HSBC. Aos 40 anos, para passar mais tempo com a família, pediu demissão e mudou-se para Trancoso, na Bahia. Quase entrou em depressão com a calmaria da nova rotina, até que decidiu fundar uma pousada e um restaurante, que administra até hoje.
Letícia Moreira/Folhapress | ||
Maria Fernanda La Regina, em 2011, quando era diretora de marketing do banco HSBC |
Leia o depoimento de Maria Fernanda La Regina para a Folha:
Trabalho desde que ingressei na faculdade de administração de empresas na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica). Fui trainee na Philips e na American Express, e, graças a uma ex-chefe, entrei na Credicard, onde fiquei quatro anos. Quando concluí o curso, em 1996, já era gerente de produtos.
Depois segui para a BCP Telecomunicações, na época da privatização, e cheguei à Multibrás, atual Whirlpool.
Lá, era responsável pelos anúncios da Brastemp em seus tempos áureos, com Fernando Meirelles fazendo as propagandas. Cuidava da comunicação e respondia pelo faturamento da marca.
Então, recebi uma proposta do Itaú. Assim que cheguei, em 2004, assumi a superintendência de marketing. Passei seis anos lá, gerenciando a comunicação institucional do Itaú e uma das maiores verbas do país para o setor. Foi um dos períodos mais gratificantes de minha carreira.
Mas, querendo ter experiência internacional, aceitei um convite do HSBC. Acumulei os cargos de diretora de marketing da instituição no Brasil e na América Latina.
Viajava bastante na época, pois eu tinha equipe em sete países, e precisava prestar contas ao chefe global da área, em Londres. Trabalhava de dez a 12 horas por dia e só conseguia brincar com meus dois filhos à noite.
Sempre fui muito disciplinada. Vivia estressada, era ansiosa. Agia como se a empresa fosse fechar caso eu não entregasse o que me pediram.
Ao completar 40 anos, resolvi avaliar a vida que levava. Diante da rotina, comecei a sentir outras necessidades e decidi tomar novos rumos enquanto tinha disposição.
Com a sensação de ter completado um ciclo, passei a me preparar emocionalmente para a mudança até que pedi demissão. A vice-presidente de RH não acreditava. "Você não está fazendo isso", disse.
Chegaram a propor que eu tirasse uma licença não remunerada de seis meses para descansar e retornasse ao trabalho depois. Nem cogitei a possibilidade e saí do banco em maio de 2012.
Parti para minha casa na Bahia, voltei renovada a São Paulo, e aproveitei as férias de julho com as crianças.
Em agosto, senti o baque. Antes, a agenda estava cheia das 6h às 22h. De repente, não sabia mais o que fazer. Só dar tchauzinho para os filhos na escola de natação não era meu perfil.
Eu sofri. Minha vontade era colocar o terno, pegar o carro e ir para o banco. Havia planejado a demissão, mas não o que fazer depois, e isso me doeu muito.
Às vezes, acordava à noite, suando frio e pensando "eu estudei tanto, trabalhei tanto e joguei tudo fora". Não tinha ânimo para sair de casa. Quase adoeci.
Três meses após a saída do HSBC, tentava me reencontrar na Bahia quando vi um lugar abandonado. Na hora, falei "vou alugar esse espaço e reformá-lo".
Pintei parede, varri chão e montei toda uma estratégia de marketing para lançar, em outubro do ano passado, a pousada Brisas do Espelho, em Trancoso (BA). Ela existe até hoje e me salvou.
Comprei uma pousada vizinha para ampliar a capacidade -de sete quartos para 19. Fica pronto no fim do ano.
Porém, se tudo caminhava bem na Bahia, ainda não tinha o que fazer em São Paulo. Em julho de 2013, surgiu uma oportunidade e adquiri 50% do restaurante Figo, na Vila Nova Conceição (zona sul de São Paulo).
Hoje, passo três semanas do mês em São Paulo e uma em Trancoso. Acompanho os negócios de perto, mas trabalho de casa quando quero.
Meus filhos, um menino de 12 anos e uma menina de sete, têm a percepção de que estou ali com eles. Sem contar que posso ir a pé para o restaurante. Sinto-me começando uma carreira nova, como empresária.
Foram os 20 anos de mundo corporativo que me deram experiência e a habilidade de gerir o negócio. Foi uma grande faculdade, mas a mudança me fez ganhar mais tempo com a família e descobrir outros prazeres. Existe vida fora da corporação.
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