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16/08/2015 - 02h00

Cresce busca por profissional técnico, mas interesse na carreira é baixo

FERNANDA PERRIN
DE SÃO PAULO

A demanda por profissionais com formação técnica, principalmente pelas indústrias, vem aumentando nos últimos anos.

Levantamento da consultoria de recrutamento Page Personnel mostrou que houve um aumento de 15% na procura pelo perfil no primeiro quadrimestre do ano em comparação ao mesmo período do ano passado.

Segundo Daniela Guimarães, gerente da consultoria, empresas que antes terceirizavam o serviço de manutenção, requisitado apenas diante de problemas, perceberam que é mais vantajoso ter técnicos em tempo integral.

"Uma parada de duas ou três horas na linha de produção tem um impacto muito grande na companhia", diz.

A explicação é corroborada por dados do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), segundo os quais foram abertas 7.000 vagas para técnicos das áreas de manutenção e reparos em 2014 -mesmo ano em que a indústria cortou 330 mil postos.

Apesar da demanda em alta, apenas 8,4% dos estudantes do ensino médio cursam o técnico, seja integrado ou concomitante ao regular, segundo Rafael Lucchesi, diretor geral do Senai. O número baixo é atribuído tanto à falta de divulgação da modalidade entre os estudantes quanto ao estigma de educação instrumental para jovens de baixa renda.

Para contornar o problema, a entidade trouxe ao Brasil a WorldSkills, competição mundial de profissões técnicas, realizada em São Paulo entre os dias 11 e 16 de agosto. A ideia é tornar o ensino profissionalizante mais conhecido e mostrar que ele é uma opção para qualquer perfil de pessoa que queira uma formação prática com boa remuneração.

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Até os 15 anos, Gustavo Oliveira da Silva, 21, não sabia que era possível fazer um curso técnico de graça. Foi uma professora do ensino fundamental que lhe explicou que ele poderia estudar no Colégio Técnico de Campinas, ligado à Unicamp.

Ele acabou fazendo dois cursos técnicos (um em eletroeletrônica e outro em mecatrônica) e, por meio da Bosch, onde trabalha desde os 16 anos, também conseguiu fazer um curso de aprendizagem industrial no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

Eduardo Knapp/Folhapress
Gustavo Oliveira da Silva na escola técnica da Bosch, em Campinas
Gustavo Oliveira da Silva na escola técnica da Bosch, em Campinas

Seu plano atual é estudar engenharia.

A história de Silva é semelhante à de muitos dos brasileiros da delegação do país na WorldSkills, competição de profissões técnicas que acontece entre terça (11) e este domingo, em São Paulo.

São jovens que buscam o técnico para complementar o currículo e ter uma formação prática que permita uma inserção mais rápida no mercado e em melhores condições do que aqueles com apenas ensino médio regular.

Alguns nunca trabalharam e, em sua maioria, pretendem fazer um bacharelado.

Paula Gomes, 34, é uma das funcionárias do Senai responsáveis por acompanhar a equipe brasileira e já foi instrutora da escola. Para ela, o ensino técnico hoje é mais uma opção para o jovem, e não uma falta dela, como foi seu caso.

Aos 15 anos, Gomes se matriculou no curso de aprendizagem de mecânica de automóveis no Senai porque era o único que não exigia taxa de inscrição.

Ela gostou da área e fez um curso técnico em automobilística. Com a especialização, conseguiu um contrato de menor aprendiz em uma indústria e, aos 20 anos, foi convidada pelo Senai para ser trainee.

Aprendendo na prática

MERCADO

Para Rafael Lucchesi, diretor geral do Senai, aprender uma profissão no ensino médio é vantajoso porque, ao dar uma dimensão prática à formação, amplia o leque de opções: o jovem pode procurar um emprego, seguir com os estudos em uma graduação ou fazer as duas coisas, aproveitando o salário para financiar a faculdade.

Outra motivação para optar pelo técnico é conhecer melhor uma área de interesse antes da graduação. Esse foi o caso de Ana Clara Pereira, 16, que faz o curso técnico em comércio exterior na Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado).

Ela diz que, apesar da carga de estudos maior, a formação valeu a pena para dar um diferencial ao seu currículo.

Daniela Guimarães, gerente da consultoria de recrutamento Page Personnel, diz que a demanda por profissionais técnicos na área de humanidades é menor do que aquela por formações voltadas à indústria. "Quando você pensa em um cargo administrativo, há uma necessidade maior de uma graduação."

Mesmo entre os técnicos nas "áreas duras", como mecatrônica, é raro encontrar alguém com apenas essa formação em cargos de gestão. "Quem tem graduação se destaca", diz Guimarães.

Segundo Caroline Lourenço, gerente de recrutamento da Siemens, a falta de diploma superior não é uma restrição para o crescimento, mas faz diferença porque a posição exige outras habilidades, não ensinadas em um técnico.

ENSINO SUPERIOR

O ensino técnico de nível superior ainda é tímido, mas cresce. Entre 2009 e 2012, as matrículas aumentaram 38,8%, segundo o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).

"O perfil do tecnólogo é muito mais de gestor, não só operacional", diz Mariluci Martino, responsável pelas faculdades de tecnologia (Fatecs) do Centro Paula Souza. Vinculadas ao governo do Estado de São Paulo, os cursos oferecidos são gratuitos.

Essa foi uma das razões para Douglas Borges, 20, optar pelo curso de automação industrial na Fatec de Osasco.

Outro fator que pesou foi a versatilidade da formação, que pode ser empregada em diferentes áreas de uma indústria. "Além do mercado amplo, muita gente trabalha com isso mas não tem a qualificação, não tem um diploma", afirma.

Quem busca uma graduação tecnológica prioriza o aprendizado prático e rápido (os cursos duram entre dois e três anos). Karen Frazzato, 21, diz que nunca gostou de ficar "enfiada em livros", por isso a escolha pelo curso de mecatrônica industrial. Em setembro, ela vai fazer intercâmbio nos Estados Unidos com bolsa do programa Ciência Sem Fronteiras.

Karime Xavier/Folhapress
Karen Frazzolato, estudante que optou por ensino técnico
Karen Frazzolato, estudante que optou por ensino técnico

Ela não se arrepende da escolha, mas pensa em fazer um bacharelado quando concluir o curso. "Se eu pudesse, já partiria para o mestrado, mas como existe um preconceito do mercado de trabalho, a gente fica com um pé atrás."

"Minha mãe falou que era besteira, que ninguém achava que isso era faculdade, e existe empresa com esse preconceito". diz Nicolaos Meneguelli, 20, aluno do curso de tecnologia de gestão em TI da Universidade Anhembi Morumbi. "Mas acho que esses cursos são o futuro, por serem focados no mercado."

Para Oscar Hipólito, reitor da Anhembi, a resistência ao tecnólogo vem diminuindo porque a formação preenche uma lacuna no mercado entre o profissional com ensino médio, pouco qualificado, e aquele com bacharelado, formação pouco prática.

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