Recessão afeta mais universitários negros do que os brancos, diz estudo
PATRICIA COHEN
DO "NEW YORK TIMES"
Mesmo com a disparada no custo do ensino superior, as recompensas oferecidas por um diploma universitário continuam fortes, elevando a renda ao longo da vida e protegendo muitas das pessoas formadas contra os piores efeitos das desacelerações econômicas.
Mas um novo estudo constatou que os negros e hispânicos portadores de diplomas universitários enfrentam sérias rachaduras nessa proteção, e sofrem tanto com crises de curto prazo quanto diante de desafios mais duradouros.
"A tendência de longo prazo é chocantemente clara", disse William Emmons, economista do Federal Reserve Bank de St. Louis e um dos autores do relatório. "Os diplomados universitários brancos e asiáticos se saem muito melhor do que as pessoas sem diploma nas mesmas categorias étnicas, enquanto os diplomados universitários negros e hispânicos se saem muito pior do que os brancos e asiáticos, proporcionalmente".
Jonathan Ernst/Reuters | ||
Alunos da Universidade George Washington, nos EUA, fazem cerimônia de graduação |
Um diploma universitário é reconhecido há muito como um grande equalizador, um caminho para ajudar as minorias a superar a disparidade econômica diante dos brancos. Mas o relatório traz questões perturbadoras quanto à capacidade da educação universitária para reduzir a disparidade de riqueza entre as raças e etnias.
"O ensino superior, sozinho, não nivelará o jogo", conclui o relatório.
Os economistas enfatizam que os negros e hispânicos com diplomas universitários em geral ganham significativamente mais e estão em melhor posição para acumular riqueza do que os negros e hispânicos que não têm diplomas.
A renda familiar média das famílias de pessoas portadoras de diplomas universitários é pelo menos duas vezes mais alta, e seu patrimônio familiar médio (que inclui recursos como casas, carros e contas de aposentadoria) é entre 350% e 400% mais alto que o de pessoas sem diplomas.
Mas embora esses diplomados contem com mais ativos, eles sofreram desproporcionalmente durante períodos de problemas financeiros.
De 1992 a 2013, o patrimônio líquido médio dos negros norte-americanos que concluíram cursos superiores caiu em quase 56% (considerada a inflação). Em comparação, o patrimônio líquido médio dos brancos portadores de diplomas universitários subiu em 86% no mesmo período, que incluiu três recessões - entre as quais a severa desaceleração entre 2007 e 2009, com seu efeito devastador sobre os preços das casas em muitas regiões do país. Os asiáticos dotados de diplomas universitários se saíram ainda melhor, com avanço de quase 90% em seu patrimônio.
Para compreender o quanto esses resultados são decepcionantes, basta observar o efeito que grupos desprovidos de diplomas universitários sofreram no mesmo período. Os negros desprovidos de diplomas, em grande parte porque tinham muito menos a perder, registraram queda de patrimônio de 3,8%. Os brancos desprovidos de diplomas universitários tiveram quase 11% de queda de patrimônio. Já os asiáticos desprovidos de diplomas perderam mais de 44% de seu patrimônio no período.
Não existe resposta simples para explicar por que um diploma universitário não ajuda a salvaguardar os ativos de muitas famílias minoritárias. A discriminação persistente e o tipo de treinamento e emprego que as minorias obtêm influenciam o resultado. Outro fator central são as pesadas dívidas que muitos negros e hispânicos acumulam para conquistar o status de classe média.
Uma lição, de acordo com os economistas do Fed de St. Louis, é que tomar dinheiro demais emprestado para colocar em prática o sonho americano muitas vezes solapa qualquer esperança de sustentar essa posição mais tarde.
Essa ideia se aplica igualmente a dívida estudantil ou a dívida habitacional excessiva, eles dizem.
"A maneira pela qual você financia um ativo é tão importante quanto o ativo em si", disse Ray Boshara, diretor do Centro pela Estabilidade Financeira do Domicílio, no Fed de St. Louis.
Uma redução substancial na disparidade de patrimônio entre as raças e etnias, sugerem Boshara e os autores do estudo, requereria mudanças de política pública a fim de expandir a disponibilidade de um ensino superior de qualidade sem forçar os universitários a contrair dívidas desproporcionais.
Embora a recessão tenha causado quedas especialmente fortes de patrimônio para os hispânicos e negros, o estudo afirma que o problema é arraigado e muito mais persistente. "A recente crise exacerbou essas tendências de longo prazo, mas não causou sozinha as tendências de longo prazo que observamos", disse Emmons.
Mesmo nos bons momentos econômicos, os negros e hispânicos costumam ficar para trás se comparados aos brancos. O índice de desemprego entre os negros, por exemplo, costuma ser duas vezes mais alto que o desemprego branco, mesmo entre as pessoas portadoras de diplomas universitários.
Discriminação desse tipo e outros fatores contribuem para a persistente e substancial disparidade de salário entre os brancos e as minorias. Os negros, por exemplo, têm representação desproporcional nos quadros do funcionalismo público - um setor que encolheu nos últimos anos e oferece menos oportunidade de grandes avanços salariais. Os negros têm menos diplomas avançados, e no geral os conquistam em disciplinas nas quais os salários são menores, ou em instituições de menor reputação.
"Os negros e latinos de todos os níveis educacionais, o que inclui os dotados de diplomas universitários e avançados, ganham menos que os brancos, o que significa uma renda inferior ao longo de sua vida de trabalho", e menor capacidade de poupar, disse John Schmitt, diretor de pesquisa do Centro Washington para o Crescimento Equitativo, que estudou os dados do relatório antes de sua divulgação.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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