Para diretor de escola espanhola, líderes devem delegar tomada de decisões

Tomar uma decisão acertada de negócio exige trabalho em equipe, defende o alemão Franz Heukamp, diretor dos programas de MBA da renomada escola de negócios espanhola Iese.

Para Heukamp, o volume de informações sem precedentes disponível, fruto das mudanças do mundo digital, tornou obsoleto o modelo de decisão centrada no chefe.

	Divulgação
	Franz Heukamp, diretor do MBA da escola de negócios espanhola Iese

Em recente visita ao Brasil, ele falou à Folha sobre a evolução do papel do líder e o que as empresas procuram nos jovens executivos.

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Folha- Como evoluiu o papel do líder nos últimos anos?

Franz Heukamp - O mundo muda, as circunstâncias mudam e, portanto, o modo de administrar uma empresa também deve mudar. Estamos em um mundo dominado pelo efeito da mudança digital, que leva, sobretudo, a que haja mais informação disponível e em uma velocidade maior.

Diante disso, os líderes de uma empresa precisam se adaptar. Não dá para esperar que uma só pessoa lide com todo esse volume de informação e tome todas as decisões em um espaço de tempo adequado.

Como deve ser esse novo processo de tomada de decisão?

É importante permitir que os que estão mais próximos da informação possam tomar as decisões por si próprios. Isso quer dizer que o líder de uma empresa precisa ser capaz de delegar mais. É um modo diferente de administrar se compararmos a 10 ou 15 anos atrás e acredito que, nesse sentido, o líder precisa saber criar uma cultura positiva na qual se possa delegar com confiança.
Pode haver exceções, mas não visualizo hoje uma empresa em que alguém tenha toda a informação relevante sem ter de recorrer a um comitê executivo ou alguma outra fórmula para ter acesso a considerações e informações de outras pessoas.

Que características as empresas buscam nos executivos?

Globalmente, as empresas buscam uma pessoa capaz de entender como funciona o mundo e como os negócios são feitos em nível internacional.

É preciso entender as grandes correntes mas, ao mesmo tempo, ser capaz de compreender o que é importante para o mercado local. Porque estamos muito conectados, mas isso não quer dizer que sejamos iguais em todos os lugares.

Isso impacta também nas relações de trabalho?

Sim. Acredito que as empresas querem profissionais capazes de interagir e colaborar muito bem com outras pessoas.

Acredito que as habilidades que ficaram famosas com o conceito de inteligência emocional, que é a capacidade de entender o que acontece com o outro, são muito relevantes hoje, junto com a habilidade de gerenciar equipes. Justamente por conta da conexão global, há muito mais diferenças. A diversidade de origem de opiniões é muito boa, mas também é difícil de administrar.

E o que não mudou?

A direção de pessoas continua sendo uma peça-chave para qualquer líder dirigir bem uma empresa.

A iniciativa continua sendo valorizada ou diante do atual cenário de crise as empresas não querem arriscar?

Acho que a mentalidade empreendedora é bastante valorizada. E quando falo de mentalidade empreendedora não me refiro apenas àqueles que começam seu próprio negócio.

Falo da atitude e da capacidade de levar adiante coisas novas, de saber buscar o apoio necessário dentro da organização em que se está, seja ela muito grande ou pequena. Isso inclui saber motivar as pessoas em torno de um projeto e conseguir transformar uma ideia um pouco abstrata em um plano de negócios concreto.

Acredito que isso é especialmente importante em um momento em que há dúvidas sobre a recuperação econômica e sobre como seguir adiante.

RAIO-X
FRANZ HEUKAMP

Idade
42

Cargo
Diretor geral associado dos programas de MBA da Iese Business School

Formação
Doutor pelo MIT, sua área central de pesquisa é o comportamento na tomada de decisão e a neuroeconomia