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20/09/2015 - 02h00

Empresa quer líder que salve o negócio por salário menor, diz recrutador

GABRIELA STOCCO
DE SÃO PAULO

O ano de economia mais fraca resultou em um desencontro entre as expectativas dos executivos e das organizações, afirma André Freire, 42, presidente unidade brasileira da consultoria de recrutamento de altos executivos Odgers Berndtson.

Por um lado, as empresas oferecem salários menores e querem profissionais que resolvam todos os problemas da companhia. Do outro, os bons funcionários estão inseguros de trocar de emprego e não aceitam fazê-lo para ganhar o mesmo ou somente um pouco a mais.

Bruno Santos/ Folhapress
André Freire no escritório da consultoria Odgers Berndtson, em São Paulo
André Freire no escritório da consultoria Odgers Berndtson, em São Paulo

Leia trechos da entrevista de Freire à Folha.

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Folha - O que as corporações esperam de altos executivos?

André Freire - Hoje há um conflito de expectativas. O empregador imagina que vai encontrar muita gente boa disponível no mercado. Para cortar custos, substituem um executivo que ganha R$ 60 mil por mês por um que aceite receber R$ 40 mil, por exemplo. E ainda esperam que ele salve o negócio.

É um mito achar que há um grande número de bons profissionais desempregados. Os primeiros a serem dispensados são os que apresentam baixa performance ou estão em posições menos cruciais. Pessoas realmente boas ficam empregadas.

Os recrutadores sofrem pressão para trazer bons profissionais ganhando menos, mas isso não é tão fácil.

No final, as organizações acabam tendo que aceitar um executivo que ainda não está 'pronto', mas tem potencial para se desenvolver.

Outro movimento é que antes as corporações aceitavam candidatos de outros mercados, mas hoje só querem roubar o executivo do concorrente direto.

E o que os executivos esperam das empresas?

Há dois tipos de candidatos, os que estão disponíveis no mercado e os que buscamos em outras empresas.

As pessoas que estão há mais tempo desempregadas podem aceitar vagas com salários menores.

No entanto, na maioria dos casos buscamos candidatos empregados em outras companhias. Eles estão relutantes em mudar pois vão enfrentar problemas que não conhecem e podem ter menos recursos humanos e financeiros para projetos.

Eles não querem sair para ganhar só um pouquinho mais, pois não querem correr riscos. É complexo convencê-los a mudar, pois as empresas não estão oferecendo um salário maior para tirá-los de lá.

O que faz um executivo aceitar uma proposta de mudança de emprego hoje?

Em primeiro lugar, o desafio, a oportunidade de complementar a trajetória profissional que tiveram até hoje e um ambiente em que possam usar suas habilidades para transformar o negócio.

Em seguida, vem o propósito da empresa. Muitos passam a buscar valores com os quais se identifiquem ou um setor em que gostem de atuar.

Outro fator é ter um alinhamento ou admiração pelo presidente ou conselho da empresa. Eles querem saber para quem vão reportar e buscam chefes que os ajudem a se desenvolver e crescer.

Essa relação é diferente fora do Brasil?

A diferença entre o Brasil e os países desenvolvidos é que aqui prevalece o lado mais informal e decisões de carreira baseadas em critérios pessoais, como a família. Eles também querem saber para quem vão reportar.

Fora do Brasil, esse processo é mais frio e impessoal.

Os processos de recrutamento mudaram?

Os processos seletivos estão mais longos. Se antes levavam dois ou três meses, hoje duram até seis, porque as empresas querem ver mais candidatos. Além disso, há muitas pessoas envolvidas na decisão e dificilmente há um consenso, porque eles têm medo de tomar uma decisão e errar. Em alguns casos, perdem a verba e precisam suspender a vaga no meio do processo seletivo.

Nosso trabalho está mais difícil, mas nosso faturamento cresceu nesse ano, pois há movimentações. Com o mercado ruim, as culpas e desconfianças recaem sobre o executivo e as empresas questionam se estão com a pessoa certa para enfrentar as dificuldades. Mas também há trocas para redução de custos.

Quais as estratégias das empresas para reter esses executivos?
São estratégias pouco baseadas em salário. Temos visto muito uso de remuneração atribuída a cumprimento de metas individuais. É um incentivo para uma melhora de performance.

Também podem oferecer benefícios como um MBA ou um programa de coaching para alguns profissionais que querem manter e desenvolver. O RH tem sido seletivo para decidir quais profissionais merecem medidas de retenção.

Há ainda programas de ações a longo prazo. Por exemplo, se um alto funcionário fica mais de três anos na empresa, ganha uma pequena parcela de suas ações.

 

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