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08/11/2015 - 02h00

Na contramão da autoajuda, empresas contratam palestrantes para debater estratégias

FERNANDA PERRIN
DE SÃO PAULO

O ano de 2014 foi ambíguo para a Alstom. Por um lado, a empresa obteve números recordes de negócios no Brasil. Por outro, foi indiciada pela Polícia Federal por participação em cartel na prestação de serviços para a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

Para falar aos funcionários durante o evento anual da empresa, o RH convidou o palestrante Clóvis de Barros Filho, professor de ética da USP.

Fabio Braga/Folhapress
Clóvis de Barros Filho durante palestra em evento da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário, em São Paulo
Clóvis de Barros Filho durante palestra em evento da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário, em São Paulo

"A ideia era recuperar o engajamento dos funcionários. Mostrar que, apesar da crise de imagem, nós tínhamos feito um ano bom", diz Gustavo Almeida, vice-presidente de recursos humanos da Alstom na América Latina.

Barros Filho define seu trabalho como "reflexivo e inspiracional". "Em vez de esbravejar para o indivíduo ter sangue nos olhos e trabalhar mais para alcançar metas, a pergunta que eu faço é se essas são boas metas, ou se são as únicas possíveis", afirma.

O professor é um dos principais nomes da tendência dos palestrantes técnicos, que tratam de temas que vão desde filosofia a ferramentas práticas de gestão, em oposição ao discurso de autoajuda.

No mês de outubro, Barros Filho afirma ter feito 32 apresentações de cerca de uma hora, cujo preço varia entre R$ 22 mil e R$ 30 mil.

Os grupos dividem terreno no mercado. Os "reflexivos", como o filósofo Mário Sérgio Cortella, são mais populares entre os níveis gerenciais e superiores, enquanto os motivacionais, como José Roberto Gretz, costumam ser recrutados para falar para plateias em cargos operacionais.

Divulgação
Palestrante motivacional José Roberto Gretz
Palestrante motivacional José Roberto Gretz

No geral, o mercado cresceu 11% entre 2013 e 2014, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD).

Há ainda os que mesclam estilos. Carlos Hilsdorf, 47, fala sobre estratégia e gestão. Ao mesmo tempo, usa recursos como truques de mágica.

Para ele, que diz ter mais de 30 anos de mercado e receber R$ 20 mil por palestra, os eventos hoje têm maior profundidade. "É um amadurecimento do mercado."

Fabio Braga/Folhapress
Carlos Hilsdorf, 47, dá palestra em empresa de São Paulo
Carlos Hilsdorf, 47, dá palestra em empresa de São Paulo

No Banco do Brasil, há um grupo de cinco palestrantes fixos que, além de se apresentarem, são professores em cursos para os funcionários.

A ideia é fazer um trabalho contínuo de reflexão sobre a estratégia, de acordo com Carlos Netto, diretor de gestão de pessoas do banco.

EQUILÍBRIO

Igor Cozzo, diretor de comunicação da ABTD, diz que as palestras motivacionais podem ser efetivas para as empresas se inseridas em um programa de desenvolvimento. Ele recomenda equilíbrio entre elas e as técnicas.

Para Silvana Mello, diretora da consultoria LHH, o ideal é que as palestras sejam um complemento às atividades do RH. Um erro comum, porém, é serem eventos pontuais para "cumprir tabela" na área de treinamento, diz.

Outro problema é usar o momento para mascarar problemas internos da empresa. "Não adianta eu oferecer uma palestra motivacional para pessoas mal remuneradas", diz Luiz Edmundo Rosa, da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).

Na Renner, a decisão foi por não organizar eventos do tipo. "O que anima as pessoas é perspectiva de carreira, autonomia, meritocracia", diz Clarice Costa, diretora de RH.

NO TRABALHO

Falar bem diante de uma plateia, retendo sua atenção, é uma habilidade importante no dia a dia do trabalho mas que, na falta de ser ensinada, é muitas vezes encarada como um dom.

O palestrante Fábio Marques, há 19 anos no ramo e com um cachê de R$ 15 mil, explica que utiliza algumas técnicas para se apresentar.

O primeiro passo é se conectar com os ouvintes valendo-se de contato visual e uma introdução atraente, afirma. Para isso, ele criou uma fórmula: saudação, nome, tema, importância e palestrante.

O tema deve ser anunciado "como uma manchete de jornal", seguido por uma pausa. Para explicar a importância, é preciso ser sucinto e usar argumentos econômicos (o benefício financeiro), técnicos (entender como algo funciona) e operacionais (o bem estar gerado).

Não há ninguém que escape a se interessar por um desses campos, diz Marques.

Já a apresentação de quem fala deve vir por último, quando a atenção da plateia foi cativada, e não durar mais do que um minuto.

Ao longo da palestra, o mais importante é convergir para uma conclusão, guiando o raciocínio do público com perguntas, por exemplo, afirma Marques. O final, por sua vez, deve ser como um fechamento de venda. "Nunca diga 'é isso, obrigado'."

Não decore o conteúdo e nem comporte-se diferente do que você é, recomenda o palestrante Carlos Hilsdorf, 47. O recurso do humor só deve ser utilizado por quem tem familiaridade, senão prejudica o conteúdo, diz.

*

VOZ DO MERCADO
Demanda por palestrantes e preço das sessões cresce ano a ano

11% foi o crescimento do mercado de palestras entre 2013 e 2014

R$ 6.213 foi o valor médio cobrado por palestra em 2014, frente aos R$ 5.845 em 2013

15% das empresas pagaram acima de R$ 8.000 por palestra em 2014

7% das empresas não realizaram palestras em 2014

Fonte: Pesquisa "O Retrato do Treinamento no Brasil 2013/2014" da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento

 

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