Publicidade
15/11/2015 - 02h00

Ser filha do chefe é mais difícil do que ser mulher, diz Claire Williams

FERNANDA PERRIN
DE SÃO PAULO

Em um esporte dominado por homens como a Fórmula 1, a Williams destaca-se por ter duas mulheres em posições-chave: Claire Williams, subchefe de equipe e diretora comercial, e Susie Wolff, pilota de testes.

Claire é filha de Frank Williams, cofundador da escuderia, e acredita que o fardo herdado foi mais pesado para sua carreira do que o fato de ser mulher. "Eu não me importo com o que os outros pensam, de que eu só estou aqui porque o nome do meu pai está na porta, ou de que eu não deveria estar aqui por ser mulher. Eu não dou a mínima para isso", afirma.

Formada em política pela universidade de Newcastle (Inglaterra), ela integra a equipe desde 2002. Aos 39 anos, ela diz que o esporte está passando agora por uma transição, atraindo mais mulheres do que no passado. Em 2014, metade dos participantes do programa de estágio da empresa eram mulheres, diz.

Divulgação
Claire Williams, vice-diretora de equipe da Williams
Claire Williams (centro), subchefe de equipe e diretora comercial da Williams

Leia abaixo a entrevista concedida por Claire à Folha.

*

Folha - Você afirmou em uma entrevista que, quando criança, sempre quis ser uma "esposa e mãe", e que nunca teve aspirações de carreira profissional. O que mudou?

Claire Williams - A Williams me mudou, entrou no meio dos meus planos. Eu estudei em um internato só para meninas na Inglaterra. Então quando eu estava na escola essas eram as expectativas, era meio que meu sonho ser a esposa de alguém. Eu via o ótimo trabalho que minha mãe fazia com a gente. Mas eu comecei a trabalhar quando terminei a universidade e percebi que eu gostava muito daquilo. Meu primeiro trabalho foi na Silverstone, onde me dei conta que amava trabalhar. Depois, apareceu um emprego na Williams. Eu nunca fui predestinada a assumir o cargo que ocupo hoje. Nunca foi definido que um dia eu tomaria esse lugar e por isso tinha que ser treinada em vários departamentos. As pessoas gerenciando a equipe com o meu pai talvez tenham visto algo em mim. Eu ainda não faço ideia do porquê eles terem feito isso.

Quando você começou a trabalhar, o sonho de se tornar "esposa e mãe" mudaram. Como foi essa quebra de expectativas para você?

Para mim às vezes é uma combinação muito difícil ser mulher em algumas posições e ter uma vida familiar e profissional. Há ótimas mulheres inteligentes por aí que conseguem ter as duas coisas. No meu caso, eu tomei uma decisão muito clara de que assumir esse cargo significava que casar e ter um filho em um futuro próximo não seria algo que eu estaria fazendo. Esse é um grande trabalho que requer 100% de comprometimento. Para fazê-lo, eu sabia que casar e ter um filho não se encaixariam na equação. Agora que a equipe está melhor, então talvez essa conversa possa acontecer em breve.

Você já pensou em algum momento que as coisas seriam diferentes se você fosse homem?

Sim, com certeza, em todo final de semana de corrida. Os homens conseguem trazer suas mulheres para o trabalho. Há uma noção muito arraigada na sociedade de que os homens são os provedores e de que as mulheres não precisam trabalhar. Mas, no meu caso, meu namorado quer trabalhar. Eu não estou dizendo que as as mulheres dos membros da equipe não trabalham, mas que meu namorado não consegue vir às corridas como elas. Ontem eu até falei para ele que eu queria ter uma mulher [risos]. Há momentos em que é mais fácil ser homem porque eu acho que, sendo mulher, você tem tendências naturais de ser cuidadora da família. Eu certamente não tenho, mas amo estar em casa também. É uma divisão muito difícil para mim.

Por ser mulher, você acredita que teve que alcançar padrões mais altos de desempenho no trabalho para chegar à sua posição atual?

Eu tive que atingir padrões mais altos porque eu sou a filha do chefe e porque eu sou mulher. Qualquer pressão que eu senti nesse sentido veio de dentro de mim, não de outras pessoas. Eu não me importo com o que os outros pensam, de que eu só estou aqui porque o nome do meu pai está na porta, ou de que eu não deveria estar aqui por ser mulher. Eu não dou a mínima para isso. Tudo com o que eu me importo é fazer um bom trabalho e que a equipe pense que eu estou fazendo um trabalho suficientemente bom para ela. Então para mim, a única razão que me fez sentir de que eu tinha que trabalhar duro não foi por ser mulher, eu não concordo com isso, mas por ser a filha do chefe.

A Williams tem alguma política específica para mulheres no ambiente de trabalho?

Não temos nada que tenha saído formalmente do nosso conselho administrativo como ter uma cota para mulheres. Mas há uma prática informação de que sempre buscamos os melhores dos melhores. Para nós, da Fórmula 1, não há discriminação porque sempre estamos tentando encontrar os melhores dos melhores e entendemos que mulheres podem ser tão boas quanto homens. Não há nenhuma barreira. Sim, há muitos homens trabalhando neste esporte, mas isso não as impede de virem trabalhar aqui também.

Então por que há tão poucas?

Tradicionalmente, o trabalho na Fórmula 1 não atraiu mulheres. Não havia muitas mulheres com quem eu estudava que falavam 'quero ser uma engenheira de corridas'. Mas isso está mudando agora, podemos dizer isso efetivamente com base nas candidaturas de mulheres que recebemos para vagas em áreas dominadas por homens. Cerca de 8% dos nossos engenheiros são mulheres. Isso pode não parecer muito, mas há cinco anos esse número era zero.

Todo ano, fazemos alguns programas educacionais de aprendizado e estágio. Em 2014, 50% dos participantes do programa de estágio eram mulheres. É o percentual mais alto que já tivemos, e acredito que tivemos mais candidatas mulheres do que homens. Então a distribuição está realmente mudando. Precisamos ter mais mulheres no esporte para que outras vejam e se sintam encorajadas.

A atual piloto de testes da Williams, Susie Wolff, deve deixar a equipe este ano. Há planos de contratar uma nova mulher para substitui-la?

Nós estamos olhando o mercado, mas jamais traríamos uma mulher para o lugar dela somente por ser mulher. Ela tem que ser boa, e foi isso que dissemos sobre a Susie. Fórmula 1 é um esporte muito competitivo, nós não recrutamos pessoas com base em uma militância. Você tem que ter a melhor pessoa.

Trabalhar na Fórmula 1 não é uma carreira mais difícil para mulheres, em razão das viagens?

Claro que é difícil, mas em qualquer indústria, se você tem um emprego flexível, as coisas funcionam. Isso é uma decisão a ser tomada pelas mulheres. Eu não acho que seja mais difícil para elas tomarem essa decisão do que é para qualquer homem que trabalha nesse ramo que seja casado e tenha filhos. Acho que é uma decisão a ser tomada por cada indivíduo a nível pessoal.

 

Publicidade

 
Busca

Encontre vagas




pesquisa

Publicidade

 

Publicidade

 

Publicidade
Publicidade

Publicidade


Pixel tag