27/11/2015 - 15h46

Ausência de mulheres no alto escalão prejudica ambição de profissionais, afirmam executivas

FERNANDA PERRIN
DE SÃO PAULO

O baixo número de mulheres no alto escalão das empresas não é apenas consequência da desigualdade de gênero, como também contribui com sua perpetuação.

Na avaliação de profissionais presentes no 5º Fórum Mulheres em Destaque nesta quinta-feira (26), uma mulher em um cargo de chefia motiva outras em posições mais baixas, ao mostrar que é possível chegar lá.

"As pessoas copiam os modelos que já viram, repetem experiências passadas. Quais são os modelos das mulheres?", questionou Andrea Chamma, vice-presidente de negócios institucionais do Bank of America - Merril Lynch.

A falta de representatividade feminina também afeta a visão dos homens, segundo Chamma. Quando um chefe tem que decidir quem promover, ele tende a escolher outros homens, porque esse é o padrão que aprenderam. "Um agravante é a família, em que os exemplos de mulheres –mães, tias, avós– não trabalhavam, em muitos casos."

Sem exemplos em quem se inspirar, as mulheres perdem ambição, disse Lia Azevedo, vice-presidente de desenvolvimento humano e organizacional do Grupo Boticário.

	Divulgação

	Luciana Camargo, da IBM (à esq.), Lia Azevedo, do Grupo Boticário, Adriana Carvalho, da ONU Mulheres, e Tatiana Trevisan

Azevedo citou um estudo da Bain & Company divulgado em maio deste ano. A pesquisa consistia em duas perguntas, feitas a homens e mulheres americanos: "você aspira a um alto cargo de gestão em uma grande empresa?" e "você está seguro de que consegue chegar a alta gestão?"

Cerca de mil profissionais responderam à pesquisa. O número de mulheres com até dois anos de trabalho que desejavam chegar ao alto escalão foi maior que o de homens no mesmo nível. Já entre aquelas com mais de dois anos de experiência, o nível de ambição caiu 60% e o de segurança, 50%, em relação àquelas em início de carreira.

No caso dos homens, ambição e segurança caíram 10% em comparação ao nível inicial.

Quando as mesmas perguntas foram feitas a profissionais em posições de gerência, os dois indicadores voltaram a subir para ambos os sexos, mas, entre as mulheres, eles foram 60% menores, quando comparados aos homens.

Ambição profissional

Além da falta de modelos, as mulheres não recebem o mesmo apoio que homens, ao longo da carreira, para continuarem a aspirar a altas posições, afirmou a executiva do Grupo Boticário. Questões como gravidez, por exemplo, demandam uma atenção específica pela empresa à profissional mulher, para que ela não se sinta pressionada a abandonar o trabalho ou suas ambições para conseguir manter uma vida familiar.

"As lógicas institucionais, como de promoção e expatriação, foram baseadas em homens brancos", disse Adriana Carvalho, assessora para empoderamento das mulheres da ONU Mulheres. O resultado é que muitas políticas tidas como neutras acabam ignorando especifidades da mulher.

Azevedo, do Grupo Boticário, também criticou a falta de participação paterna na família. "Para mim, não faz sentido uma mulher [empregada doméstica] ter que estar na minha casa para eu estar aqui."

O FÓRUM

O Fórum Mulheres em Destaque, que aconteceu em São Paulo nos dias 25 e 26, teve como tema a liderança feminina em sua 5ª edição.

Lia Azevedo foi uma das homenageadas como referência de líder feminina no mercado corporativo, ao lado de Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza.

	Divulgação

	Marcos Scaldelai, presidente da Bombril, durante o 5ª Fórum Mulheres em Destaque

Do lado masculino, Marcio Fernandes, presidente da Elektro, e Marcos Scaldelai, presidente da Bombril, foram escolhidos como "líderes masculinos que patrocinam boas práticas de diversidade de gênero".

Organizado pela CKZ Eventos, o objetivo é discutir políticas de "empoderamento" das mulheres dentro das organizações. A iniciativa é apoiada pela ONU Mulheres, Insper, Furnas, Catho, Fundação Getúlio Vargas, entre outras.

HOMENS X MULHERES - Índice de igualdade de gênero*

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