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30/01/2016 - 02h00

Sem oportunidade de retomar carreira, refugiados ensinam idiomas no Brasil

CLARA ROMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Geralmente com alta qualificação e pouca possibilidade de se encaixar em sua área de formação, refugiados que chegam ao Brasil encontram no ensino de idiomas uma saída para se sustentar no novo país.

O sírio Mohammed Chaar, 26, conseguiu trabalho rapidamente ao chegar ao Brasil como professor de inglês, em uma unidade da Pop Idiomas, e com alunos particulares. Chaar era professor de ginástica artística na Síria, mas na guerra civil, iniciada em 2011, ele se dedicou a lutar contra o regime sírio, até ser ferido. Os seis tiros que o atingiram na cabeça e na perna o impediram de continuar, e mesmo de seguir em sua profissão original.

Nacionalidade de 24% dos refugiados que chegam ao país, os sírios costumam falar o inglês como segunda língua, e o árabe como primeira. Os refugiados da República Democrática do Congo, que representam 9% do total, tem o francês levado pelos colonizadores e o swahili como língua originária do país.

Segundo Marcelo Haydu, coordenador da Adus (Instituto de Integração do Refugiado), a maioria se depara com vagas com salários entre R$ 800 e R$ 1.100, e que exigem baixa qualificação.

"Muitos engenheiros, professores, médicos em sua terra natal relutam em assumir esses cargos e acabam procurando o ensino de idiomas", explica Haydu. Hoje, o Brasil conta com 8.530 refugiados reconhecidos pelo Conare (Comitê Nacional para Refugiados), do Ministério da Justiça.

MÉTODO PRÓPRIO

No Brasil, Chaar chegou a ter 20 alunos ao mesmo tempo, em aulas particulares, por Skype e por Whatsapp. "A aula era bem dinâmica", afirma Cristiano Francisco Matos, um dos alunos do sírio.

"Eu nunca havia conseguido aprender inglês nas escolas tradicionais, mas com Mohammed senti mais facilidade por ele ter um método próprio", afirma

Matos, sua mulher Maria, suas filhas, Laisla, 18, e Luana, 11, e mais dois colegas adolescentes fizeram as aulas juntos. Segundo ele, Chaar propunha um diálogo entre a família em inglês, utilizando objetos do entorno.

Para Matos, o fato de Chaar não falar português forçou a família a aprender mais rápido. "Ele era engraçado. Eu me divertia nas aulas", afirma Luana. Ele acrescenta que o contato com outra cultura foi outro diferencial da aula.

Segundo Chaar, a metodologia da sua aula é baseada no objetivo do aluno com o idioma. Muitos deles só queriam ter um nível de conversação básica, e outros visavam o uso da língua no trabalho.

Antes da guerra, a vida de Chaar era tranquila. Caminhando pelas ruas de São Paulo, ele afirma: "Em Lataquia, minha cidade, uma mulher podia voltar sozinha pela rua às cinco da manhã e nada ia acontecer com ela.
Não havia gente passando fome, ou vivendo nas ruas como no Brasil".

Chaar quer juntar dinheiro para operar o joelho, ferido na guerra. Além disso, pretende encontrar parte de sua família nos Estados Unidos.

Omana Petench, da República Democrática do Congo, também encontrou nas aulas uma maneira de se sustentar no Brasil. Petench já era professor de francês na Universidade do Congo, mas, segundo ele, foi perseguido pelo governo do seu país por sua atuação na defesa de direitos humanos.

Depois de sobreviver a uma tentativa de assassinato, veio para o Brasil. Agora, tenta trazer sua família para cá. "Dou aula para estudantes de todas as idades. Seguramente, as crianças aprendem mais rápido", conta.

Para os pequenos, ele utiliza livros e material diferenciado. "As crianças entendem na hora quando eu falo em francês com eles. Eu não preciso explicar em português", diz. Ele também teve alunos de swahili, outra língua falada em seu país.

 

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