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04/04/2016 - 12h00

Profissional aos 15, aposentado aos 19: a carreira de quem vive de jogar games

FURY X
DA VICE

Starcraft é um game que se passa no futuro de uma galáxia distante em que três facções de criaturas -o que sobrou dos humanos conhecidos como Terrans, os tecnologicamente avançados Protoss e os insetóides Zergs- lutam pela supremacia. Também é um game em que carinhas podem ganhar muito dinheiro jogando profissionalmente.

Como é a vida deles? Conversei com Mac, gamer de 19 anos que faz parte da cena desde os 15, para saber mais.

Reprodução
Mac gamer de 19 anos que faz parte da cena desde os 15
Mac gamer de 19 anos que faz parte da cena desde os 15

VICE SPORTS: Quer dizer então que agora você já está aposentado?
Mac: Eu não usaria a palavra aposentado. Todo mundo tem uma definição bem diferente de aposentadoria. Em partes aposentei, mas ainda jogo um pouco. Morar na Nova Zelândia me limita bastante, porém ainda participo de competições locais. Há duas semanas fui qualificado para um torneio na Polônia.

Então é tipo algo central que era na sua vida e agora pra tirar uma graninha por fora?
Tipo isso. Agora o dinheiro é o principal incentivo. Tem a diversão também.

Você ainda se diverte?
Se você investe tanto tempo em algo, creio que terá uma ligação emocional ou seja lá o que for com aquilo.

Você joga Starcraft, mas há algum outro game no qual se especializou?
Sinto que muita gente tem essa noção de que as habilidades de um jogo se refletem em outros e você pode ser um mestre em diversos games, mas não. Você começa do zero sempre que muda. Alguns fazem isso, mas poucos. Não é um plano muito seguro caso você planeje ter sucesso.

Competição de StarCraft 2

Certo. Como é fazer parte de algo que só agora começa a ser reconhecido como esporte?
Eu diria que só no ano passado os eSports passaram a ser considerados esportes mesmo. Nunca pensei nisso como esporte e ainda não penso. O que as pessoas dizem é 'ah, não precisamos ser um esporte. Somos um lance nosso. Quem liga pra como nos definem?'. Sinceramente, a forma como é produzido na mídia e como os eventos são tocados meio que copiam o que rola nos esportes, ainda mais com a ESPN no meio. Mostra bem o rumo que estamos seguindo. Acho que as pessoas não querem admitir que entrar no clube dos esportistas é o que querem. Acho que, no fundo, é o principal objetivo dos eSports. Reconhecimento é algo que todos querem, vale mais que qualquer outra coisa.

No que o Starcraft se difere dos outros? Em relação ao torneio, digo.
Para os jogadores de Starcraft, é uma situação bastante única no sentido de que temos que segregar nossos torneios para dar oportunidades o suficiente para jogadores fora da Coreia do Sul. Você pega os 50 melhores da Coreia do Sul e eles são melhores que qualquer um no mundo. Ninguém consegue alcançar os caras - não em número o suficiente. Há um público estrangeiro enorme que quer ver seu povo jogar. E isso é um problema em termos competitivos porque sempre que rola um torneio, temos que questionar se realmente são os melhores entre os melhores, por uma questão de integridade.

Você disse não haver muitas oportunidades na Nova Zelândia. Como você acabou na Califórnia e depois na Suíça?
Quando comecei a competir, em 2012, os torneios tinham qualificatórias para cada região. Nossa região geralmente era composta por Sudeste Asiático, Austrália e Nova Zelândia. Davam uma vaga por torneio. Caso passasse, ganhava as passagens. Em 2012 ganhei uma qualificatórias para um torneio em Tóquio e outro na França, ambos ao longo de dois meses, foi meio louco pra mim.

Entendo. Quantos anos você tinha?
Uns 15.

Uau.
Foi uma puta surpresa. Claro que não tinha feito nada como aquilo antes. Foi aí que comecei a encarar tudo de forma mais séria. Não fui contratado logo após aquilo, demorou mais ou menos um ano. Chamei a atenção do dono de uma equipe norte-americana. Não é uma das grandes equipes, então rola essa tendência de pegar novatos ou gente desconhecida e não exigem muito. Não me ofereceram um contrato absurdo, só um lugar em uma casa para treinar. É assim que funcionam alguns times em vez de correr de gente já estabelecida.

Imagino que se você tivesse sido escolhido por um dos manda-chuvas rolaria uma pressão enorme.
Com certeza. E haveria uma pressão em cima da equipe também. Tudo aumenta na internet; as pessoas sentem inveja. Mesmo que os jogadores não estejam levemente no mesmo nível que o resto da equipe, os fãs os destroem. Todo mundo é muito crítico nesse aspecto.

Daí você foi pra Califórnia, mas o que te levou à Suíça?
Meu visto expirou. Queria mudar pra Europa, tinha um passaporte e parecia uma ideia melhor do que lidar com vistos. Fui para lá e passei um ano treinando.

Como era isso?
Não é um lance tranquilo que você só joga quando quer. Rola um compromisso. Jogava de 10 a 12 horas, sete dias por semana, com poucos intervalos. Era muita coisa pra compensar. A maioria das pessoas - especialmente no Starcraft - são um pouco mais velhas; de 20 e poucos anos pra lá. Muito mais experientes, o que me deixava em desvantagem. Tentava alcançar esse pessoal.

E o que aconteceu depois?
Na primeira temporada neste ano na Suíça não consegui me qualificar. O principal era que eu não estava ganhando nada e pagando o aluguel em francos suíços, nada barato. Tudo dependia desse torneio em que você entra e ganha 2.000 euros só na primeira fase. Era qualificatória após qualificatória, umas cinco. Na última, cheguei no último round, perdi o terceiro jogo e já era. Com o tempo acabei sendo chamado pro time na Suíça, mas decidi voltar pra casa e ver o que fazer.

Traduzido por Thiago "Índio" Silva

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