Publicidade
08/05/2016 - 01h00

Profissionais trocam capital pelo interior em busca de ambiente mais colaborativo

GUILHERME CELESTINO
DE SÃO PAULO

Marcia Bevilacqua, 58, era diretora de relacionamento da empresa de cartões Sodexo. Ela sempre reclamou das mais de três horas por dia no trânsito para ir e voltar de sua casa, em Perdizes, na zona oeste de São Paulo, ao escritório em Moema, na zona sul.

A profissional só tomou a decisão de abandonar a cidade após ser vítima de sequestro-relâmpago em São Paulo, em plena luz do dia, em 2012.

"Desde então, só fiquei com isso na cabeça: sair de São Paulo. Mas não queria parar de trabalhar", diz.

Danilo Verpa/Folhapress
AMERICANA - SP - 04.05.2016 - Retrato de Marcia Laurino que abandonou a capital paulista para trabalhar em Americana. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, ESPECIAIS) ORG XMIT: CAPA CARREIRAS
Marcia Bevilacqua trocou São Paulo por uma vaga em empresa de Americana

Ela procurou uma agência de recrutamento para pleitear vagas fora da capital. Aceitou então uma vaga de diretora comercial e de marketing do grupo Vivo Sabor, em Americana, a 128 km.

"Fui até lá para fazer a entrevista e vi que a cidade era tudo o que eu queria, tranquila, mas com opções de lazer", conta Bevilacqua, que levou junto seu marido, William, 61, aposentado. Os filhos e netos ficaram na capital.

Hoje, ela afirma que só lamenta não ter se mudado mais cedo. "É importante pensar na qualidade de vida ainda jovem."

Já Adamo Samir Salim, 34, gestor de TI, não pensava em se mudar de Jandira, na Grande São Paulo. Mas não teve dúvidas quando recebeu uma oferta, no ano passado, para ganhar mais na empresa de cosméticos Truss Cosmetics, em São José do Rio Preto (440 km da capital).

Salim diz que uma grande vantagem foi trocar uma hora e 40 minutos de trânsito para ir até o trabalho na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, por um trajeto de apenas dez minutos.
"Sem contar a saúde. Eu tenho asma e melhorei bastante desde que vim para cá."

COOPERATIVO

Além do maior equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, o interior oferece empresas com estruturas menos formais e cargos mais generalistas, diz Felipe Brunieri, 29, gerente especialista em finanças da Talense.

"O ambiente de trabalho é menos competitivo e mais colaborativo. Como as empresas são menores, há maior proximidade entre as várias áreas, o que favorece as relações pessoais", afirma.

Por outro lado, o acesso a cargos de alto escalão e remunerações melhores pode ser mais difícil nesse ambiente de estruturas e orçamentos bem mais enxutos que na capital.

Como muitas vezes a empresa tem sua sede em uma capital, diz Brunieri, a pessoa fica longe dos setores administrativos.

"O profissional costuma chegar mais rápido no teto de sua carreira na empresa. Se o objetivo é continuar crescendo, as possibilidades são maiores nos grandes centros."

Diego Rodrigues, 33, gerente da empresa de RH Randstad, diz que quem quer trabalhar no interior deve estar preparado para uma remuneração de 20% a 30% menor pelo mesmo cargo.

"Mas essa diferença é facilmente compensada na redução do custo de vida, com transporte, moradia e alimentação mais baratos", diz.

Rodrigues diz ainda que o tempo ganho fora do trânsito pode ser investido em um MBA ou especialização, já que há centros universitários de ponta no interior, como USP, Unesp e Unicamp.

Na hora da escolha da nova cidade, ele recomenda pesquisar qual destino se adequa a sua área (veja acima). "O mercado no interior é mais específico que nos grandes centros. Há concentrações de empresas do mesmo setor."

EM FAMÍLIA

Fábio Flores, 36, consultor sênior de pós-venda de exportações da Honda, nascido e criado em São Paulo, ficou em dúvida se permanecia no trabalho quando a empresa mudou a gestão administrativa para Sumaré (a 120 km).

Danilo Verpa/Folhapress
SUMARE - SP - 04.05.2016 - Retrato do Fabio, que abandonou a capital paulista para trabalhar na Honda, em Sumare. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, ESPECIAIS) ORG XMIT: CAPA CARREIRAS
Fábio Flores levou a mulher quando trocou a capital paulista por emprego em Sumaré

O principal entrave era o negócio da mulher, Swetlana Ferreira, 34, que tinha um estúdio de pilates em Moema, na zona sul da capital.

Com os rumores de transferência na empresa, o casal começou a visitar a região em busca de uma alternativa. Encontraram uma academia na cidade de Paulínia, a 20 km, na qual instalou o estúdio.

Apesar da diminuição dos ganhos familiares, Flores diz estar satisfeito com a nova vida. Trocou um apartamento de 100 m² por uma casa de 230 m² e adotou dois cães. "É preciso fazer um planejamento financeiro detalhado para não se frustrar com a mudança."

Já para Mauro Marquezano, 58, consultor de empresas, a viagem foi solitária.

Demitido de uma empresa de vidro, foi procurar emprego em Itu (a 103 km), onde já tinha uma casa. Sua mulher, Viviane, 53, ficou na capital, onde trabalha como diretora de uma escola. Ela o visita aos fins de semana.

"A distância às vezes atrapalha, mas é um mal necessário", afirma Marquezano.

Para Lucas Toledo, 35, gerente executivo da Page Personel em Campinas (SP), o importante é garantir que haja acordo entre os dois, seja para se mudarem juntos ou adotarem rotina separada.

"Toda mudança traz impacto ao relacionamento e, se não for bem resolvida, haverá arrependimentos", diz.

Para quem tem filhos, Toledo recomenda mudanças no começo do ano letivo, para facilitar a adaptação.

 

Publicidade

 
Busca

Encontre vagas




pesquisa
Edição impressa

Publicidade

 

Publicidade

 

Publicidade
Publicidade

Publicidade


Pixel tag