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15/05/2016 - 02h03

Rotina que mistura lazer e trabalho atrai jovens para o mundo dos e-sports

DIEGO IWATA LIMA
DE SÃO PAULO

No sofá de couro do apartamento escurecido por cortinas, Luan "Jockster" Cardoso, 20, cabelos tingidos de azul, dorme tranquilo, de barriga para baixo.

Na sala anexa, Micael "Micao" Rodrigues, Gabriel "Tockers" Claumann, ambos 19, e Felipe "Yang" Zhao, 20, estão à frente de seus computadores. Uma voz atravessa o corredor e anuncia: "O almoço está pronto".

É meio-dia de uma terça-feira no último andar de um antigo prédio de apartamentos no bairro do Brás, região central de São Paulo.

Bruno Santos/Folhapress
São Paulo, SP, BRASIL-10-05-2016: Na foto o centro de treinamentos para profissionais de E-Sports da equipe INTZ, onde moram cerca de 12 jogadores de jogos como League of Legends e Counter Strike que ganham até R$ 15 mil por mês para jogar. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** CARREIRAS *** EXCLUSIVO FOLHA***
Luan "Jockster" Cardoso, 20, cabelos tingidos de azul, treina "League of Legends", jogo que pratica profissionalmente

Gabriel "Revolta" Henud, a principal estrela do grupo, sai então do quarto, passa por Cardoso e o acorda. "Você está melhor? Hora de almoçar".

Poderia ser uma cena de uma república de estudantes, mas nenhum deles está cursando faculdade.

Todos ali são profissionais, cyber-atletas de e-sport, videogames jogados em rede e em equipe.

A categoria deve movimentar mundialmente US$ 892,8 milhões (R$ 3,1 bilhões) em 2016, segundo a consultoria especializada Superdata.

O quinteto tem contrato com a equipe INTZ para jogar "League of Legends", que mistura elementos de mitologia e cultura pop e é o e-sport mais popular no Brasil.

LEIA MAIS: Salários de jogadores profissionais de games podem chegar a R$ 15 mil

Os acordos são regidos pela CLT e pela Lei Pelé, que regulariza o mercado de trabalho no âmbito esportivo.

Os jogadores participam de campeonatos no Brasil e no exterior que distribuem mais de US$ 2 milhões (R$ 6,9 milhões) em prêmios.

Não é fácil ser um cyber-atleta. Embora haja cursos na área, jogar em alto nível não é algo que se possa ensinar, dizem especialistas do setor.

"É como no futebol. Uma criança que faz escolinha não tem a garantia de que vai ser um grande jogador", diz Beto Vides, diretor de marketing do clube Pain Gaming, que chegou a faturar R$ 800 mil por mês em 2015.

ROTINA

Os jogadores de ponta costumam morar nas "game houses", sedes das equipes.

Os clubes oferecem a seus atletas, além de salários, moradia, equipamentos, academia, acompanhamento nutricional e psicológico.

É normal que eles ultrapassem 12 horas diárias em frente ao computador. Até porque diversão e obrigação se misturam na rotina do jogador.

"São sete horas diárias de treinos, mas a gente sempre joga um pouco mais, porque participa de ligas com amigos por prazer", conta Gabriel "Kami" Bohn, jogador do Pain Gaming e um dos grandes destaques do time.

É justamente a possibilidade de juntar um hobby com a profissão que mais pesa na escolha pela carreira de cyber-atleta.

Raphael "Cogu" Camargo, 30, profissional em "Counter Strike" do INTZ, foi considerado o melhor do mundo entre os anos de 2000 e 2010.

Bruno Santos/Folhapress
São Paulo, SP, BRASIL-10-05-2016: Na foto o centro de treinamentos para profissionais de E-Sports da equipe INTZ, onde moram cerca de 12 jogadores de jogos como League of Legends e Counter Strike que ganham até R$ 15 mil por mês para jogar. O jogador Raphael Camargo Ribeiro (30), conhecido como Cogu, é retratado em uma das salas de treinamento dos jogadores. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** CARREIRAS *** EXCLUSIVO FOLHA***
Raphael "Cogu" Camargo, 31, pratica "Counter Strike" no centro de treinamentos da INTZ

Mesmo assim, por duas vezes, ele abandonou os teclados. Na primeira vez, em 2006, foi tentar a sorte como jogador de futebol no Qatar. Voltou ao computador em três meses, após machucar o músculo da coxa esquerda.

A segunda aposentadoria veio em 2010, logo após ser apontado como melhor do mundo. Por pressão familiar, Camargo foi estudar direito.

Essa pausa, mais longa, se encerrou no ano passado, quando o estudante decidiu voltar ao "Counter Strike".

"Eu ia para a faculdade e para o estágio sem nenhuma vontade. Sabia que havia espaço para voltar a jogar ", conta ele, que já é considerado um veterano dos e-sports.

Analistas do setor dizem que o desempenho dos jogadores são prejudicados a partir dos 26 anos, com a redução dos reflexos e da resistência física.

Camargo discorda. Ele afirma estar jogando com a mesma qualidade de antes das aposentadorias.

Uma questão ainda pouco discutida no mundo dos e-sports é justamente o que os atletas vão fazer quando pararem de jogar.

"A verdade é que ainda não temos como saber, já que se trata de uma carreira muito nova. Poucos chegaram à idade de se aposentar", diz Lucas Almeida, 30, vice-presidente da INTZ.

"A carreira no e-sport apresenta o mesmo desafio de outros esportes. Devido à dependência da parte física, ela é curta", diz Mauro Berimbau, 35, professor da ESPM especializado em videogames.

Berimbau diz acreditar que, com o crescimento da carreira, surgirão jogos mais bem adaptados aos profissionais mais velhos.

"Não sei o que farei no futuro, mas desse mundo não saio mais", diz Camargo.

 

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