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15/09/2011 - 07h30

Quadrinhos se inspiram em situações profissionais

FELIPE GUTIERREZ
DE SÃO PAULO

Cansado de receber propostas para fazer projetos por pouco dinheiro --às vezes, por nenhum dinheiro--, o designer Luis Di Vasca, 29, resolveu tornar públicas algumas das situações que enfrentava.

Ele montou um blog no qual descreve diálogos com clientes que pedem trabalhos pelos quais não querem pagar, colegas que tentam desmoralizá-lo e patrões que pedem gráficos em prazos curtos, mas que não olham o resultado.

"Não aguentava mais receber aquele tipo de proposta, não estava fazendo dinheiro e fui coletando essas coisas para montar o blog", conta Di Vasca. Deu certo. Num dia movimentado, o site chegou a 30 mil visitas.

Di Vasca faz parte de uma geração de profissionais que faz humor com situações cotidianas do trabalho e que consegue ficar conhecido por conta disso. O blog dele recebe muitos comentários de outros designers que passam por momentos parecidos, e até de outros profissionais: "O que me surpreendeu é que, entre os comentadores, há advogados, médicos, jornalistas".

Os textos do blog costumam ser trocas de mensagens entre ele e os clientes. O designer recebe uma proposta para fazer um desenho em troca de "divulgação" ou como um favor. Ele envia gráficos que retratam o pedido de forma grotesca e provocativa, como se tivesse interpretado a demanda de uma maneira muito literal.

Há situações descritas no blog que são verdadeiras, outras são aumentadas e algumas nunca aconteceram. Mas o leitor não tem como saber quais histórias são verídicas. "Mas não sou muito criativo. As mais inacreditáveis foram as que realmente aconteceram", diz Di Vasca.

Mesmo quando conta casos verdadeiros, ele troca nomes e o texto de mensagens, com cuidado para não identificar os interlocutores.

"As pessoas acham que [o trabalho de designer] é fácil, ou que você faz porque acha divertido, que estão fazendo um favor para mim, me dando uma ideia para eu desenhar. Agora, depois do blog, não recebo mais propostas absurdas."

ROUPA SUJA
Iris Yan, 34, é uma brasileira, descendente de chineses, que trabalha em Maputo (Moçambique) para uma ONG de origem norte-americana que fomenta desenvolvimento econômico.

Há pouco mais de um ano, ela começou a fazer cartuns inspirados em situações do cotidiano do país estrangeiro e publicá-los num blog, o "Pigs In Maputo". Depois de um tempo, nasceu um site irmão, o "Pigs Incorporated", no qual publica cartuns sobre o trabalho.

"Não é necessariamente sobre o meu trabalho atual", diz ela. Yan trabalhou por quatro anos numa consultoria estratégica em São Paulo.

Divulgação
"Outro almoço de negócios... por que as pessoas gostam tanto desses almoços?" "Porque elas pensam que podem ir para casa mais cedo trabalhando durante o almoço... Mas não poupam nenhum trabalho e ainda têm uma refeição desagradável."
"Outro almoço de negócios... por que as pessoas gostam tanto desses almoços?" "Porque elas pensam que podem ir para casa mais cedo trabalhando durante o almoço... Mas não poupam nenhum trabalho e ainda têm uma refeição desagradável."

"Logo que comecei [a fazer o Pigs Incorporated] tinha muito cartum sobre aquele período. Mas depois de um tempo as histórias daquela época acabaram. Terminou a lavagem de roupa suja que eu tinha que fazer, e começaram histórias daqui."

Assim como Di Vasca, Yan não desenha apenas situações que viveu. Ela diz que algumas histórias foram relatadas a ela, e que outras ela inventa.

NOVA OPORTUNIDADE
A intenção inicial de Yan era fazer com que os amigos dela soubessem o que acontecia na África. Mas ela conta que o chefe atual gosta muito dos desenhos. "Ele fala que é uma forma de me monitorar --diz que não precisa conversar comigo, fica sabendo o que estou pensando pelos quadrinhos."

Além disso, pouco depois de começar a publicar os cartuns no blog, Yan começou a se comunicar com o dono de um outro site de quadrinhos, chamado Stuff No One Told Me. O autor é um espanhol. Depois de um tempo, os dois começaram a namorar. Ele se mudou para Maputo e hoje eles vivem juntos.

 

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