Vila Mariana 'espicha', e novo desenho divide a vizinhança
DANIEL VASQUES
DE SÃO PAULO
Quem mora na Vila Mariana adora. E dá os motivos: o distrito tem de tudo e ainda um clima de "cidade do interior". Mas, com a expansão imobiliária e a verticalização, a vila tem cada vez menos cara de vila, levando o morador a se acostumar a viver cercado de concreto.
Simon Plestenjak/Folhapress |
Odete Ferrari, 74, e seu marido Antonio Ribeiro Filho, 85, em frente à casa onde vivem, na Vila Mariana |
A aposentada Odete Ferrari, 74, dá as boas-vindas aos novos empreendimentos, mesmo sendo moradora de uma "casa de vila", em uma rua estreita e cuja calçada chega a ter em torno de um metro de largura.
"Em frente à minha casa, havia um matagal. Agora, há um edifício. Acho ótimo que venham prédios, para deixar o local mais bonito", diz.
O comerciante Tiago Silva, 29, que mora e trabalha na Vila Mariana, diz-se descontente com o processo de verticalização: "A bonita estética do bairro, com suas pequenas casas antigas, vem se perdendo. As construtoras derrubam tudo".
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Tiago Silva, 29, vê com desconfiança proliferação de prédios no distrito |
Dono de uma banca de jornal, Flavio Derolesi, 61, sempre viveu na vila e reclama da falta de intimidade entre os novos e os antigos vizinhos.
"O morador dos novos edifícios nem conhece quem mora perto. Quando vai ao comércio, compra perto de onde trabalha, não no bairro."
O artista plástico Felipe Yung, 34, que foi criado no distrito, decidiu deixar a Vila Mariana depois de seu aluguel subir cerca de 50% em três anos. Mas manteve seu ateliê na região. Ele diz que ama a tranquilidade das ruas, mas que "as casas estão dando espaço para prédios feios e apertados".
A urbanista e diretora-executiva do Movimento Defenda São Paulo, Lucila Lacreta, diz que a verticalização seria bem-vinda se ocorresse de forma planejada, "não a esmo".
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O artista-plástico Felipe Yung, 34, no ateliê dele, na frente da caixa d'água, um símbolo da Vila Mariana |
Segundo ela, perde-se a identidade do local com a derrubada indiscriminada das casas, ao mesmo tempo em que se reduzem os espaços públicos. "É um pseudocrescimento, pois ocorre sem qualidade urbanística."
Antonio Setin, presidente da construtora Setin, vê benefícios na verticalização, como a chance de "aproveitar melhor o espaço": "Ninguém gosta de viver isolado. Acho egoísmo pensar em uma cidade horizontal".
De acordo com a série DNA Paulistano, pesquisa realizada pelo Datafolha, a Vila Mariana é o distrito mais bem avaliado por seus moradores, e 70% deles vivem em apartamentos, o segundo maior índice na zona sul.
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