Opinião: Ter um imóvel com acessibilidade mínima não é luxo
JAIRO MARQUES
COLUNISTA DA FOLHA
Você já verificou alguma vez se no lavabo ou no banheiro de sua casa é possível entrar com uma cadeira de rodas ou se uma pessoa bem velhinha conseguiria se deslocar razoavelmente bem e com segurança por esses cômodos da casa?
Pessoas com deficiência têm dificuldade de encontrar imóveis adaptados
Dificuldade de comprar imóvel adaptado começa no estande de vendas
Apartamentos mais modernos estão se tornando um desafio imenso para o trânsito de gente com suas estruturas que não levam em consideração as diferenças físicas e as necessidades pontuais ou transitórias por mais espaço, como um filho com a perna quebrada.
Portas muito estreitas, degraus sem sentido, corredores que não permitem um giro confortável de um gordinho, espaço para banho onde ou entra o xampu ou o sabonete: os dois juntos seria impossível.
ACESSIBILIDADE
Ter uma casa com acessibilidade mínima não é um luxo ou uma condição de exceção, mas, sim, é garantir que o lugar onde se mora irá atender demandas em várias fases da vida e para o convívio de qualquer um que se queira receber.
A arquitetura e a engenharia estão aí para promover as soluções que garantam a otimização de áreas, mesmo sendo elas as de apartamentos do tamanho de caixas de fósforos, muito comuns nos grandes centros atualmente.
O problema é quando as construtoras não se dignam nem a oferecer alternativas acessíveis em seus empreendimentos. Padronizar unidades não é o mesmo que padronizar pessoas. Por isso, ganha mais quem tenta ajudar a criar soluções que contemplem um bom morar para todos. Uma planta alternativa, por exemplo.
E não há complexidade --por mais que seja esse o argumento mais usado-- para levantar um prédio que tenha um desenho planejado para a diversidade.
Às vezes é preciso alargar daqui, colocar uma barra de segurança ali, nivelar um piso acolá, estreitar uma parede adiante. O ganho de iniciativas assim é plural.
Pessoas com deficiência, idosos e quebrados em geral têm poder de compra --o mundo mudou!-- e têm suas exigências e demandas.
Não é honesto olhar para esses públicos como não consumidores e apartá-los de um mercado imenso como é o imobiliário.
DIVERSIDADE
E o bom tratamento começa com estandes de venda que sejam receptivos à diversidade, com o estudo de alternativas de acesso realizado de forma séria, com o cumprimento de normas técnicas e legais.
Felizmente, não se vive mais em cavernas lapidadas pela natureza. Então, nada melhor do que usar o poder e a sabedoria humana para que se dê conforto e tranquilidade ao morar de qualquer um.
Certa vez, vi um programa de TV sobre a casa da atriz Marisa Orth. Ela fez questão de ter um projeto de arquitetura que contemplasse acessibilidade, no que justificou: "Preciso estar preparada para receber qualquer pessoa, não posso pensar só em minha comodidade". Certa ela, certos os que seguirem pelo mesmo caminho.
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