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06/11/2013 - 08h00

NY investiga site que subloca apartamentos

DO "NEW YORK TIMES"

Tama Robertson é uma artista plástica que vende quadros e faz joias, mas, porque vive em Nova York, também trabalha com imóveis. Ela já trabalhou como corretora de imóveis e investiu em algumas propriedades por conta própria, mas nos últimos anos vem suplementando sua renda com uma prática um tanto mais contenciosa: aluga um quarto em seu apartamento a viajantes que encontra por meio do site Airbnb.

Ao dividir sua cozinha e fornecer chaves de seu apartamento a desconhecidos, ela estima que fature até US$ 10 mil ao ano.

O Airbnb é um serviço adorado por alguns e desprezado por outros, e mais comumente conhecido como o lugar que você pode usar para alugar temporariamente seu apartamento a terceiros quando vai passar alguns dias fora da cidade. Mas fazê-lo muitas vezes é ilegal em Nova York, e é um dos motivos para o confronto em que a companhia está envolvida com o secretário estadual da Justiça Eric Schneiderman.

Há muito dinheiro em jogo nessa disputa, a começar do faturamento do Airbnb, mas passando também por milhões de dólares em impostos de hotelaria que, segundo o secretário da Justiça, o Estado de Nova York não está arrecadando por conta das atividades da empresa.

Também em jogo está um microcosmo econômico povoado por nova-iorquinos que obtém proporção substancial de sua renda do aluguel de apartamentos por curtos períodos, usando o site, em alguns casos legalmente e em outros não.

"No ano passado, faturamos US$ 90 mil com isso", diz Leslie, que aluga dois dos quartos na casa dupla em que vive no Brooklyn por meio do Airbnb.

Leslie, dona de casa casada com um professor, concordou em falar apenas se seu sobrenome e seu endereço não fossem mencionados. O mesmo se aplica a Joe, que declarou que "seu quarto reservado ao Airbnb" resulta em faturamento mensal de US$ 2.000, que ele divide com os dois colegas de apartamento. O dinheiro o ajudou a criar uma pequena empresa de tecnologia. Outro exemplo é o de P., músico que aluga dois apartamentos em Manhattan e um no Brooklyn usando o site.

Pedro Carrilho/Folhapress
Vista da cidade de Nova York
Vista da cidade de Nova York

Um dos homens que entrevistei, porém, não me autorizou a identificá-lo por seu prenome extremamente comum, por sua profissão ou nem mesmo pelo Estado em que vive. Em lugar disso, descreveu-se como "um dos caras que eles realmente querem apanhar". Ele opera apartamentos vazios em Nova York como unidades de locação em curto prazo e não vive em nenhum deles, uma prática que define como "para lá de lucrativa". E também usualmente ilegal.

Na maioria dos edifícios de apartamentos residenciais, alugar espaço a alguém por menos de 30 dias é ilegal, a não ser que você esteja presente durante a estadia do visitante. A restrição não se aplica a casas para uma ou duas famílias, como a de Leslie, mas as leis de zoneamento ainda assim podem limitar a prática. Os termos dos contratos de locação e os regulamentos internos de edifícios também podem proibi-la.

IDENTIDADES NÃO REVELADAS

Ainda assim, mesmo as pessoas cujas atividades paralelas de locação teriam condição de resistir a uma contestação judicial hesitam em permitir que suas identidades sejam reveladas. Às vezes é porque não querem que os vizinhos saibam. Mas também se preocupam com a possibilidade de que as autoridades estaduais decidam fazer delas um exemplo. Schneiderman intimou a Airbnb em busca de informações sobre transações por muitos dos usuários do site em Nova York, e a empresa está lutando na Justiça para manter o sigilo quanto a essas informações.

De acordo com o gabinete do secretário estadual da Justiça, tomando por base informações fornecidas às autoridades pelo site, os 40 mais ativos anfitriões do Airbnb na cidade de Nova York tiveram cada qual faturamento bruto de pelo menos US$ 400 mil ao ano com suas locações, nos últimos três anos, e o total agregado dessas transações atinge os US$ 35 milhões. Os 100 anfitriões de maior faturamento no período faturaram US$ 54 milhões.

Algumas administradoras de apartamentos para locação começaram a tomar medidas repressivas por conta própria. Uma delas, a TF- Cornerstone, recentemente enviou uma carta a todos os seus inquilinos informando que sublocar apartamentos em curto prazo por meio de sites "cria um risco geral de segurança" e também viola os termos de seus contratos de locação.

Outra companhia, a Dermer Management, lembrou os moradores de alguns de seus edifícios de que, embora o final de semana do Super Bowl [a final do campeonato de futebol norte-americano dos Estados Unidos, que nesta temporada será realizada em Nova Jersey, bem perto de Manhattan] possa parecer ótimo momento para sublocar apartamentos e faturar algum dinheiro, as normas da companhia quanto a sublocações não o permitem.

AJUDA A VISITANTES

Mas o Airbnb e as pessoas que alugam apartamentos usando o site afirmam que o serviço serve a uma função econômica importante na cidade, ao ajudar viajantes cujos orçamentos são apertados a visitar um lugar muito dispendioso que, de outra maneira, seria inacessível para eles; além disso, as locações levam turistas a áreas da cidade que eles não visitariam, em outras circunstâncias.

"É importante lembrar que quase 90% das pessoas que alugam apartamentos por meio de nosso serviço só tem um imóvel em oferta, e é a casa em que vivem", diz David Hantman, diretor mundial de políticas públicas do Airbnb. "O governo solicitou muitos dados sobre nova-iorquinos comuns e não desejamos fornecê-los".;

Robertson, que começou a alugar um quarto a visitantes em seu apartamento quando teve um problema médico que resultou em contas muito altas, disse que só recebe visitantes quando está em casa. E tanto ela quanto a Leslie, a dona de casa de Brooklyn, afirmam declarar como renda todo o dinheiro recebido via Airbnb.

"Basta me informar qual é a lei e eu a cumprirei", disse Leslie, que está contratando um despachante para ajudá-la a contornar as restrições de zoneamento à prática. "Quando pergunto a cinco advogados diferentes o que a lei diz de verdade, recebo cinco respostas diferentes".

Mas, como diversos usuários do Airbnb apontaram, permitir que um desconhecido use o seu chuveiro não é para qualquer um, e sempre haverá pessoas que preferirão ficar em um hotel.

"No segundo trimestre, minha família esteve na cidade para procurar faculdades, mas se recusou a ficar comigo -preferiu um hotel", diz Susan, que é dona de uma pequena consultoria e aluga um quarto em seu apartamento. "Existem pessoas que desejam privacidade e serviço de quarto e estão dispostas a pagar por isso. Não importa o quanto as críticas que recebo no site sobre a minha hospedagem sejam positivas, minha família prefere não ficar aqui".

Muitas outras pessoas, no entanto, apreciam a oportunidade. Susan diz que o dinheiro que fatura com o aluguel do quarto representa metade de sua renda.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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