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17/01/2014 - 08h17

Reforma de cabana rústica mantém essência e soma elegância

DO "NEW YORK TIMES"

Nos 22 anos transcorridos desde que Kurt Timmermeister comprou 1,6 hectare de terras aráveis rochosas e não muito confiáveis na ilha Vashon, pagando US$ 100 mil, ele teve suas costelas quebradas por uma vaca apaixonada, perdeu um cordeiro para um corvo que bicou os olhos do animal e se chocou diante do canibalismo de suas galinhas (quando não estavam comendo umas às outras, elas se tornavam vítimas dos guaxinins locais), entre outros dramas com respingos de sangue e lama.

Mas Timmermeister, 51, dono de restaurante aposentado, que chegou à ilha sem saber nem mesmo dirigir, agora se tornou fazendeiro, produtor de laticínios e queijos, e maneja caminhões e tratores sem dificuldade.

Em 1991, quando comprou suas terras, ele não planejava se tornar fazendeiro. Na época, Timmermeister, que estudou relações internacionais na Universidade Americana de Paris e ao mesmo tempo fez um curso para ser confeiteiro, era dono de um pequeno mas próspero café no centro de Seattle.

Mas ele sabia que não desejava ser um daqueles caras que continuam vivendo em um pequeno apartamento aos 40, por desperdiçar os lucros de seus negócios farreando com os amigos do ramo de restaurantes noite após noite.

Ele também queria passar algum tempo longe da cidade e, embora nunca tivesse aprendido a dirigir, escolheu a ilha Vashon, uma comunidade rural de 10 mil habitantes que requeria duas horas de percurso diário, incluindo o uso de uma balsa, para levá-lo ao seu negócio.

A única propriedade que ele tinha dinheiro para comprar era um matagal de 1,6 hectare, repleto de pedras, detritos agrícolas e amoreiras selvagens. No meio de tudo aquilo havia um galinheiro que alguém havia convertido em residência, bem como uma piscina e uma cabana de madeira apodrecida, infestada de insetos e ratos, datando da década de 1880.

Um amigo mostrou a ele como remover o revestimento interno mofado das paredes, os carpetes e o material de isolamento de sua nova casa (o galinheiro convertido), e destruir a fedorenta pilha de detritos em uma gigantesca e tóxica fogueira deflagrada com a ajuda de gasolina. E mesmo assim, ele conta, "achei que era tudo muito glamouroso".

Restaurar a cabana de madeira demorou uma década. Ela era das mais antigas casas de madeira da ilha e parece ter sido obra de um carpinteiro itinerante. A cabana ficava no limite das terras que ele adquiriu e estava afundando lentamente na terra.

"Provavelmente, o melhor teria sido derrubá-la", diz Timmermeister, que a transferiu para o meio do terreno e a instalou sobre uma fundação de concreto. Boa parte da madeira da cabana teve de ser substituída.

A madeira nova veio de árvores de sua propriedade, e as tábuas foram cortadas artesanalmente e curadas ao ar livre por um ano.

Ao longo do caminho, a cabana se tornou patrimônio histórico e ele recebeu uma verba de preservação de US$ 25 mil do governo local.

Timmermeister estima que seus gastos com a restauração tenham sido dez vezes maiores, o que explica a grande demora. "Eu tinha de parar sempre que o dinheiro acabava", diz.

Ainda que não tenha cozinha nem banheiro, a estrutura é notavelmente elegante: uma cabana rústica com estilo. O teto é alto e a escadaria central é larga. Ladeando a porta de entrada, ficam grandes janelas com oito placas de vidro.

Na varanda traseira há uma banheira com vista para a natureza. Sob as escadas, fica o espaço para uma pia e vaso sanitário, mas não para a caixa de água. Timmermeister improvisou uma caixa de água do lado de cima da porta, fora do espaço sanitário.

A casa é mobiliada esparsamente, com objetos belos e curiosos: uma mesa artesanal de optometria, abajures feitos com os cascos de cervos, obras de arte de amigos do proprietário.

Depois de duas décadas de experimentação e de trabalho árduo, a fazenda, que hoje tem pouco mais de cinco hectares, está solvente, ainda não que propicie lucro espetacular.

As lições que ele aprendeu foram o tema de seu primeiro livro, "Growing a Farmer: How I Learned to Live Off the Land" ("cultivando um agricultor: como aprendi a viver da terra", em tradução livre], publicado em 2011. Timmermeister, um narrador ocasionalmente rabugento mas sempre apaixonado e atento aos detalhes, é um profissional veterano, agora. E embora seus primeiros anos de trabalho rural tenham sido coloridos por ideias românticos quanto à agricultura em pequena escala, sua prosa nunca é sentimental.

Seu novo livro, "Growing a Feast: The Chronicle of a Farm-to-Table Meal" ("cultivando um banquete: crônica de uma refeição, da fazenda à mesa", em tradução livre), que sai neste mês nos Estados Unidos, conta os dois anos de história que antecedem uma única refeição, um suntuoso jantar para 20 pessoas (um dos muitos que ele dá em sua fazenda), e começa pelo nascimento de um bezerro.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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