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21/04/2014 - 10h00

Cenógrafo de "Saturday Night Live" acumula coleções e cenários em casa

SANDY KEENAN
DO "NEW YORK TIMES", EM PROVIDENCE, RHODE ISLAND

Por anos, o candelabro de cristal que Eugene Lee –salvo nos anos 1980 quando o teatro Helen Hayes original, na Times Square, foi demolido– decorou o estúdio 8H do Rockefeller Center, acrescentando uma dose de elegância ao ar rarefeito que cercava astros do programa "Saturday Night Live", como Eddie Murphy e Dennis Miller.

Mas a opulenta peça terminou substituída, e Eugene, 75, um designer célebre cujos projetos recentes incluem cenários para o "Tonight Show Starring Jimmy Fallon" e para "The Velocity of Autumn", uma peça da Broadway, carregou o candelabro para a casa, de estilo georgiano, onde vive em College Hill.

Agora, a peça enfeita o saguão da casa, iluminando todas as outras coisas que ele e sua esposa Brooke, 65, pintora, vêm recolhendo há anos.

Entrar em sua casa de belas proporções, construída em 1912 para a filha de um governador de Rhode Island, pode causar vertigem temporária.

Há muito a observar: camadas e mais camadas de objetos, grandes e pequenos, úteis ou não, todos aparentemente compartilhando de uma mesma idade e de uma mesma pátina.

Eugene coleciona coisas utilitárias como velhas máquinas de escrever, regadores automáticos de gramado em estilo Art Déco, velhas bengalas e escrivaninhas com tampas de rolagem.

Brooke prefere globos de estanho pós 1900 (ela tem cerca de 200), brinquedos de madeira, porcelana britânica colorida e silhuetas (sua coleção é tão extensa que a loja de molduras lhe oferece desconto por volume).

A imensa tesoura de costureiro que pende da porta que separa a sala de estar da sala de jantar foi uma compra conjunta.

"Sempre fomos ótimos em encontrar coisas esquecidas", diz Eugene. "Não quero fazer comparações artísticas pretensiosas, mas é bem parecido com a pintura. Você escolhe, seleciona: não acrescenta coisas à toa".

Brooke acrescenta: "Gostamos do que é real, mas não somos malucos. Não passo o dia de pijama reordenando a maneira pela qual as coisas estão expostas na casa".

REQUISITADO

De qualquer jeito, eles não têm tempo para isso, especialmente porque Eugene, que foi admitido ao Hall da Fama do Teatro em 2006, continua a ser muito procurado.

Você talvez na reconheça seu nome, seu rosto gentil ou seu desordenado cabelo branco, mas certamente já viu seus trabalhos. Além do estúdio e do palco do "Tonight Show", Eugene desenhou cenários para diversas produções da Broadway e ganhou prêmios Tony por três delas ("Wicked", "Candide" e "Sweeney Todd").

Ele continua a ser o guru oficial do design no programa "Saturday Night Live", um dos poucos membros da equipe que criou o programa em 1975 a continuar na ativa com ele, durante 21 semanas por ano.

E este ano vem sendo especialmente frenético. No momento, ele está criando o visual de um piloto para um programa televisivo de variedades a ser comandado por Maya Rudolph.

Ao mesmo tempo, colabora com o roteirista e ilustrador Chris Van Allsburgh em uma nova versão de "O Quebra-Nozes" e está concebendo o cenário para "Bright Star", um musical com Steve Martin e Edie Brickell.

No total, ele está trabalhando no design de oito produções em todo o país. E, esta semana, "The Velocity of Autumn", sua 25ª produção na Broadway, estreou em pré-temporada no Booth Theater.

"É divertido ter tantos trabalhos em cartaz na cidade", ele diz com modéstia.

Mas quanto mais Eugene se ocupa, menos sua mulher tem tempo para se concentrar em suas aquarelas, que estão espalhadas pela casa. Ela cuida da parte administrativa e de cobrança dos trabalhos de Eugene e encarrega-se até das conversas fiadas, em nome dele.

"Eu mantenho os relacionamentos e mantenho também Eugene organizado", ela diz.

AUTÊNTICO, REALISTA E TOSCO

Embora boa parte do trabalho dele esteja centrado em Manhattan, os Lee nunca pensaram em deixar Providence, onde a carreira de Eugene começou em 1967, como diretor de arte da Trinity Repertory Company, uma companhia de teatro da qual ele continua a ser o designer.

Mas durante as semanas em que "Saturday Night Live" está em produção, Lee toma o trem na manhã da quarta-feira e chega à rede de televisão NBC em tempo para a reunião de roteiro.

Depois, como o resto da equipe cenográfica, trabalha quase sem descanso até a hora do programa. É comum que reuniões aconteçam à meia-noite ou até mais tarde, e Eugene vive de modo espartano, dormindo quando pode no Yale Club, perto do estúdio –ele se formou pela Universidade Yale.

É quase impossível acompanhar seu ritmo enquanto ele percorre o enorme estúdio do programa, desviando-se de obstáculos e evitando esbarrar nos apressados pintores de cenários.

Ele projetou o estúdio quando "Saturday Night Live" estava sendo concebido. O espaço se parece mais com uma casa sobre pilastras do que com um cenário de TV.

Sob sua direção, os cenários continuam a ser construídos ao modo antigo, do zero, usando madeira real, antiguidades reais (para os quadros que se passam na Casa Branca) e, se necessário, animais reais. Autêntico, realista, às vezes tosco: a forma pela qual Eugene prefere todas as coisas.

Al Franken, hoje senador por Minnesota, mas, no passado, membro do elenco do programa por 15 anos, atribui a Eugene o crédito por mudar a cara do humor na TV, que no começo dos anos 70 pendia para o cafona com programas como "The Sonny and Cher Comedy Hour" e "The Carol Burnett Show".

"Eugene deu elegância ao cenário, e seu trabalho nunca atrapalhou o humor", diz.

Lorne Michaels, criador e produtor executivo do programa, concorda. "As comédias estavam todas ficando pretensiosas. Era o chamado estilo 'Infinity'", explica. "Nova York era muito diferente, então. Eugene criava cenários baseado no que via na realidade, o que incluía visuais degradados".

Michaels contratou Eugene depois de ver seu trabalho em "Candide", decisão da qual diz jamais ter se arrependido. "Sempre digo que Eugene é o único gênio verdadeiro com quem trabalhei", afirma.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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