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10/06/2014 - 08h23

Cartunista norte-americana mostra como viver ordenadamente no caos

SARAH LYALL
DO NEW YORK TIMES, em Ridgefield, Connecticut

É quase chocante conhecer Roz Chast em pessoa depois de ler seus quadrinhos. Eles mostram uma mulher parecida com ela, mas cronicamente ansiosa e perceber que ela não tem raios de ansiedade emanando visivelmente da cabeça.

Mas, apesar de não ser um pacote ambulante de neuroses, ao menos aparentes, ela é bem semelhante com que o um leitor poderia imaginar: ponderada e capaz de encontrar humor em qualquer coisa, por menor que seja.

"Essa é minha coleção de latas divertidas", diz ela mostrando uma prateleira ocupada por latas exóticas com conteúdo estranho em sua casa em Connecticut.

Uma das latas, com a marca "The Full Monty", vem do Reino Unido e supostamente equivale a um desjejum completo –salsichas, feijão, tomates, batatas e cebolas, tudo isso misturado em um único recipiente.

"Minha única regra é que as latas têm de ser compradas em supermercado", ela diz sobre a coleção.

A casa de Chast parece bem ordenada, ainda que ao modo caos controlado, e está repleta de floreios inventivos.

As paredes são uma galeria de arte e de desenhos assinados de seus muitos colegas cartunistas na revista "New Yorker".

A mesa da cozinha está coberta de provas de seu mais recente livro infantil. Ainda que Chast, 59, contribua para a "New Yorker" há mais de 30 anos, um móvel em destaque no seu escritório caseiro é um grande arquivo dedicado a desenhos que a revista rejeitou –um chocante total de 90% dos cartuns que ela apresenta.

O maior de seus dons é a capacidade de filtrar a vida normal na centrífuga de seu cérebro, produzindo desenhos que são tanto únicos como universais.

E por isso, a depender de onde o leitor esteja na cronologia do declínio paterno, sua mais nova graphic novel, "Can't We Talk About Something More Pleasant?", pode ser lida como manual ou história cautelar, filme de terror ou documentário.

E é também um trabalho muito, muito engraçado, de uma forma que um livro convencional de memórias sobre a morte de pais envelhecidos provavelmente não seria. A certa altura, ela descreve as discussões absurdas que era forçada a manter com sua mãe, cada dia mais confusa.

"Isso é uma colher", diz Chast. "Não, não é. É uma colher", a mãe responde. O título de Chast para essa página do álbum é "O Apartamento da Alegria".

Todas as histórias sobre filhos adultos e pais moribundos são iguais, mas também diferentes. Chast era filha única, e por isso, quando seus pais se tornaram incapazes de se cuidar, toda a responsabilidade passou para ela.

"Eu queria muito ter sido uma pessoa melhor, e não fui", ela diz, descrevendo sua frustração quando, por exemplo, seu pai cada vez mais senil insistia em que ela chamasse um carro com motorista para levá-lo todos os dias de Connecticut a Brooklyn, para ele se certificar de que ninguém tinha roubado as cadernetas de poupança que mantinha há 45 anos. "Aprendi sobre minhas limitações, que são consideráveis", ela diz.

Ela também se viu forçada a enfrentar assuntos inacabados e assustadores de sua infância solitária, caracterizada, ela diz, pelos gritos e críticas de sua mãe. "Aprendi a baixar a cabeça", ela escreve, "e a guardar para mim meus pensamentos". Chast gosta de fazer anotações mentais, e no quadrinho em que ela se mostra mantendo a cabeça baixa, desenhou um livro intitulado "O Grande Livro do que Realmente Penso".

"É engraçado, sabe", ela principia, e depois faz uma pausa. "A infância não foi o meu período favorito na vida".

O que a salvou foi ela mesma: sua imaginação e criatividade. Proibida de ler quadrinhos e outros materiais supostamente prejudiciais, ela os lia de qualquer jeito, coisas como as revistas "Zap" e "Mad". Mas foi "Highlights", uma revista bem careta de histórias infantis, que a ajudou a se transformar em cartunista.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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