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24/06/2014 - 12h19

Milionários se escondem em barrancos 'discretos' nos EUA e na Europa

ZOE DARE HALL
DO "FINANCIAL TIMES"

Entre o oceano e as montanhas do condado de Santa Barbara, na Califórnia, fica Montecito, uma pequena e bela bolha de riqueza com charme europeu, que serve de lar de astros de Hollywood e abriga alguns dos imóveis mais caros dos Estados Unidos.

Entre seus 9.000 moradores, existe um pequeno grupo que se reúne uma vez por semana, na mesma hora e horário, e é conhecido na cidade como "o breakfast club dos bilionários".

Na porção mais nobre de Montecito, não existe muita coisa à venda por menos de US$ 7 milhões (quase R$ 15 milhões), de acordo com a Cire (Christie's International Real Estate), e as maiores propriedades podem custar até US$ 40 milhões (R$ 89 milhões).

Walter Bibikow/Getty Images
Na cidade de Lugano, na Suíça, são necessários US$ 5 milhões (R$ 11 milhões) para ingressar no grupo dos 'bon vivants
Na cidade de Lugano, na Suíça, são necessários US$ 5 milhões (R$ 11 milhões) para ingressar no grupo dos 'bon vivants'

Um dos imóveis à venda se chama El Fureidis ("Paraíso Tropical") e já foi propriedade do escritor Thomas Mann, cujas festas tinham convidados como Winston Churchill e Albert Einstein. O lugar mais tarde serviu de locação ao filme "Scarface", em 1983. A casa de quatro dormitórios foi reformada recentemente e tem extensos jardins muito bem cuidados, um pomar e uma piscina. O preço da propriedade na lista da Cire é de US$ 35 milhões (R$ 78 milhões).

Mas a demanda por imóveis em Montecito é quase inteiramente nacional, quer vinda de gigantes do setor de entretenimento em Los Angeles ou de texanos de alto patrimônio. "O comprador estrangeiro prefere cidades maiores e mais opções. Ainda não descobriu Montecito", diz Rebecca Riskin, corretora de imóveis da Riskin Associates, uma imobiliária local.

A combinação entre uma comunidade pequena e uma larga proporção de moradores ricos, uma localização bonita, imóveis caros e uma variedade de atividades de lazer sofisticadas, faz de Montecito o mais perfeito exemplo de um mercado "caixinha de joias", segundo a Cire.

"Além dos grandes mercados residenciais como Londres e Nova York e de destinos renomados como Marbella (Espanha) ou a Côte d'Azur (França), há polos de riqueza localizada que muitas vezes passam despercebidos", diz Joachim Wrang-Widén, vice-presidente sênior da Cire.

Em companhia de Montecito na lista de lugares desse tipo, que a imobiliária Savills descreveu como "enclaves de lazer de luxo", temos Jackson Hole, em Wyoming. Essa cidade montanhesa de turismo é atraente por conta das vantagens tributárias que oferece aos moradores (eles estão isentos de quase todos os impostos imobiliários e de renda locais) e do seu estilo de vida bucólico, e atraiu moradores como Paul Allen, co-fundador da Microsoft, e o ator Harrison Ford.

Julie Faupel, da imobiliária Jackson Hole Real Estate Associates, diz que pelo preço de referência da Cire para um imóvel de luxo –US$ 3 milhões (R$ 6,7 milhões)–, um comprador arremataria uma casa de esqui de 340 metros quadrados em Teton Village. Alternativamente, a 30 minutos de carro de distância, fica a Huntsman Springs, numa nova pista de golfe de 540 hectares, criada pelo bilionário empreendedor e filantropo Jon Huntsman. Os preços para as cabanas de esqui mais sofisticadas na região partem de US$ 1,39 milhão (R$ 3,1 milhões).

Como é típico de lugares como esses, onde a construção de imóveis novos é estritamente limitada e as casas costumam ser mais herdadas que vendidas, Jackson Hole sofre de escassez de oferta. "Nenhuma das caixinhas de joias é uma comunidade emergente. Elas são polos de dinheiro já antigos que saem do radar por algum tempo e depois retornam para uma nova geração. Jackson Hole, por exemplo, está avançando a todo vapor no momento", diz Wrang-Widén.

Outro desses enclaves é Sylt, uma longa faixa arenosa de terreno na Alemanha e é conhecida como "os Hamptons da Alemanha". A ilha tem 15 mil moradores, mas esse total é reforçado regularmente pelos ricos proprietários de casas de férias vindos de Hamburgo ou Bremen, e abriga alguns restaurantes estrelados pelo guia Michelin e clubes de golfe.

A despeito de haver poucos imóveis à venda, Sylt tem 70 agentes imobiliários para disputar a venda de suas cobiçadas casas de praia com telhados de palha, cujos preços podem chegar a até 35 mil euros por metro quadrado.

BENEFÍCIOS

Barrancos de alta riqueza como esses invariavelmente ostentam preços altos. Na cidade lacustre de Lugano, na Suíça, você precisa de US$ 5 milhões (R$ 11 milhões) para ingressar na fileira dos "bon vivants". O apelo de Lugano, diz Wrang-Widén, está na "eficiência suíça combinada ao estilo italiano". A Knight Frank está vendendo uma propriedade em Morcote, perto de Lugano, uma casa de seis quartos à beira do lago, equipada de piscina e abrigo para barcos, por 10,85 milhões de francos suíços (US$ 12 milhões ou R$ 29 milhões).

Os benefícios de fazer parte de uma comunidade como essa são a baixa criminalidade, a ausência de paparazzi, lixo nas ruas ou embriaguez pública. Esse tipo de "ambiente manicurado", como o define Wrang-Widén, é exemplificado pela cidade de turismo belga de Knokke-le-Zoute, onde os moradores se deslocam de carrinho de golfe por uma rua principal ladeada de lojas da Prada e Chanel.

Os mercados imobiliários como Lugano oferecem vantagens tributárias, "mas a ideia não é apenas a de economizar nos impostos, e sim ter acesso direto aos melhores advogados, consultores financeiros e bancos privados", diz Wrang-Widén.

Os contatos sociais também têm parte importante nos atrativos desses enclaves ricos. Yoland Barnes, diretora mundial de pesquisa da Savills, diz que poder se cercar de pessoas com ideias parecidas é um grande ponto de venda para os indivíduos de alto patrimônio (ou seja, com mais de US$ 30 milhões em ativos).

"Esses retiros são difíceis de identificar porque cada um deles é diferente, e tendem a ficar em lugares que têm algum significado para os compradores, bem como a oferecer residências únicas", diz Barnes. Alguns outros exemplos são a ilha de Waiheke, na Nova Zelândia, e a aldeia costeira brasileira de Trancoso. Uma localização à beira-mar ou à margem de um rio é comum, e o mesmo vale para uma rica herança histórica ou cultural.

O exemplo clássico dessas caixinhas de joias é Veneza, por conta do raro apelo de ter uma casa acessível apenas via gôndola. Dubrovnik também oferece valor de raridad. "E quando Castro se for, Havana será outro desses playgrounds dos ricos", diz Barnes.

A despeito de seu prestígio e de baixa oferta, esses mercados não se provaram imunes à desaceleração da economia mundial. Sylt é uma exceção, com os moradores locais se queixando de que a alta de preços deflagrada pelos compradores ricos de imóveis de férias os está forçando a abandonar a ilha, mas enclaves semelhantes tipicamente viram queda de preços de entre 20% e 40% depois de 2008.

La Jolla, na Califórnia, é outro dos enclaves a constar da lista, "mas é um mercado irregular, com participação pesada de compradores locais", de acordo com Andrew Nelson, da Willis Allen Real Estate. Uma casa nova e em estilo minimalista, com 580 metros quadrados e quatros quartos, no Camino de La Costa, a avenida à beira-mar da cidade, está em oferta por US$ 15,5 milhões, na lista da Willis Allen Real Estate.

Outro desses polos, Sarasota, na Flórida (EUA), viu recuperação de preços para perto do nível pré-recessão, com alta de 15% nos preços dos imóveis de US$ 1 milhão ou mais, nos últimos 12 meses, de acordo com Michael Saunders, da Michael Saunders and Company.

Al Horrigan, da RSVP Associates, atribuem a recuperação da Sarasota a compradores norte-americanos que estão retornando à Flórida e adquirindo imóveis à vista.

"Os compradores europeus e britânicos estão demorando mais a retornar", ele diz. Entre os projetos que atraem interesse está o VUE Sarasota Bay, que ocupa um belo terreno à beira-mar e oferece apartamentos de dois quartos com preços a partir de US$ 800 mil (R$ 1,8 milhão), na lista da Michael Saunders.

A mesma imobiliária oferece um apartamento de dois quartos no Ritz-Carlton Residences por US$ 1,2 milhão. E na ilha de Longboat Key, ao largo de Sarasota, uma casa de praia com três quartos está à venda pela RVSP Associates por US$ 979 mil.

Talvez o mais atraente nesses lugares é que eles são sofisticados, mas discretos. Em lugar de vangloriarem de seus ativos, eles se orgulham muito mais daquilo que não oferecem. O que nos conduz de volta a Montecito. "Não é uma metrópole fervilhante, não fica perto de um aeroporto internacional. Não temos vida noturna e nem opções de compras", diz Riskin. Ainda assim, não faltam norte-americanos dispostos a pagar US$ 10 milhões (R$ 22 milhões) alegremente por uma casa lá.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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