Designer de móveis que 'decorou' Brasília é tema de livro; veja peças
DE SÃO PAULO
Você conhece Jorge Zalszupin? Não? E Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi? É provável.
Foi para resgatar e documentar a contribuição de Zalszupin para o design do móvel brasileiro que Maria Cecilia Loschiavo, pesquisadora e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, lançou o livro "Jorge Zalszupin - Design Moderno no Brasil".
"Há uma lacuna na documentação da produção de grandes designers de móveis no Brasil, muitos ainda não receberam o devido reconhecimento", conta Loschiavo. "Como diz o verso de Aldir Blanc, 'o Brasil não conhece o Brasil', mas aos poucos estamos tentando fazer com que ele se conheça melhor".
Nesse sentido, a Etel Interiores começou a editar, em 2006, peças de Zalszupin. "Já reeditamos mais de 30 peças, só este ano programamos o lançamento de mais cinco e terão mais dez no ano que vem", diz Lissa Carmona, diretora da Etel e também organizadora do livro.
Zalszupin trabalhou em diversas áreas, como design e arquitetura, e participou com grande vitalidade –junto com nomes de peso como Joaquim Tenreiro, Sérgio Rodrigues, Geraldo de Barros, além de Niemeyer e Bardi– dos esforços para projetar e produzir móveis no Brasil.
O período coberto pela obra de Jorge Zalszupin se inicia nos anos 1950, época de glória da arquitetura brasileira, e desenvolve-se ao longo das décadas de 1960 a 1980, um período menos estudado e difícil, tanto do ponto de vista político quanto do econômico.
O livro é composto por citações de Zalszupin colhidas por Loschiavo em 1980, como parte de sua pesquisa de mestrado, e de informações da autobiografia do designer.
TRAJETÓRIA
Jorge Zalszupin deixou a Varsóvia e os resquícios da 2ª Guerra Mundial para trás. "O livro traz essa história de vitória pessoal, de uma pessoa que viveu um massacre e a diáspora", diz Loschiavo.
Em 1950, desembarcou no Rio. Trazia com ele a rápida experiência francesa frente a um escritório de arquitetura e as habilidades adquiridas na Escola de Belas Artes e na Escola de Arquitetura, ambas da Universidade de Bucareste, na Romênia.
"Ele chega nesse momento dos anos dourados na cultura brasileira, com o design e a TV muito presentes, e de uma industrialização nacional em formação", explica a professora.
No Brasil, Zalszupin fica fascinado pelas madeiras nobres. "É importante lembrar que, naquela época, sustentabilidade não era um mantra", ressalta Loschiavo.
Logo ele integra o seleto time de designers de mobiliário que colaboraram com Niemeyer na concepção e produção de móveis para Brasília, a nova capital que se erguia.
Já nessa época, Zalszupin começa a desenvolver a ideia de produção de móveis em série e cria o "L'Atelier".
"Eu desenhava móveis de madeira, sala de jantar, cama de casal, móveis com um certo requinte. Os clientes procuravam móveis convencionais, com proporções, com suportes em latão, enfim, coisas simples e bem limpas, usando material caro, couro, usando compensado revestido, encabeçado", declarou Zalszupin a Loschiavo.
PLÁSTICO
O designer trabalhou com materiais tradicionalmente utilizados para a produção de móveis: madeira, metal e suas diversas combinações.
Mas no século 20 os termos da produção se alteraram e entraram em cena os materiais plásticos. Zalszupin foi pioneiro no uso de plástico para a produção de móveis e utensílios. Nos anos 1970, sua linha de utensílios de plástico –com itens como espremedor e balde de gelo– era um sucesso.
"Ele era fascinado pelo jacarandá e de repente estava envolvido com a produção de objetos de plástico. Ou seja, é um cara com extremo poder de adaptação e que teve a capacidade de falar a língua do seu tempo", conclui Loschiavo.
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