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22/07/2014 - 07h30

Casa de praia nos EUA foi feita para resistir a furacões e passa no teste

JULIE SCELFO
DO "NEW YORK TIMES", EM NOVA YORK

A história de como Richard Meier, um dos arquitetos mais celebrados do planeta, veio a projetar uma pequena casa de um dormitório em uma ilha de barreira destinada à extinção começou quase meio século atrás.

Foi em 1969, Phil, 73, e Lucy Suarez tinham acabado de se casar. Phil tinha 27 ano, e mais tarde se tornaria sócio do aclamado chef Jean-Georges Vongerichten. Na época, ele havia acabado de fundar uma empresa que encontrou o sucesso produzindo comerciais e videoclipes de música.

Phil e Lucy, que tinha 24 anos, compraram seu primeiro apartamento em Gramercy Park e planejavam reformá-lo. Quando Suarez pediu que um colega recomendasse um arquiteto, o nome que recebeu foi o de Richard Meier, um astro em ascensão na arquitetura que já ganhava fama por suas construções sóbrias, todas em branco.

Lucy jamais havia ouvido falar dele. "Por isso Lucy ligou para ele e disse que queria ver seu portfólio", relembra Phil. "E Richard respondeu: 'Ahn?'"

Depois de ver a foto de uma das casas projetadas por Meier, ela ficou deslumbrada. "Vi aquela casa e pensei. 'Meu Deus, se ele pode fazer isso, certamente pode reformar nosso apartamento'".

No decorrer da reforma, os três se tornaram muito amigos, um laço que persistiu mesmo depois que Lucy redecorou o interior todo branco que Meier criara meticulosamente para o casal, introduzindo um dilúvio de cores e texturas.

"Quero que você fique preparado porque vai encontrar algumas mudanças", ela lembra de ter dito ao arquiteto durante uma conversa telefônica estratégica antes do encontro anual dos amigos no Natal. "Ele respondeu que eu podia fazer o que quisesse com a minha casa. E logo depois voltou a ligar perguntando o que exatamente que eu tinha feito".

Foi mais ou menos nessa época que George Lois, uma lenda da publicidade que havia sido o primeiro empregador de Phil, convidou o casal para visitá-lo em Fair Harbor, uma cidadezinha em Fire Island, com bangalôs de madeira e uma reputação que combinava boêmios e "bon vivants".

Lucy, famosa por ser sempre a última pessoa a sair de uma festa, apaixonou-se instantaneamente pelos coquetéis que atraíam todos os vizinhos e pelos jantares informais com convivas descalços.

O casal comprou um bangalô de verão em Fair Harbor em 1971 e, anos mais tarde, ele foi trocado por uma casa da metade, mais cara (eles pagaram R$ 80 mil por ela) e localizada em uma rua mais tranquila.

Como a maioria das casas da área, a estrutura era de madeira, sem ar condicionado ou isolamento térmico, mas oferecia vista para a baía e um deque com espaço suficiente para uma churrasqueira e uma legião de visitantes.

Por quase quatro décadas, os Suarez receberam uma corrente infinita de amigos na casa. E com o tempo, compraram duas casas adjacentes, à beira-mar, para acomodar hóspedes, criando um pequeno complexo residencial. "Havia muito amor naquelas paredes", diz Phil.

E isso tornou muito doloroso o incêndio causado por uma falha elétrica que destruiu completamente a casa em 2011.

"Foram embora 40 anos de fotos e todas as lembranças e presentes que tínhamos lá", disse Lucy. "Tudo tinha algo a ver com a praia, com nossos amigos".

RECOMEÇO

Eles ainda estavam sofrendo, semanas mais tarde, quando chegou a hora de um de seus jantares regulares com Meier e ele se ofereceu para ajudá-los na reconstrução.

Que um arquiteto que, naquela altura, já tinha recebido o prêmio Pritzker –o equivalente do Nobel na arquitetura– e era conhecido por projetos ambiciosos como o Getty Center, em Los Angeles, tivesse interesse por uma obra tão pequena e possivelmente efêmera foi algo que os surpreendeu.

Mas Meier adorou a ideia. Depois de quase 50 anos de trabalho como arquiteto, era como fechar um círculo. A primeira casa que ele projetou e construiu ficava em Fire Island, um projeto de 1961 para o artista e ilustrador Saul Lambert e sua mulher

"Eles tinham US$ 9 mil como orçamento", Meier recorda, "e como eu tinha muito pouco para fazer naquela época, aceitei."

Logo eles estavam realizando reuniões regulares no escritório de Meier. Lucy contou que queria algo com o charme da velha casa de madeira, mas bem cedo no processo o casal se viu forçado a encarar uma realidade desagradável.

Por conta de novos códigos de construção concebidos para minimizar os danos causados por tempestades, a nova casa teria de ser construída sobre estacas.

Como diz Amalia Rusconi-Clerici, uma das arquitetas envolvidas no projeto, "eles estavam acostumados a ter uma casa bem no chão; agora há uma entrada grandiosa e a necessidade de subir. Era um novo conceito que todos tínhamos de aceitar".

DESAFIOS

Quando eles assimilaram isso, o casal se tornou mais receptivo a uma ideia de Meier bem distinta do original. Mas construir a estrutura de aço e vidro, com orçamento de US$ 2,25 milhões, que o arquiteto tinha em mente gerou uma série de desafios em Fire Island.

Para começar, era preciso escavar fundações três metros abaixo do nível do mar para fincar as estacas. Depois, foi necessário montar um arcabouço de aço em cima delas para sustentar 25 toneladas de vidro.

Sam Wood, o empreiteiro do projeto, trabalhava há 30 anos em Fire Island e nunca tinha feito nada parecido. "Era como construir um mini arranha-céu", diz. "Tivemos de chamar pessoal especializado em aço para a obra por dois meses", ele acrescentou.

Além disso, algumas das vigas de aço pesavam mais de duas toneladas, e por isso ele precisou alugar uma barcaça com guindaste para posicioná-las no local, da água. Quando a primeira carga chegou, ele descobriu que a baía era rasa demais para que a barcaça pudesse se posicionar à distância requerida do terreno.

"Tivemos que carregar as vigas uma por uma da doca até a casa, usando carrinhos", conta.

FURACÃO

Ainda assim, todo esse esforço provou seu valor. Antes que a casa estivesse pronta, passou pelo seu primeiro teste, com o furacão Sandy, em 2012. E embora muitas das casas da ilha tenham sido destruídas, o mini arranha-céu sobreviveu intacto.

Como diz Phil, "se a casa cair, é porque a ilha terá desaparecido".

É fato que ela parece estranha no local, uma estrutura de aço e vidro que se destaca muito entre as casas de praia convencionais. Mas talvez por conta de seu tamanho modesto –só 180 metros quadrados–, ou da atitude receptiva da comunidade, não houve muitas reações adversas ou fofocas dos vizinhos.

O chef Vongerichten, convidado frequente da casa, oferece outra explicação. "Muita gente que faz sucesso causa inveja aos outros", ele diz. "Mas no caso de Phil e Lucy, todo mundo quer ser amigo deles".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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