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01/08/2014 - 01h30

Casal transforma residência condenada em casa psicodélica nos EUA

STEVE KURUTZ
DO "NEW YORK TIMES", EM COTTEKILL, NOVA YORK

Cinco anos atrás, em uma longa viagem de trem de Ulan Bator, NA Mongólia, a Pequim, na China, Kat O'Sullivan, 38, e Mason Brown apanharam um caderno e fizeram uma lista de tudo que a casa de seus sonhos deveria ter.

Em uma tarde recente em Cottekill, nos Estados Unidos, O'Sullivan, artista que produz coloridos suéteres com retalhos de outros suéteres comprados em lojas de roupas usadas –e os vende via Etsy– e Brown, que trabalha como editor em tempo parcial e é músico em uma banda, encontraram a lista e a leram para um repórter curioso.

"Luz negra para a sala: conseguimos", diz O'Sullivan. "Mapa do chão ao teto: está aqui".

Brown acrescenta: "Videiras crescendo dentro da casa: uma vez mais, temos".

O'Sullivan prossegue: "Tartaruga de estimação no jardim: sim. Vitrola: sim. Barraca de circo: ei, temos até duas delas".

A lista de desejos, que ocupa diversas páginas do caderno e inclui os mais absurdos itens, incluía também uma cópia do Oxford English Dictionary em um pedestal, um buraco de minigolfe, um poste giratório de barbearia, um tapete flokati, diversas balanças –entre as quais uma de varanda, uma estilo Tarzan e uma modelo "Mod bubble"–, pilhas de mobília com pés de madeira entalhada imitando patas de animais, espelhos de moldura dourada, uma grande mesa de banquete, um aquário e uma passagem secreta.

O'Sullivan deteve-se em uma das anotações, e seu rosto redondo e ensolarado, emoldurado por uma confusão de dreadlocks loiros desordenados, fechou-se em súbita careta. "Uma lavadora e secadora, algo tão humilde", ela disse, com um suspiro. "Isso nós ainda não temos".

Que tipo de casa tem duas barracas de circo e videiras crescendo nas paredes, mas não tem lavadora de roupas?

Estamos falando de Calico, a casa que O'Sullivan e Brown compraram por pouco mais de US$ 200 mil (R$ 453 mil) na região dos montes Catskills e passaram os últimos cinco anos transformando em refúgio boêmio contra o que ela chama de "trauma" de viver em um apartamento arruinado em Brooklyn, ou uma série deles, enquanto os dois tentavam ganhar a vida como artistas em Nova York.

A sala reflete o uso criativo de cores e materiais. O balcão da cozinha não tem cobertura de azulejos ou granito, mas de moedas de um centavo. Gavetas modulares dos anos 1970, para guardar material de costura, foram pintadas de amarelo brilhante. Um santuário foi construído para exibir uma torradeira de US$ 200 (R$ 453) –o único luxo "yuppie" que a casa oferece, segundo O'Sullivan.

Também há uma sala no andar de baixo com um curioso teto curvo, um salão de baile em miniatura, onde o casal dá festas iluminadas com lasers em uma atmosfera repleta de fumaça artificial, uma clareira no bosque, que já abrigou dois casamentos de amigos, e um segundo terreno que eles adquiriram, ali perto, com um lago para nadar.

"É divertido sermos o acampamento ou o "bed and breakfast" [cama e desjejum] para todos os nossos amigos pobres", diz O'Sullivan.

"CANDYLAND REVISITADO"

A casa fica em um terreno arborizado de 6,4 hectares, à beira de uma estrada rural de duas vias. Mas quem passar de carro não deixará de percebê-la. O exterior é pintado de todas as cores de um arco-íris psicodélico, em listras horizontais e verticais. Uma publicação local definiu o estilo do casal como "Candyland revisitado".

"Gastamos US$ 1.000 (R$ 2.267) em tinta para pintar a casa", disse O'Sullivan. "Quando eu saí da loja de tintas, eles formaram um corredor de honra e me aplaudiram".

Ela recorda o dia em que eles terminaram a pintura e caminharam até a estrada para contemplar sua obra. Uma caminhonete estava passando e viu o casal olhando para Calico. O motorista freou.

"Ele disse que a casa era bem psicodélica e que estava feliz por não morar naquela rua", conta O'Sullivan. "Tentando compartilhar conosco o seu momento de nojinho. Pensei comigo mesma que eu também estava feliz por ele não viver naquela rua".

Com o terreno vasto, um lago enlameado repleto de tartarugas e a localização conveniente –perto de uma parada de ônibus para que os amigos da cidade possam visitá-los–, a casa cumpriu diversos dos requisitos que o casal tinha em sua lista. "O que bastou para que desconsiderássemos o fato de que estava praticamente condenada", diz O'Sullivan.

"Era uma casa velha e podre", ela conta. "Qualquer outra pessoa a teria demolido. Mas nós logo pensamos que se a pintássemos, ficaria tão bonitinha".

ÔNIBUS

O'Sullivan, que cresceu em Long Island, comprou um velho ônibus escolar, na adolescência, pintou-o ao estilo dos Merry Pranksters e usou o veículo como alojamento quando estudava na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz.

Mais tarde, quando não estava viajando pelo mundo, o que ela fazia por nove meses a cada ano, vivia em outro ônibus escolar no East Village, de onde vendia seus suéteres. Os dois ônibus estão estacionados no pátio da casa.

Mas não foi seu espírito cigano ou atitude intrépida que levaram O'Sullivan e Brown a empreender a reforma completa de Calico, ela diz. "É que somos muito estúpidos. O pessoal daqui nos chama de 'idioturbanos'".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

 

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